O Cara da Selva
- O costume da tribo Waibirir citado nesse cap é verdadeiro. Não inventei. Boa leitura!
*
Narração Bella:
Meu último dia trabalhando na locadora de DVD Focaliza tinha acabado. Atrasada, corri pelas ruas de meu bairro, tentando chegar a tempo em casa. Em poucos minutos, tinha que estar em uma reunião que marquei com meu irmão e nossos amigos.
Ao atravessar um cruzamento, quase fui atropelada por um carro que freou em cima da faixa de pedestre. Bati no capô, revoltada, mas não tinha tempo para reclamar dos maus modos do motorista e segui em frente. Até dava para entendê-lo. Afinal, Orlando é uma selva agitada, aqui ninguém tem tempo pra nada, está todo mundo sempre atrasado.
Senti meu celular vibrar no bolso, até podia adivinhar quem era: Alice Brandon, minha melhor amiga. Ela devia estar irada com meu atraso, mas eu não tinha culpa, meu ex-chefe me infernizou a vida até o último segundo.
Cheguei à minha rua e forcei meus pés a correrem mais rápido. Ofegante, alcancei o portão da mansão Swan. Eu tinha orgulho de minha casa e, mesmo não sendo nem um pouquinho rica, durante minha infância fingi que era. O imóvel era o único patrimônio que tínhamos, uma herança transmitida por gerações. Sempre rejeitamos a idéia de vender aquele lugar. Para nós era bem mais que um lar. Era dureza manter, mas valia a pena.
Atravessei o grande jardim o mais rápido que pude e rompi porta adentro. Na sala, meu pai falou alto:
- Bella, que bom que chegou. - Percebi que estava acompanhado por dois homens. Nem me dei o trabalho de olhar seus rostos.
- Agora não, pai. Estou atrasada. - Subi as escadas, elétrica.
Fui para o meu quarto, um dos últimos do largo corredor que dava acesso a mais cinco suítes. Na verdade, nós tínhamos, ao todo, dez. É que algumas delas ficavam no andar inferior.
Meu celular vibrou outra vez. O ignorei e corri para o banheiro, tomei um dos banhos mais rápidos da minha vida e me meti dentro de um jeans e de uma regata branca. Calcei meus tênis e disparei pelo corredor. Ao chegar às escadas, novamente meu pai esbraveja:
- Bella, não seja mal educada. Venha aqui agora!
- O que foi? - Chateada, me arrastei para junto dele.
- Não vai cumprimentar o Dr. Cullen? Não se lembra dele?
Sorri sem vontade. Lembrava-me pouco daquele homem loiro de feições joviais. Ele tinha se hospedado em nossa casa há uns 5 anos atrás. Uma das únicas coisas de que me recordava é que, assim como meu pai, ele era um cientista, um geólogo.
- Olá, Dr. Cullen. - Acenei.
- Oi, Bella. - Ele sorriu.
- É um prazer falar com você, mas estou realmente atrasada. - Preparei-me para sair.
- Espere, deixe-me lhe apresentar o filho do Carlisle. - Olhei para meu pai quase implorando para que me liberasse.
- E onde ele está? - Questionei, percebendo que não havia mais ninguém na sala.
- Ele foi ao banheiro. - Respondeu o Dr.
Olhei para o relógio de pulso e vi que já passavam das 20:00h. Jazz, Alice e Emmett iam me matar pelo atraso.
- Aí vem ele. - Meu pai apontou.
Olhei para trás e involuntariamente arregalei os olhos. O sujeito barbudo de cabelo grande e extremamente bagunçado vestia uma camiseta bem surrada, bermuda e chinelo de dedo.
- Bella, esse é Edward. - O Dr. nos apresentou. O sujeito veio em minha direção com a mão boba estendida, como se fosse pegar nas minhas partes baixas.
- Êpa! - Dei um passo atrás, chocada. - Não te dei intimidade para isso! - Vociferei. Meu pai e seu amigo apenas gargalharam. Já o tarado, ficou totalmente imóvel.
- Minha filha, não interprete mal a atitude de Edward. Ele só está tentando te cumprimentar.
- Desse jeito? Não foi bacana. - Emburrei.
- Os homens da tribo Waibirir, costumam cumprimentar os outros tocando seus pênis. Para eles, é a mesma coisa que apertar as mãos. - O Dr. Cullen riu. - Como meu filho não tem muito contato com garotas, acho que ele pensou que poderia te cumprimentar assim. Acredite, ele não quis te ofender. Edward vive comigo desde os 8 anos nas Ilhas de Salomão, especificamente na Ilha de Malaita. Encontra-se no Pacífico Sul, ao noroeste da Austrália e ao leste da Nova Guiné Papua.
-Ah... - Enruguei a testa fingindo compreender, só que achei aquilo muito gay e depravado.
- Como deve lembrar, sou geólogo e dedico minha vida a estudar a atividade vulcânica da ilha. Lá não temos contato com a civilização, nossos únicos vizinhos são os aborígines de uma tribo nativa e um pequeno grupo de biólogos. - Dr. Cullen tratava o assunto com muita naturalidade. Logo questionei sua sanidade. Afinal, que tipo de gente mora na selva?
- Ele não espera que eu toque no pênis dele, né?- Fiz careta. Outra vez, os cientistas riram.
- Não, Bella. Acho que depois de sua reação ele ficou meio intimidado. - Explicou Charlie.
- Estão tentando me dizer que o... Como é mesmo o nome? Edward, certo? Foi criado na selva? - Era difícil acreditar.
- Sim. Eu o eduquei da melhor forma possível, levando em consideração as circunstâncias, mas meu filho acabou absorvendo mais da cultura da ilha do que da nossa. E ele tem uma personalidade um tanto... peculiar. - Peculiar? Ele era bizarro! Encarei o sujeito e ele continuava paradão, totalmente desligado.
- Certo. Bom pra ele. Desculpem, mas eu preciso ir agora. - Tentei me mandar, mas meu pai me impediu, segurando-me pelo braço.
- Tem mais uma coisa, Bel. - Ele ficou bem sério e notei que vinha chumbo grosso pro meu lado. - Vou partir amanhã às 8:00h.
- Sim, eu sei. - Por meses, Charlie se preparou para passar quatro semanas palestrando pelo país. - Qual o problema?
- Carlisle será meu parceiro. A maior parte das pesquisas é dele.
- E...? - Não queria detalhes, só queria me mandar.
- O filho dele ficará aqui.
Meu queixo desabou, só consegui pensar: FERROU COM TUDO! Vontade de xingar o mundo foi que não faltou.
- Licencinha... - Puxei meu pai para longe da sala. Aos sussurros, desabafei. - Você ficou doido? Não pode deixar aquele cara esquisito aqui. Pai, por favor, não faça isso comigo. Aqui não é lugar para um sujeito que gosta de pegar nas “intimidades” das pessoas.
- Fica calma, Bel, seu irmão cuidará de você.
-Rá. Rá. O Jazz? - Joguei as mãos para o alto, indignada. Meu mano e nosso amigo Emmett eram os homens mais covardes do mundo.
- Não faz idéia de o quanto foi difícil para Carlisle tirar Edward da ilha. Por favor, trate-o bem. Serão apenas quatro semanas.
- Não, não, não. - Passei as mãos pelos cabelos, desesperada. Todos os meus planos para as férias estavam em risco. - Jasper não vai gostar nadinha disso.
- Vocês não têm que gostar, apenas sejam gentis com o Edward. Logo estarão na faculdade e nem se lembrarão disso tudo.
Contorci-me em um misto de preocupação e ira.
- Eu estou atrasada, pai. Depois falamos sobre isso. - Beijei-lhe a bochecha e saí correndo.
Meia hora depois...
- A gente se fodeu legal. - Resmungou Emmett, batendo a mão em nossa mesa no Hard Rock Café, o local que usávamos como “escritório” há três semanas.
Eu havia acabado de fazer uma descrição detalhada sobre o contato de primeiro grau que tive com o Tarzan.
- E agora? E o resort? - Questionou Alice. - Já fechamos os pacotes. Não vai dar pra devolver o dinheiro de todo mundo.
- Se seguirmos com nossos planos será que o cara lá vai nos dedurar pro Charlie? - Emmett ficou na dúvida. - De repente, podíamos dar um sumiço nele. O que acham?
- Não sei. Precisam ver ele, todo barbudo e mal vestido. Fica paradão olhando pro vazio. - Expliquei.
- Jasper acha que devemos checar primeiro. Jasper acredita que na paz tudo se resolve. - O idiota do meu irmão tinha a mania desgraçada de referir-se a si mesmo na terceira pessoa. Aquilo acabava com meu juízo, mas não tanto quanto sua nova “onda”. Fazia um mês que o retardado se auto-intitulou hippie.
- Tudo bem, pessoal, não vamos nos desesperar por causa de um cara da selva. Trabalhamos duro para planejar cada detalhe do Dreams Resort e usamos todas as nossas economias. O que temos que fazer é manter o Edward longe dos hóspedes. Concordam? - Perguntei.
- Sim. - Responderam simultaneamente.
- Amanhã vamos à sua casa ver se a barra está limpa. Precisamos começar os preparativos. - Emm ficou empolgado.
No dia seguinte, meu pai, nervoso, não parou de tagarelar instruções enquanto colocava sua bagagem dentro do táxi. Mal nos deixou falar e por isso não conseguimos muitas informações sobre o hóspede indesejado. Seu amigo também não ajudou em nada, só apareceu quando o táxi estava pronto para partir. Por fim, desisti dos dois e dei um forte abraço em Charlie. Sentiria saudades dele. Assim que os cientistas foram embora, Alice, Jazz, Emmett e eu corremos para dentro da casa, onde Edward continuava sentado na sala, totalmente absorto. Ele olhava fixamente para a janela aberta e nós, atrás dele, mantivemos uma distância de três metros, só por precaução.
- E agora? - Emmett mordeu uma maçã.
- De onde ele é mesmo? - Indagou Alice.
- Algum lugar nas Ilhas Salomão. - Não lembrava direito.
- Não é lá que existe uma tribo canibal? - Perguntou meu irmão.
Trocamos olhares tensos. Em seguida, encaramos Edward. Subitamente, ele levantou-se, puxando uma faca média do bolso da bermuda.
- AAAAAAAAAAHHHHHHHHHHH! - Gritamos quando ele veio em nossa direção. Nos encolhemos em um abraço coletivo. Emmett e Jasper foram os primeiros a choramingar.
Para a nossa surpresa, Edward arrancou a maçã da mão de Emmett e saiu cortando-a em pedaços para comer.
- Acho que me borrei. - O covarde murmurou.
Recuperamos o fôlego ao ver que o cara da selva voltou para o sofá.
- Jasper não gostou dele. - Meu mano ainda tremia. - Alguém tem que ir falar com ele. - Olharam para mim.
- Por que eu? - Esbravejei.
- Vai logo, Bella, faça amizade. Deixe ele pegar na sua “perseguida”. - Alice só podia estar de sacanagem comigo.
Chateada, me aproximei lentamente do esquisitão e meus amigos ficaram atrás de mim, usando-me como escudo. Fiquei frente à frente com Edward. Trêmula, comecei a balbuciar:
- Venho em paz. - Fiz o sinal de paz e amor. O sujeito fitou-me sem expressão, parecia que nem me entendia. - E aí, tudo bem?
Ele não moveu um só músculo facial.
- Se apresenta. - Alice me cutucou.
- Mim - falei bem devagar, pondo a mão no peito. - Bella. Você - receosa, coloquei a mão no peito dele. - Edward. - Decidi repetir. - Mim, Bella. Você, Edward. - Ele sorriu. -Gente, acho que o cara entendeu. - Comemorei. - Ele sorriu!
- Tem certeza que não está é rindo de você? - Minha amiga ficou na dúvida.
- Claro que não. Ele ficou contente por estarmos mantendo contato... - Ergui uma sobrancelha. - Eu acho.
- Deixa eu tentar uma coisa. - Emm tomou a frente. Tirou do bolso um spray para mal-hálito e disse vagarosamente. - Amigo da cidade tem presente mágico para Ed da selva. - Ele borrifou o líquido de menta na própria boca. - Viu só? Deixa a boca cheirosa. As mulheres gostam. Toma. - Obrigou o sujeito a segurar o frasco. - Experimenta. - O cara continuou parado. - Eu te ensino a usar. - Colocou o dedo de Edward em cima do spray. - Aperta, amigo, aperta! - O cara apertou, borrifando o spray na cara de Emmett.
- AI, MEUS OLHOS! - Cambaleou pela sala. - MEUS OLHOS!
- Mais alguma idéia genial, pessoal? - Resmungou Jazz.
- Por que ele não fala? Não sabe nossa língua? - Alice ficou com pena do cara.
- Eu sei lá. - Revirei os olhos. - Parece que nem nos ouve.
- Talvez seja surdo e mudo. - Especulou Jazz. Eu ainda não tinha pensado naquela possibilidade.
- Será? - Me aproximei de Edward, bati palma junto ao seu ouvido e ele não reagiu. - Parece que há algo de errado com a audição dele. - Fiquei intrigada.
- Reunião agora! - Berrou Emmett.
Nos afastamos alguns metros da aberração e começamos a discutir sobre o que deveria ser feito.
- Os hóspedes chegam depois de amanhã. Como vamos explicar essa estátua barbuda sentada no sofá? - Questionou meu irmão.
- Pessoal, será que não estamos exagerando? Ele só não nos entende. - Alice era uma defensora natural.
- Talvez devêssemos nos familiarizar com ele. Arranjar um jeito de nos comunicar e pedir a ele que não assuste os hóspedes. Podíamos até pedir para não ficar perambulando por aí.
- Concordo. Um de nós tem que ir lá e conquistar a confiança do cara. - Olhei para os rapazes. - O cumprimentem do jeito que ele está acostumado. Apertem o pênis dele.
- Lembrei que tenho consulta no médio. - Emmett tentou fugir.
- Não vai a lugar algum. - Me coloquei na frente dele. - Jazz, é sua vez. Vai lá falar com o Edward.
- Jasper não quer pegar no pênis de ninguém. - Deu um passo atrás.
- Vai logo! - Ordenei alto.
Meu irmão respirou fundo e caminhou vagarosamente até Edward, dizendo:
- Olá... Jasper é camarada... Jasper quer ser amigo. - Fazendo careta, enfiou a mão entre as pernas do sujeito, o qual retribuiu o cumprimento. - Jasper não gostou disso. - Choramingou.
- Já pensou se isso vira moda? - Alice riu.
Jazz retornou correndo e limpou a mão na camiseta de Emm.
- Jasper traumatizou. - O idiota estava pálido.
- Ao menos ele retribuiu. - Sorri. - Não podemos ficar aqui o dia todo, precisamos dar uma geral na casa.
- Não podemos nos separar, o cara da selva pode nos pegar desprevenidos. - Emmett ficou preocupado. - Não quero virar almoço de ninguém. Vamos amarrá-lo.
- Você fala como se ele fosse deixar. - Argumentei. - Vai demorar mais tempo, mas vamos ficar juntos. Organizaremos os quartos lá de cima primeiro, depois os de baixo.
- E colocar a placa. - Alice nos lembrou.
- Jazz, quando a cozinheira que contratou vai chegar?
- A qualquer momento. - A campainha tocou assim que ele terminou de falar.
Fomos recepcionar nossa nova colega de trabalho. Ela era uma senhora morena com cerca de 40 anos.
- Pessoal, essa é a Sra. Bogdanov - Meu irmão nos apresentou.
- Muito prazer. - Estendi a mão.
- Kuidas läheb. - Respondeu.
- O quê? - Fiquei confusa.
- Ela é da Estônia. Não fala quase nada da nossa língua. - Jazz se afastou de mim.
- Você ficou louco? Já não temos problemas de comunicação suficientes por aqui? - Esbravejei, apontando para Edward. - Que droga! - Quase perdi a cabeça.
- Não reclame. Isso é tudo que nosso dinheiro pode pagar. Não se preocupem, fiz um curso rápido pela internet e tenho um dicionário. - Defendeu-se.
- Vou ter um AVC. - Alice apoiou-se em mim.
Com a ajuda da dona Bogdanov, organizamos a mansão da melhor forma possível. Mudamos alguns móveis de lugar para ter mais espaço. Em um dos quartos, substituímos uma cama de casal por duas de solteiro. Estocamos roupas de cama, limpamos o jardim e a piscina e a decoração ficou por conta de Alice, que insistiu em deixar o ambiente mais florido e arejado. Antes de meu pai viajar, tinha colocado a quase inexistente bagagem de Edward em seu quarto, o que facilitou nossa vida. Com tanta limpeza e arrumação, o dia passou rápido.
As 19:00h tomei um banho demorado e depois pedi uma pizza para o jantar. Fiquei muito chateada quando encontrei um bilhete de Jazz dizendo que tinha saído com o pessoal para alugar uma Van Topic. Por que tinham me deixado sozinha com o cara da selva?
Quando a pizza chegou, coloquei um pedaço num prato, enchi um copo de coca e levei para Edward, o qual continuava paradão na sala.
- Bom apetite. - Soltei o prato e o copo em cima da mesinha de centro. Ele olhou para a pizza e, em seguida, para mim. - Come, é bom! - Aproximei a mesinha dele. - É de calabresa. - O idiota empurrou o prato para longe. - Come! - Insisti, empurrando a pizza de volta para ele e novamente o anormal rejeitou. - Assim vai morrer de fome. - Não sei por que continuava a falar como se ele pudesse me ouvir. - Não gosta de pizza? Como vou adivinhar? Precisa me dizer o que come. - Joguei-me sobre o outro sofá, derrotada.
Enquanto pensava, meus olhos fixaram-se no bloco de notas perto do telefone. Em um súbito, levantei-me, peguei o bloco e escrevi:
O que você come?
Coloquei bem na frente do rosto de Edward. Ele respirou fundo e puxou o bloco de minhas mãos. Assisti, espantada, ele escrever no papel:
Vegetariano.
- Obrigada, Deus! - Involuntariamente, ergui as mãos para o alto. - Ele sabe ler e escrever.
Eu era uma tonta, devia ter pensado naquilo antes. Agora entendia que era assim que o Dr. Cullen se comunicava com o filho. Peguei o bloco e escrevi:
Não tenho isso aqui. Vamos sair para comprar.
A idéia não me agradava, mas não tinha outro jeito. Charlie me mataria se soubesse que não estava alimentando seu convidado.
Fui para a garagem, entrei no carro de meu pai e através de gestos, consegui convencer Edward a entrar no veículo também.
Durante o trajeto de casa até o supermercado, abusei da vantagem de ter um passageiro surdo. Coloquei o som bem alto e cantei junto.
No supermercado, vaguei pela sessão de frutas e verduras, distraída com a quantidade de “mato” que vendiam ali. Nunca gostei de comida natural, sempre fui fã de Fast-food. Enquanto enchia um saco com cebolas, Edward experimentava umas uvas.
- Isso está sujo, menino. - Bati na mão dele. - Larga isso! - Ele fitou-me contrariado. - Oh, Deus... virei babá do Tarzan. - Murmurei enxugando a testa. - O que eu fiz para merecer esse castigo?
Para que ele entendesse devidamente, escrevi no bloco:
Frutas sujas.
Desisti da lição de higiene no momento em que ele me ignorou e jogou duas uvas dentro da boca.
- Ótimo! Como você quiser. Já deve ser cheio de vermes mesmo. Pelo menos não é um canibal. - Empurrei o carrinho de compras para outra sessão e o maluco me seguiu.
Dava para perceber que ele nunca esteve num lugar como aquele antes, pela forma com a qual olhava para o ambiente. Em seus olhos, pude ver um misto de receio e curiosidade.
Confesso que em vários momentos fiquei constrangida por estar ao lado dele, as pessoas o fitavam como se fosse um mendigo. E para ser sincera, ele parecia mesmo um. Por isso mantive a maior distância possível dele.
Parei na sessão de perfumaria e fui rapidinho cheirar a fragrância de um novo xampu, lançado por minha marca favorita de cosméticos. Eu sempre fazia aquilo, curtia um cheirinho bom e artificial. Depois do xampu, passei para o condicionador. Demorei um tempo para decidir comprar os produtos e, quando os joguei no carrinho, senti falta de algo, na verdade, de alguém. A sessão estava vazia, Edward tinha sumido.
- Isso não é bom. - Fiquei um pouco tensa.
Corri pelos corredores em busca do bendito convidado do meu pai. Rodei o supermercado quase todo, louca para gritar o nome dele, mas seria um esforço em vão. Quando já estava para desistir, vejo o sujeito, parado em frente à uma televisão ligada. Ela estava rodeada de latas de leite em pó, era o prêmio de uma promoção boba.
Respirei aliviada e me aproximei devagar de Edward, o qual estava de costas para mim. Fiquei com medo de fazer uma abordagem agressiva, por isso, com calma, toquei-lhe o ombro. Ele virou-se abruptamente e, como um selvagem, quase me atacou. Assustada, sobressaltei. Ao fazer isso, perdi o equilíbrio e cambaleei até cair por cima de uma torre de potes de margarina.
Meu dia de “sorte” estava completo. Alguns potes romperam, lambuzando-me.
- Eu pago. - Falei para dois funcionários que me olhavam, aturdidos.
Só para completar, fui motivo de piada dos clientes. Não consegui me erguer, pois meus pés deslizavam na margarina derramada no chão. Sapateei uma meia dúzia de vezes, até que Edward me estendeu a mão. Com cautela, agarrei sua palme e recuperei o equilíbrio. Puxei o bloco de notas do bolso e, brava, escrevi:
Não se distraia. Não suma.
Com a paciência esgotada, segui para o caixa. Enquanto passava as compras, Alice me liga. Ela tagarelou sobre o tipo de carro que devíamos alugar. Ela achava que um micro ônibus era mais vantajoso que uma Van Topic. A convenci de que, com o orçamento que tínhamos, não adiantava pegar um veiculo maior se íamos ter poucos hóspedes. O blá, blá, blá prosseguiu enquanto eu pagava a conta. Mesmo eu dirigindo, a cabeça dura continuou a me encher os ouvidos. Por fim, já próximo de casa, ela se convenceu de que eu estava certa.
- Às vezes, a Alice é tão ranzinza. - Falei jogando o celular sobre o banco do carona. - AAAAAH, DROGA! - Gritei de olhos arregalados ao ver que Edward não estava ali. Subitamente, freei, quase causando um engavetamento na avenida.
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