segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Capítulo 14

Diário de Bordo - Edward Cullen


Orlando, EUA.

Quando Bella me contou que me inscreveu em um programa de Tv, achei que era algum tipo de piada de mal gosto. No entanto, ao perceber que a insensata garota falava sério, me irritei mais do que esperava. Cheguei a ser rude ao explicar para ela e Alice o quanto me sentia desrespeitado. Estou sempre tentando equilibrar minhas emoções a fim de ter total controle sobre elas, mas Bella consegue ultrapassar todos os limites imagináveis, alcança um lado de mim pouco explorado e, algumas vezes, vulnerável.
Vulnerável. Essa é uma boa palavra para definir como me sinto agora. Não compreendo o que tem nutrido o ressentimento que surgiu na noite passada quando ouvi Bella e Alice conversando sobre mim. É como se eu estivesse com o peito exposto e as equivocadas opiniões dela a meu respeito me atingissem. Isso não é comum para mim. Não me importo com julgamentos, principalmente vindos de alguém com tantos defeitos.

O que pensar? O que fazer? Mesmo ressentido e chateado, ainda desejo manter um elo de amizade com Bella. A questão é: por quê? Em circunstâncias normais eu já teria me afastado da garota. Será que é porque eu me diverti no Bucaneiro e, muito mais, quando saltamos do penhasco? Será que é porque ela se mostrou solidária quando falamos sobre minha mãe? Existe também uma possibilidade de ser por causa do orgulho que senti quando assumiu seus erros e se dispôs a aprender com eles. Bella tem lutado por si mesma e não consigo deixar de admirar isso.

De qualquer forma, algumas frases dela ficaram gravadas na minha memória. Ela me considera uma mistura de “homem das cavernas com nerd e adolescente deslocado”. Posso até entender que não se sinta atraída por mim, mas isso não significa que sou o desprezível, ou “inferior”, como ela mesma disse.

Venho trabalhando com Emmett e Jasper, tentando lhes motivar a serem disciplinados, astutos e destemidos. Talvez Bella também necessite de alguém que lhe mostre que julgar as pessoas antes mesmo de conhecê-las devidamente, é um erro que empobrece a alma. A garota tem me ajudado em muitas questões ligadas a esta terra, por isso, vou afastar o rancor e tentar lhe fazer enxergar o quanto o seu “mundinho fechado” pode estar sendo a causa de sua infelicidade.

Não será tão difícil me empenhar, pois vou tentar conciliar a idéia que acabei de ter, com minha busca por respostas e experiências. Se Bella acha que terei mais chances de conhecer uma moça indo a esse programa de televisão, assim o farei.

Não vou ser hipócrita e também me fechar no meu mundo. A partir de hoje, serei acessível e flexível. Não vou descartar possibilidades e arriscarei mais, exatamente como faria em qualquer tipo de expedição.

Hoje vou terminar essa página com uma frase que se encaixa perfeitamente nesse meu momento de vida.

"Não é o mais forte o que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças". Charles Darwin.


 ***



Um Selvagem Confiante


Bella - Narração:



- Como é que pode? Esse é o T-zed? Por isso que dizem que a televisão muda as pessoas. - Meu irmão embasbacou.

- Graças a Deus que eu tou solteira. - Rosalie comemorou.

- Quê?! Libertina... - Emm rosnou.

- Gente do céu... - Jully tentou me fazer largar a Tv, mas minhas mãos ficaram congeladas no aparelho. - Acho que a Bella não está bem.

Edward caminhou até a fileira de cadeiras com um grande sorriso. A platéia o recebeu muitíssimo bem. Já eu, continuei paradona feito uma mongolóide. 

De repente, meu celular vibrou no bolso e isso me fez despertar.

- AAAAAHHHHHH! - Alice gritou assim que atendi. - Você está vendo? Está vendo? - Ofegava como se estivesse pulando.

- Quem é esse homem na televisão?

- Seja lá o que você disse para o T-zed na casa da árvore, deu certo. A equipe de cabelo e maquiagem quis dar uma geral nele e o cara nem os questionou. Depois eu te ligo porque não posso falar no celular aqui no estúdio. Fui!

- Por que os gritos? Cadê o desastre? - Brad veio do jardim.

- Vou te dizer cadê o desastre... - Emmett estava mesmo aborrecido. - Eu vou ser o próximo corno. - Estreitou os olhos, refletindo. - Será que estou provando do meu próprio veneno? Amargo...

- T-zed está na Tv. - Jasper explicou.

- No noticiário policial? - Meu ex riu. - É por isso que a Bella está rezando?

Fiquei de pé, muito revoltada.

- Edward está em um programa de auditório. - Me afastei para que ele enxergasse a tela.

- Não brinca?! - Gargalhou tentando enxergá-lo em meio a tanta gente bonita. - Onde?

- Ele é o de terno preto. - Apontei com satisfação.

- É, já vi. - Para o Brandido, a piada acabou ali.

- Cala a boca todo mundo que agora o malandro vai entrevistar o T-zed. - Jasper aumentou o volume e eu me sentei no sofá.

“Edward, é mesmo verdade o que a produção me falou? Você veio de uma ilha no Pacifico Sul chamada...” Deu uma olhada na ficha em sua mão. “Malaita?”

Afundei do sofá, fechando os olhos.

Não responda! Não responda!

“Sim.” Logo que ouvi a resposta, gemi de dor.

Por fora eu parecia calma, mas por dentro começava a surtar. Edward não sabia ler nas entrelinhas? Será que não tinha ficado claro que ele devia se esquivar de certas perguntas? Nós fizemos isso no Bucaneiro, usamos meias verdades e deu certo. Acreditei que há essa altura do campeonato, a ficha dele já tinha caído.

“Edward, poderia nos falar mais sobre isso?” Deram um close no teimoso.

O alvoroço na sala chamou a atenção dos hóspedes Bruce Jones e de seu filho, o pancinha.

“Eu sou americano, mas fui morar em Malaita com 8 anos de idade. Meu pai é geólogo e...”

Tapei os ouvidos para não ouvir o resto. Nem eu que morava com ele conseguia acreditar direito naquela história de semi-Tarzan, quanto mais milhares de telespectadores exigentes. Por que ele não facilitava as coisas? Será que gostava de sofrer ou de ME fazer sofrer?

Para não explodir na frente dos hóspedes, saí de fininho, mas ao chegar à escadaria, subi os degraus feito um foguete. Disparei pelo corredor e me tranquei no quarto de Charlie, ligando o televisor às pressas.

- Que ele não diga nenhuma besteira. Que ele não diga nenhuma besteira. - Implorei à Deus, enquanto mudava de canal em busca da TVK.

“Não, eu nunca namorei.”

- Nããããoooooo! - Estrebuchei, não acreditando no que o lesado acabara de falar. O controle remoto caiu no chão e junto com ele, o meu queixo.

“Também, com quem você ia namorar em uma ilha tão longínqua? Com uma palmeira?” O imbecil do apresentador tentou fazer piada e temi que Ed abandonasse o show. Pior, batesse em todo mundo.

“Ao menos, palmeiras não falam bobagem.” Ele revidou em tom de brincadeira e despertou risos na platéia.

“Já saquei o seu lance. Solteiro sim, mas sozinho nunca, não é?” Edward não respondeu. “Mudando de assunto...” O apresentador se mancou. “Tem gostado dos EUA?”

“Não é bem como imaginei, mas me desperta uma adrenalina diferente. Parece que aqui tudo é possível. Outro dia tive que correr atrás de um assaltante e hoje estou na televisão, conversando com pessoas muito simpáticas.” Exibiu seu cintilante sorriso.

- Que filho da mãe... - Pasma, coloquei as mãos na cintura. - Não é que ele tem tudo sobre controle? Quem diria...

Quando Ed apareceu todo bonitão na Tv, reagi feito uma perturbada porque não estava preparada para enxergá-lo como um homem atraente. Já conheci muitos homens bonitos, incluindo Brad, a diferença é que Edward escondeu sua beleza de tal forma, que foi um choque vê-lo tão bem arrumado e barbeado.

Por alguns minutos, fiquei desnorteada e tive reações e pensamentos absurdos. Felizmente, minha mente começava a conectar a nova aparência dele com sua personalidade incomum. No final das contas, por trás de seu visual elegante e sensual ainda existia o cara estranho que acabou se tornando meu amigo. Ed podia estar lindão, mas não éramos compatíveis nem para uma boa “ficada”.

“Amigo, que tipo de garota te atrai? Aposto que nossas telespectadoras estão loucas para saber.”

“Hãm... Não tenho certeza.” Edward passou a mão nos cabelos, sorrindo timidamente. “Preciso escolher um tipo?”

Mostraram a reação da platéia, que acabou se divertindo e gostando da sinceridade dele.

“Não se preocupe, vamos começar pelo item mais fácil: loiras ou morenas?” 

“Isso não é importante. Não para mim.”

“E o que é importante pra você?”

Edward retomou sua seriedade e respondeu:

“Lealdade, coragem, persistência, uma risada agradável... Acho que estou procurando uma moça que não tenha medo de ser ela mesma. Alguém original.”

“Com licença...” A garota que estava ao seu lado lhe estendeu a mão em um cumprimento. “Essa que está procurando sou eu. Muito prazer.” Brincou, tentando faturar o selvagem.

(...)



O programa seguiu-se razoavelmente bem. O apresentador até tentou interagir um pouco mais com os outros solteiros, mas eles ficaram apagados na presença de Edward. Antes o julguei totalmente anti-social, porém mostrou-se misterioso, carismático, sincero, um pouco tímido e aberto a todos. Edward fugia do convencional e isso inevitavelmente atraía a atenção das pessoas.

Não consegui sentar um só minuto. Fiquei andando de um lado para o outro enquanto várias malucas assediavam o selvagem através de e-mails e telefonemas. Aquilo de certa forma era uma coisa boa, só que não conseguia deixar de ficar ansiosa pelo desfecho do parangolê que armei.

“Outra ligação...” O apresentador fez um suspense. “Quem está na linha?”

“AAAAAAAAHHHHHHH!” Uma gasguita berrou, morrendo de rir com as amigas. “Eu sou Kelly de Jacksonville e minha cantada é para o Edward...”, Houve mais risadas. “Tú é mega gostoso! Edward, você não é um chão molhado, mas eu quero te passar o rodo!”

Gargalhei da cara do selvagem. O coitado nem entendeu direito o que ouviu, mas levou numa boa.

“Eu vou pensar. Obrigado.” Riu.

“Outra ligação...” O apresentador manteve o ritmo. “Por favor, fale seu nome e azare!”

“Sou Celeste do Alabama e quero fazer uma pergunta para o Edward.”

“Tudo bem.” Ele respondeu.

“Se eu falar que sou um pedaço de papel, você me dá uns amassos?”

Ele mordeu o lábio, levemente ruborizado.

“Quem sabe... Obrigado por ligar.”

“QUE MÁXIMO!” A doida comemorou. “Tchau! Beijo! Beijo! Beijo! Você é lindo!”

- É... - Retorci a boca. - Agora que ele vai ficar impossível. - Verifiquei as horas e quase fiquei feliz pelo programa estar chegando ao fim.

“Olá, quem está na linha?” O apresentador olhou para meu amigo, já prevendo que era outra ligação para ele.

“Oiêêê... Sou Rosalie Hale e quero dizer pro Edward...” A ligação caiu.

- PRONTO, SENTEI EM CIMA! NINGUÉM VAI MAIS USAR ESSA BOSTA DE TELEFONE! - Emmett berrou lá de baixo.

“Infelizmente a ligação caiu, então vou aproveitar para fazer mais algumas perguntas para os solteirões aqui.” Se dirigiu a todos. “Como seria um encontro ideal para vocês?”

As moças responderam praticamente a mesma coisa. Apesar de citarem locais diferentes, o encontro delas se resumia a um jantar romântico seguido por um passeio ao ar livre.

“Meu encontro ideal seria algo radical...” O piloto de motocroos se pronunciou. “Provavelmente levaria a garota para saltar de asa delta e depois beberíamos uns drinks em um bar bacana onde tocasse um som irado.”

“Edward, e você?” Deram outro close nele.

“Não estou acostumado com ambientes movimentados, me sentiria mais à vontade em um local calmo e silencioso onde possa me concentrar completamente na outra pessoa.” - Brincou com o microfone e completou erguendo o queixo. “O que faríamos não teria grande importância, já que deveríamos estar felizes por partilharmos um momento juntos. O que estou querendo dizer é que por mais que eu tente idealizar um encontro, no final das contas, não faz diferença em onde, ou como, desde que eu esteja com a pessoa certa.”

O mulheril aplaudiu e eu tive uma reação um pouco inusitada.

- Blá, blá, bláááárrrgg. - Passei a imitar, sem sucesso, o tom de voz dele. - Besteira, besteira, besteira! - Fiquei levemente nauseada. - De onde ele tira essas baboseiras melosas? Eu já falei que as coisas não funcionam assim. - Emburrei.

Depois que Edward terminou de falar suas patetices, mais garotas telefonaram e tentaram desesperadamente conquistá-lo. Por umas duas vezes, o vi balançado com certas investidas, então cansei de assistir e passei a apenas ouvir, completamente estatelada na cama.

“Temos outra ligação...” A voz do apresentador já me dava nos nervos. “Por favor, diga seu nome e idade.”

Olhando para o teto, fiquei brincando com o controle remoto.

“Oi, sou Melanie, tenho 20 anos e sou de Orlando...”

Abruptamente me sentei, tendo a impressão de que a conhecia.

“Olá, Melanie. Tudo bem?” Edward respondeu, ligeiramente desconfiado.

“Sim, tudo, Edward. C.”

- Espera aí. Essa não é a garota que se corresponde com o Ed? - Estreitei os olhos, clareando os pensamentos. - É sim! O cara sempre assina como “Edward.C”.

“Olha, Edward, eu não tenho nenhuma cantada engraçada ou muito inteligente, mas eu realmente adoraria te conhecer pessoalmente. A princípio...” Fez uma pausa e quando voltou a falar sua voz tremulou um bocado. “A princípio estava com medo de propor tal coisa, mas quando praticamente disse que uma garota não tem que ter medo de mostrar quem realmente é, tomei coragem e resolvi arriscar. Então o que te peço é: faça acontecer, que eu faço valer a pena.”

A platéia se agitou e eu apenas arqueei as sobrancelhas, totalmente boquiaberta.

“Vamos para os comerciais. Na volta, nosso solteiros finalmente vão revelar quem serão seus pares no próximo... ME AZARE!” O sujeito gritou para dar ênfase. A vinheta do programa foi jogada no ar e meu celular vibrou.

- Fala. - Já sabia que era Lice.

- Essa Melanie não é a garota que se corresponde com T-zed?

- Tenho quase certeza que sim.

- Uau! Não ia ser romântico se eles se conhecessem ao vivo em rede nacional? Acha que Edward a escolherá?

- O cara é imprevisível, é capaz de não escolher ninguém. Quem é que vai saber o que se passa na cabeça dele?

- Tou nervosa. - Alice começou a rir. - Se anima!

- Mas eu estou animada. - Fui ríspida.

- Tanto quanto um defunto. Qual o problema, Bel?

Gemi alto.

- Nada. Só estou me estressando antes da hora. Daqui a dois dias teremos que levar o Don Juan da selva para a TVK... - Suspirei. - De novo. Esqueceu?

- Relaxa, a gente desenrola.

- Acabou o comercial. - Avisei e ela desligou na minha cara.

Desisti de assistir sozinha e corri até a sala para pegar o finalzinho do show com a galera.

- Melanie! Melanie! - Emm e Jasper puxavam o coro.

Todos estavam amontoados no cômodo, inclusive o Link 69, as jovens hóspedes e o velhinho surdo.

- Qualé! Que ridículo, rapá. Não tem nem como ver as garotas, ele vai acabar escolhendo uma baranga. - O baterista da banda falou alto.

- Com licença. - O interrompi. - Esses solteiros estão procurando algo diferente... especial. Nem todo homem só se importa com cabelos oxigenados e peitos siliconados.

Os integrantes do Link trocaram olhares entre si, em seguida, explodiram em uma debochada gargalhada.

- Bells, fica caladinha, tá? Você não sabe de nada. - Brad não perdeu a chance de me inferiorizar.

Me segurei para não dar uma resposta á altura. Não queria discutir na frente dos hóspedes.

- Shhhhh! - Jasper levantou-se. - Silêncio, chegou o momento do T-zed escolher.

Cruzei os braços, e assim como os demais, fiquei na expectativa.

“Então Edward, você já falou um pouco de si e ouvimos muitas propostas. Chegou o momento decisivo. Assim como os outros solteiros, precisa selecionar alguém para um encontro aqui no programa. Quero lembrar que, se após esse encontro no palco, vocês se entenderem bem, poderão passar o final de semana em uma bela casa de praia em Miami para se conhecerem melhor. Fala aí, amigo.” Colocou a mão em seu ombro. “Quem vai ser A escolhida?”

Quando mostraram o rosto pensativo do meu amigo e a curiosidade da platéia, me dei conta de que milhares de pessoas se interessaram por sua busca. Talvez fosse isso que estivesse me deixando desconfortável, não era mais uma coisa só “nossa”, algo que nos aproximou ainda mais. Agora era uma preocupação coletiva e eu tinha receio de não ser mais levada a sério. Edward era o único que realmente ouvia meus conselhos e opiniões, e por uma ridícula ironia, eu me sentia uma pessoa melhor com isso, pois quase todos me consideravam só uma tola atrapalhada.

“Eu quero agradecer às pessoas que telefonaram e me enviaram mensagens. Devo confessar que não esperava tanta cordialidade, mas como preciso selecionar alguém, vou seguir minha intuição...”  Sorriu torto e mostrou segurança ao falar. “Gostaria muito de conhecer Melanie, de Orlando.”

O pessoal que simpatizou com as palavras da garota, comemoraram, divertindo-se. Eu não saí pulando como tinha imaginado, mas dos meus lábios escapou um sincero e satisfeito sorriso. Estava feliz por Edward, pois ele se superou em muitos sentidos ao abrir-se para o mundo daquela forma.

(...)

Eram quase 21:00h quando Jasper, Emmett e eu sentamos em espreguiçadeiras no jardim. Alguns hóspedes saíram para curtir a noite e outros se recolheram em suas suítes.

Nós mal começamos a papear quando ouvimos a barulhenta mostrenga estacionando em frente à mansão. Os rapazes levantaram, loucos para zoar seu instrutor de Krav Magá, só que eu permaneci sentada, ainda esperando ver um sujeito barbudão adentrar minha casa.

- Vocês viram? Viram tudo? - Alice berrou, correndo em nossa direção e os rapazes encurtaram a distância, indo encontrá-la no meio do jardim. Ela começou a atropelar as palavras, tentando contar tudo que presenciou e as pessoas que conheceu.

Então eu o vi. Edward cruzou os portões com o nó da gravata frouxo e o blazer escuro na mão esquerda. Meus amigos acreditaram que ele pararia para falar com eles, só que Ed não parou, não até ficar frente a frente comigo.

Levantei da espreguiçadeira e o encarei, constatando que ficara mais lindo pessoalmente do que na Tv. Era estranho, quase surreal, mas tentei não demonstrar espanto.

- Você assistiu? - Perguntou sério.

- Sim.

- Bom. - Assentiu com a cabeça.

- Você está legal?

- Sim.

- Bom. - Sem querer repeti sua resposta.

 - Legal.- Olhou para os lados, parecendo não ter mais nada a dizer. Então afastou-se, indo falar com os rapazes.

Enfiei as mãos nos bolsos do jeans, impaciente com o clima estranho que se formou entre nós. Eu estava passando por um processo de reconhecimento e tive que me esforçar para lembrar que o bonitão ali ainda era o selvagem.

- Ei, Ed. - O chamei e ele virou-se para mim. - Você se saiu bem.

- Então por que está... estranha? - Sua voz ajudou no reconhecimento.

- Não estou. Como esperava que eu agisse?

- Não sei. Como... como... “Bella”? - Franziu o cenho.

Involuntariamente ri e meus amigos ficaram nos assistindo. Mordi o lábio por um segundo, então abandonei a posição de criança enciumada e corri até ele, jogando-me em seus braços.

- Você foi demais. - Murmurei pendurada em seu pescoço. - Superou minhas expectativas. Parabéns. - O apertei contra mim com toda a minha força.

- Aceito seus parabéns. - Retribuiu o abraço com vontade.

Fiquei um pouco sem ar, mas não reclamei, pois foi bom me sentir novamente conectada ao velho Ed-rei-da-floresta.

- Fui eu que ensinei a se abraçarem assim. - Alice se gabou em voz alta.

(...)

Alice e Emmett foram para suas casas, Jazz praticamente desmaiou no sofá da sala e eu tive que cuidar do enorme cesto de roupa suja. Joguei tudo na máquina e, antes de ir para o quarto dormir um pouquinho, resolvi procurar Edward e lhe oferecer algo para comer.

Antes mesmo de alcançar a casa da árvore, avistei o selvagem dentro da jaula do puma. A jaula era sempre mantida longe da casa, em um local onde a grama era mais alta e a copa das árvores proporcionavam uma boa sombra.

- O que está fazendo? - Indaguei ao me aproximar.

Edward estava sentado dentro da jaula acariciando as costas do felino, o qual deitado no chão, abria o bocão em um bocejo.

 - Nada. - Respondeu despreocupado.

Me mantive há meio metro das grades e temi pela segurança do meu amigo.

- É melhor você sair daí.

- Como foi sua conversa com Brad? - Desdobrou as mangas da blusa branca, mas não fechou os botões da mesma.

Gemi alto.

- Difícil, mas acho que me saí bem. E você? Empolgado para conhecer Melanie?

Ele mordeu o lábio inferior e franziu o cenho.

- É complicado. Não sei o que esperar, porém tenho um bom pressentimento. Na verdade, um ótimo pressentimento. Algo me diz que... vai dar tudo certo.

- Está tão confiante assim?

- Estou. Não deveria estar? - Sorriu.

- Como consegue? Eu no seu lugar estaria apavorada. - Ri sem humor. - Quer dizer, estar lá, na frente das câmeras, com toda a pressão para escolher alguém que nunca viu pessoalmente.

- Preferia que não fosse assim, mas também não me incomodo. Eu sei que vai acontecer alguma coisa boa para compensar.

- O quê? - Não entendi. - Que coisa boa? - Parecia que não estávamos mais falando de Melanie.

- Eu sei que é loucura e não tenho fatos suficientes para sustentar minha teoria, mas... - Sorriu torto. - Venho notando que quando nos envolve em confusões, sempre acontece alguma coisa boa depois.

- É? - Arqueei a sobrancelha, muito surpresa.

- Pelo menos tem sido assim até agora. Talvez seu azar seja um tipo bizarro de sorte. - Brincou.

- Hum... - Retorci a boca, pensativa. - Depois vou analisar direitinho essa sua teoria. - Me aproximei da jaula até tocá-la.

Imediatamente o puma reagiu. Ficou de pé e rugiu baixo para mim. Sobressaltada, me afastei ao ver a ponta de suas presas.

- Edward, sai logo daí. - Quase gritei por socorro.

Ele estreitou os olhos, estudando-me.

- Vem cá. - Chamou-me com a mão.

- Ficou louco? - Esbravejei, aumentando a distância entre mim e a jaula.

O cara acalmou o animal o obrigando a sentar e saiu da jaula.

- Não se preocupe, Bella. Não irá se machucar. - Veio até mim.

- Esqueça. Posso ser pirada, mas não sou suicida.

- Confie em mim. - Arrastou-me pelo braço até as grades.

Lutei, pendendo o corpo para trás e grunhindo com o desespero quase à flor da pele.

- Pelo amor da minha pele, não faça isso comigo. - Choraminguei covardemente.

- Fica quieta. - Ordenou, prendendo-me contra a grade.

Tentei sair correndo, só que o idiota ficou atrás de mim, com as mãos firmes em minha cintura.

- Eu vou te matar. - O medo começou a se transformar em raiva.

- Fique. Bem. Quieta. - Falou junto ao meu ouvido em um tom baixo, mas extremamente dominante.

Receosa, decidi não contrariá-lo. Edward soltou minha cintura e afastou meus cabelos para por seu rosto perto do meu ombro. Imóvel, mantive meu olhar em um ponto fixo e meu estômago embrulhou.

- Escute. - Colocou apenas a palma direita de volta na minha cintura. - Sei que teme muitas coisas, e por vezes, cede a esses medos agindo impulsivamente. Precisa aprender a dominar seus medos, pois nunca vai conseguir eliminá-los completamente. Ao se controlar, vai poder raciocinar devidamente antes de tomar qualquer decisão.  

Nada respondi, na dúvida se ele estava certo ou se estava apenas tentando mostrar-se melhor do que eu.

Edward assobiou e o puma veio até nós, parando há mais de um metro das barras de ferro. O animal agitado, ficou andando de um lado para o outro, enquanto Ed continuava a falar perto do meu ouvido.

- Domar esse tipo de animal é difícil. A natureza de felinos selvagens é única, eles ficam irados ou calmos à toa. Por isso, o segredo para domá-los é justamente compreendê-los. Quando se alimenta um puma, por exemplo, não se pode lhe dar um animal vivo. Ele se tornará uma fera por causa do instinto de perseguir e matar. É preciso saber a hora certa de alimentá-lo. O puma não pode estar com fome, nem saciado. - Edward fez uma pausa e senti seus olhos sobre meu rosto. - Não pode demonstrar medo. Tem que se impor, mas também precisa mostrar respeito.

Fitei o animal e ele não me parecia nada confiável. Seus grandes olhos amarelos me davam calafrios.

- Bella, se ele te encarar o encare de volta. Eu agrado meu puma, mas não faço todas as suas vontades. Não o obedeço. Algumas vezes tenho que ser firme. É preciso mantê-lo em equilíbrio, nem muito alegre, nem muito descontente. Quando estou com os pumas sou bom e mau ao mesmo tempo, isso faz com que eles sintam que sou exatamente como eles.

Edward fez mais uma pausa, esperando que eu digerisse todas as informações, e quando eu já estava começando a me acalmar, disse:

- Quero que toque na cabeça do puma.

Arregalei os olhos, voltando a me agitar.

- De jeito nenhum! Não quero ficar sem mão.

- Ao menos tente.

- Esqueça. Não pode me obrigar.

- Posso sim.

Virei a cabeça para encará-lo e notei que falava sério.

Imediatamente tentei me desvencilhar, porém o imbecil envolveu seus braços em minha cintura e me vi totalmente indefesa.

- Ed, isso não tem graça. - Vociferei.

- Tente apenas uma vez.

Revirei os olhos, bufando.

- Uma vez. - Concordei.

- Acalme-se primeiro.

Respirei fundo, sem saber onde foi parar meu juízo.

- Acalmada. - Avisei.

Edward me soltou e mesmo sem olhar para seu rosto, sentia no ar sua satisfação.

- Sou eu quem decide. Não está calma o suficiente.

Prepotente!

- Agora estou. - Não dei o braço a torcer.

- Shhh. - Pressionou toda a extensão de seu corpo contra o meu, mantendo o braço esquerdo colado à minha barriga. - Não está respirando. - Murmurou.

 Estranho, nem notei.

Inspirei e expirei, em seguida, Edward deslizou a mão que estava livre em meu braço direito até alcançar a palma. Mordi o lábio quando minha pele se arrepiou... de medo... claro. Ou, não tão claro...

O selvagem ergueu minha mão e vagarosamente foi colocando-a entre as barras, até que minha palma e parte do antebraço ficassem dentro da jaula. Ele resvalou a mão por meu braço e foi descendo pela lateral do meu corpo até chegar a cintura.

A calda do puma se mexeu e a ponta das prezas ficaram a mostra, conforme rosnava baixo ao ver que eu estava invadindo seu território.

- Abaixe a mão. Tente alcançá-lo. - O sádico ordenou.

Hesitei, com a mão trêmula. Estava morrendo de medo de perder algum dedo. E se o puma saltasse e mordesse minha mão? Gemi, angustiada

- Não está se concentrando, Bella. Pare de pensar, seja forte. Mostre determinação e confiança em si mesma.

Engoli em seco. Que diabos Edward estava fazendo comigo?

Meu quase ex-amigo assobiou outra vez e o puma deu três passos, atento, na defensiva, articulando.

- Coloque o braço inteiro dentro da jaula. - Fez uma pressão na minha cintura.

- Não posso. - Murmurei.

- Te falta equilíbrio interior. O puma vê isso e tem dificuldade em confiar. Ele sente que está oscilando entre pavor e coragem, raiva e incerteza, conseqüentemente os instintos de autodefesa dele são acionados. 

- Eu... -

Perdi o único fio de confiança que me restava. Nesse exato momento o felino soltou um rosnado alto, preparando-se para saltar sobre mim. Ed me puxou para trás tão rápido que mal consegui reagir. Uma das patas do puma atravessou a jaula, buscando por mim como se eu fosse uma presa, ou um inimigo.

Assim que Edward me largou, minhas pernas vacilaram. Caí sentada, bestificada com a ira do animal que rugia estridentemente.

- É muito raro atacarem pessoas. - Ed ficou olhando para o puma como se realmente não esperasse por aquilo. - Não era para ter acontecido. Achei que ele só ficaria na defensiva. Me desculpe. - Me ajudou a levantar. - Não sei como explicar isso. O puma não agiu dessa forma com nenhuma das pessoas que Emmett trouxe aqui. Sob minha supervisão, alguns chegaram perto suficiente para tirarem fotos com ele e o animal nunca ficou agitado.

- Ótimo! - Chateada, puxei meu braço com força. - Valeu por me obrigar a fazer essa besteira.

- Achei que era seguro o suficiente. Há uma hora atrás sua prima esteve aqui conversando comigo e ela tocou no puma. Não teve problema nenhum.

- Jully esteve aqui? - Estranhei e a raiva diminuiu. - Ela tocou nesse bicho?

- Sim. - Respondeu com naturalidade. - O puma nem rosnou para ela, então acho que o problema dele com você é pessoal. - Conteve o riso.

O que aquilo significava? Que Jully e os outros possuíam equilíbrio interior e eu não?

- Boa noite. - Saí, carregando comigo um misto de raiva e tristeza.

 - Boa noite, Bella. - Suspirou.

Tive a impressão de que Edward murmurou alguma coisa, só que não fiquei curiosa o suficiente para me virar e lhe perguntar.

(...)

O dia já começou agitado. Jasper tinha programado um passeio e eu nem me lembrava. Dei uma geral nas suítes com a ajuda da dona Bogdanov e assim que pude, fui auxiliar Alice.

Ao passar pela sala, vi que Edward estava falando ao telefone e imediatamente supus um milhão de coisas. Ele me olhou de relance, e para que não pensasse que eu estava bisbilhotando, segui meu caminho.

- Com quem o selvagem está falando? - Indaguei ao entrar na cozinha.

- Com o pai dele. - Lice respondeu, enchendo um grande isopor com vários tipos de bebidas. - Ouvi uma coisa ou outra quando estava arrumando a sala.

- Aconteceu alguma coisa? - Encostei-me no balcão, extremamente curiosa.

- Sabe que seu pai lê todos os dias o Gazeta da Flórida, certo?

- E...? O que uma coisa tem a ver com a outra?

Ela foi até a mesa da cozinha e voltou com o jornal.

- Vou ler só um trechinho... - Ela já havia separado a página em questão. - “O jovem de 23 anos, Edward Cullen, que afirma ter passado toda a sua vida em uma ilha no Pacifico Sul, foi o principal destaque do novo programa da rede TVK, a qual vem sofrendo há meses com baixa audiência de seus programas. Pouco se sabe sobre Edward Cullen, mas sua simpatia beirando a timidez roubou a atenção dos telespectadores e fez com que o Me Azare!, apresentado por Zac Gilles, atingisse inesperados picos de audiência.”  

- Tá de onda! - Arranquei o jornal de suas mãos. - Qualé! - Grunhi, me deparando com uma foto de Edward, tirada no programa, no topo da matéria.

- E essa matéria está também na versão on-line do Gazeta. 

- Isso é uma tentativa de me consolar? - Fiquei chateada. - Será que agora meu pai vai descobrir sobre o resort? - Amassei o jornal.

 - Só se Edward contar. - Voltou a empilhar as latinhas dentro do isopor. - Relaxa... O sucesso dele não tem nada a ver com nosso projeto. Charlie nunca vai saber.

- Sucesso? - Franzi o cenho, estranhando o soar da palavra.

Alice gargalhou e não entendi por quê.

(...)

Corria carregando uma cadeira de praia embaixo de cada braço. Ainda assim, gritei:

- Ei, Ed!

Ele já estava quase chegando à casa da árvore.

- O que foi, Bella? - Veio até mim e evitou que eu despencasse com as cadeiras.

- Seu pai... - Arfei. - Pode pôr a culpa em mim.

- Mas a culpa é sua. - Disse sério, porém logo sorriu, mostrando que estava brincando. - Meu pai se preocupa comigo, mas respeita minhas decisões e individualidade. Não sou nenhuma criança. 

- Ah... - Baixei a cabeça desejando que meu pai agisse da mesma forma. Ele havia acabado de me encher de instruções ao telefone, e claro, soltou um tremendo interrogatório, que por sorte, driblei.  - Eu te vi no jornal. - Mudei de assunto.

- Vai sair? Jasper me falou que vocês vão para a praia. - Edward parecia não querer falar sobre sua recente exposição.

- É. Os rapazes fizeram o mesmo passeio com os primeiros hóspedes e fiquei de fora, não posso deixar de ajudar dessa vez.

- Entendo.

- Mas tem uma coisa boa nisso.

- O quê?

- Você vai também.

Edward me encarou como se eu tivesse acabado de lhe dizer que íamos açoitá-lo.

(...)

Amontoamos uma série de parafernálias no porta-malas da Kombi e isso incluía as cadeiras de praia, guarda-sóis e isopores abarrotados de bebidas e... Bregueço, bregueço, e mais bregueço.

Alice me ajudou a escolher um biquíni “comportado” e por cima de tudo, coloquei um vestidinho de praia bem simples e feioso.

Não perdemos mais tempo e procuramos organizar o grupo de hóspedes que esperava na calçada. Éramos uma galera muito esquisita: duas adolescentes, um velhinho surdo que não largava a gaiola de seu papagaio; o gordinho que fez seu pai me pagar para tomar conta dele, pois o coroa tinha outros planos; dona Bogdanov, Jully, Edward e meus amigos.

- Se a gente apertar um pouquinho vai caber todo mundo. - Emmett foi praticamente fuzilado pelos nossos olhares.

- Quem sabe o Brad não pode dar uma caro... - Alice se calou assim que vimos o Link 69 partir sem se importar com o nosso sufoco.

- Deixa o Brandido e seu Mustang idiota pra lá. - A consolei. - Vamos dar um jeito. - Sorri para os hóspedes.

- Hora de irmos! - Jasper ordenou, batendo palmas.

(...)

Como acomodamos 11 pessoas em uma Kombi caindo aos pedaços? Simples... Na verdade, não tão simples: Emmtt no volante, Jully no banco do carona, logo atrás, as adolescentes e o velhinho surdo. E por último, no banco perto do porta-malas, acomodamos a Bogdanov, o gordinho e Alice sentada no colo de Jasper. Já eu, fiquei no fundão também. Sentada no colo de quem? É, Edward.

Foi difícil espremer 6 pessoas no último banco, mas como as adolescentes reclamaram da falta de conforto e organização, tivemos que fazer alguns sacrifícios para agradá-las.

- Tudo certinho aí atrás? - Emm perguntou.

- Vai na fé, véi. - Jazz falou alto.

- Tem certeza que Brad está indo para a mesma praia? - Cochichei no ouvido de Alice.

- Sim. - Ela sussurrou. - Ele quem apresentou o local aos meninos.

- Vamos lá, pessoal! - Emmett ligou a monstrenga e ela roncou alto. O cano de descarga soltou a costumeira fumaça tóxica e negra. A Kombi chacoalhou, só que infelizmente não saiu do lugar. - Muito bem... - Nosso motorista olhou para trás. - Quem vai descer pra empurrar?

Grunhi cobrindo o rosto com as mãos.

(...)

E lá estávamos nós, pipocando na rodovia estadual rumo à Titusville. A ironia é que pretendíamos ir para a mesma praia em que Edward e eu visitamos após uma louca noite no Bucaneiro.

Quase todos conversavam, mantendo o lugar barulhento e estressante, só que vira e mexe a velha monstrenga dava um solavanco, fazendo com que Alice gargalhasse de nossa ridícula situação. Após outro solavanco, olhei para trás e reparei que meu irmão mantinha os olhos vidrados em Edward, obviamente, tentando se certificar de que o cara não estava se aproveitando dos meus constrangedores pulinhos em seu colo.

- Pára de me encarar. - Edward reclamou ranzinza.

- Jasper está de olho em você. - Respondeu como um mafioso.

- Deixa de ser idiota, Jazz. - Para a minha sorte, Alice o repreendeu e eu a apoiei com um sorriso. - Deixa o T-zed aproveitar as coisas boas da vida.

Meu sorriso desapareceu.

- Que cheiro horrível é esse? - A jovem da frente se virou para nós.

- Quem soltou que se acuse. - O pancinha riu, se entregando.

- Pelo amor de Deus, escancarem essas janelas! - Lice começou a passar mal, e não era para menos, só duas janelas estavam abertas.

- Você disse que ia se comportar. - Estiquei o braço na frente de Alice, tentando alcançar o Toby.

 Ele se espremeu contra a Bogdanov e gargalhou, dizendo:

- Foram os chocolates.

- Seu gordinho pilantra. - Rosnei por entre dentes.

- Gordinho pilantra. - O papagaio repetiu, chocando a todos.

Imediatamente voltei para o meu lugar pensando: isso não é bom.

(...)

15 MINUTOS DEPOIS...


- Gordinho pilantra. - O papagaio não parava mais de tagarelar aquilo.

- Já chega, vou empalhar esse bicho! - Toby atirou suas mãos gordinhas contra a gaiola.

- Nããooo! - Lice e eu gritamos juntas.

- Larga. - O velhinho se aborreceu, lutando para proteger sua ave.

- Pelo amor da minha santa paciência, deixa o papagaio em paz. - Pedi em voz alta, tentando desesperadamente puxar Toby pela camiseta.

- O quê? - O senhor me fitou, obviamente não entendendo.

- Olha, por que também não fica mudo?

- Topa tudo? - O velho me olhou estranho, entendendo só o que queria. - Minha filha, não diga uma coisas dessas... Você é tão nova.

- Eita, já puxaram pro buraco da maldade. - Emmett lá da frente, gargalhou.

- Não diga asneiras. - Repreendi o hóspede.

- Trabalha a noite inteira? - O velho inclinou seu ouvido em minha direção.

- O senhor me faz perder a paciência!

- Concordo... É uma indecência. - O maldito surdo fungou.

- Desista. - Edward sussurrou.

Com a cabeça começando a latejar, fitei Toby, dizendo:

- Cola o rabo nesse assento e fica quieto.

- Gente, vocês não estão sentindo falta de alguém? - Jasper perguntou.

- É. Estou... - Emmett coçou a nuca.

Por alguns segundos houve silêncio, até que...

- ROSALIE! - Emm freou abruptamente.

Minha cabeça se chocou contra o teto da Kombi, ativando minha imaginação e, sem querer, viajei na maionese...

...

Podia ver claramente a loira.

Depois de horas se arrumando, estava plantada na calçada com um biquíni provocativo, um grande e estiloso chapéu na cabeça, óculos escuros e salto alto.

Rosalie olhava para os dois lados da calçada, completamente confusa. 

- Pessoal? Cadê vocês? - Tirou os óculos.

...

Assim que pude, balancei a cabeça, procurando não dar asas à imaginação... Ela podia ir longe.

- Por favor, não vamos voltar. Já estamos quase chegando em Titusville. Emm, quando chegarmos lá, você liga para a sua chave de cadeia. - Alice implorou.

- Quer saber? - Emmett se virou para nós. - Não vamos voltar! A libertina merece um castigo depois do que me fez passar ontem.

- Alguém quer trocar de lugar? Essa cozinheira está fazendo cafuné na cabeça de Jasper. - O idiota suava horrores.

A Bogdanov passara o braço por trás dos ombros de Toby e alcançara os cabelos de meu irmão. Havia um sorriso matreiro nos lábios da estranha mulher.

- Vai! Vai! Vai! - Gesticulei freneticamente, louca para sair da Kombi.

Emmett deu a partida e a lata-velha, mais uma vez, deu um solavanco. Subimos e descemos feito uma mola.

- Jasper. Viu. Isso. - Rosnou por entre dentes, chamando nossa atenção. - T-zed está se aproveitando da situação. - Acusou.

Imediatamente olhei para trás e encarei o selvagem.

- Não. - Balançou cabeça, sentindo-se acuado. - Ele está enganado.

- Jasper vê. Jasper sabe.  - O imbecil insistia em bancar o irmão mais velho. -  Bella vai trocar de lugar com o Toby.

- Como vocês dizem aqui, isso não vai rolar. - Ed falou e eu ri alto.

Essa era a primeira vez que ele usava uma gíria.

- Quem vai no colo de quem não importa. A Kombi não está andando. - Emmett se irritou.

- Se arrependimento matasse.... - A jovem hóspede jogou os braços para o alto.

(...)

- Foooorrrrçççaaaaaaa! - Jasper berrou totalmente vermelho.

Ele, eu, Lice e Edward empurrávamos arduamente a monstrenga pela pista. Ela estava pesada e isso exigia muitos de nossos músculos. Os malditos hóspedes estavam nitidamente nos punindo, não ajudando em absolutamente nada.

Tivemos que ficar próximo ao acostamento, pois do nosso lado esquerdo passavam vários carros, os quais, claro, não ofereceram nenhuma ajuda.

- Vai! Vai! - Emmett gritou, pondo o braço para fora.

- Cala a boca! - Berrei de volta, já ficando sem forças.

De repente, um carro passou por nós e um idiota colocou a cabeça para fora, gritando:

- OLHA A FEIRA!

- Já chega! - Alice choramingou, desistindo. - É muita humilhação, meu Deus do céu. - Caiu sentada no acostamento.

Todos nós paramos e Emm quase saiu da Kombi para nos matar.

- Por favor, não vai fazer caso agora. - Tentei erguê-la, mas Alice não ajudou.

- É muita vergonha, meu povo. - Soluçou.

- Ninguém disse que gerir uma imitação de resort ia ser fácil. - Retruquei.
tttttttttttttttt    
- Ali na frente tem uma subida. Vamos fazer um último esforço. Empurramos a Kombi até lá, depois é só deixar ela descer com tudo e partir pro abraço. - Jasper obrigou Lice a levantar.

- Não é má ideia. - Ed foi otimista.

Com nossas mãos espalmadas na lataria, trocamos olhares e meu irmão gritou novamente:

-  Foooorrrrçççaaaaaaa!

Empurramos.

A monstrenga andava devagar, mas pelo menos andava.

- Um dia vamos olhar para trás e rir disso tudo. - Falei.

- Para mim esse dia é hoje. - Edward gargalhou sozinho.

Quase morremos para fazer a lata-velha chegar ao topo da rampa, então quando o motor rugiu alto e a Kombi desceu a rodovia com tudo, paramos para comemorar.

- Viu, foi fácil. - Jazz riu.

Exaustos, ficamos assistindo a Kombi ir embora sem nós.

- EEEIIIIIIII! - Gritamos juntos, desembestando a correr atrás da monstrenga.

(...)

Sol, calor, vento, areia, gente bonita, diversão. Todos pareciam compreender bem o sentido de cada palavra, exceto eu.

Alguns dos hóspedes pegavam sol, outros bebiam e comiam. Brad e seus comparsas se mantiveram afastados entornando cervejas, tocando violão e paquerando geral. Emmett e Jasper trataram de fincar guarda-sóis na areia e eu fiquei sozinha, sentada em cima de uma toalha de banho tentando fazer a câmera digital funcionar.

A praia estava meio vazia mesmo sendo alta estação. Eu sabia que a maioria dos banhistas tinham escolhido outras praias da região, onde as águas não eram tão traiçoeiras.

Alice e Jully haviam ido dar um mergulho, mas logo voltaram ensopadas e risonhas.

- A água está ótima. - Minha prima estendeu a mão para que eu lhe passasse sua toalha.

- Legal. - Dei um meio sorriso lhe entregando a toalha.

- Olha aquilo. - Lice sentou-se ao meu lado. - T-zed está tão gostoso que merecia sair do mar em câmera lenta.

Imediatamente virei a cabeça na direção que ela indicava.

Edward estava só com uma bermuda preta, e a ausência da barba, junto com o corte de cabelo moderno, fez com que ele parecesse um modelo molhadinho e super sexy. O cara deu uma corridinha até onde os rapazes estavam e abriu um sorrisão. O problema é que não se deu conta de que o curto trajeto que fez da água até os guarda-sóis, foi suficiente para que algumas garotas reparassem nele. Pior, o reconhecessem.

- Verdade. - Comentou Jully e eu preferi não me manifestar.

(...)

Como o meu irmão é um retardado e o meu amigo um jumento, não perderam tempo e usaram Edward e sua nova aparência para pescar mulheres. Eu me recusei a chegar perto, mas dava para notar que muitas das moças que os cercavam, assistiram ao Me Azare! e demonstravam uma exagerada admiração pelo selvagem.

- Você conseguiu mesmo o que queria. - Lice abriu uma cerveja.

- Hein? - A fitei, percebendo que havia me distraído.

- O Edward. Você sabe... Não queria que ele conhecesse garotas? Não queria que ele tivesse experiências?

- Ah... - Assenti com a cabeça. - Verdade. Eu estou muito feliz com isso. - Alice me conhecia muito bem e não acreditou na minha expressão de felicidade. - Mas o meu trabalho de cafetina só vai estar completo quando ele conhecer a Melanie no Me Azare!. Depois disso, Ed ficará por conta própria. - Tentei lembrar das minhas outras prioridades.

- Vou buscar uma bebida pra te animar. - Deu um tapinha nas minhas costas e levantou-se.

Lice se dirigiu à pequena barraca que os rapazes armaram para guardar os isopores. Toby ficou de guarda na barraca, devorando sanduíches e se afogando em refrigerante.

- Bella... - Jully que estava deitada se bronzeando, sentou-se olhando para o horizonte. - Em alguns momentos achei que você e Edward estavam juntos.

- Mas estamos. - Minha língua foi mais rápida do que meu cérebro. - Espera. Juntos como? - A fitei.

- Tipo namorado e namorada.

Gargalhei.

- Não. Claro que não. Somos amigos... - Refleti por segundos. - Amigos tortos... eu acho. Nos desentendemos bastante. É como... como... - Fiz um esforço para me fazer entender. - Somos muito diferentes, mas juntos somos iguais, saca?

- Não muito. - Sorriu, desculpando-se. - Mas você... - Jully passou as mãos suadas nas coxas. Ela me parecia bastante nervosa. - Se importa se eu me aproximar um pouco dele? - Baixou a cabeça.

- Ué... Achei que preferia ficar longe. Não foi o que me disse?

- É... mas...

- Olha, não é comigo que você tem que se preocupar, e sim com a tal Melanie. - Dei um sorriso fraco. - Vi a foto dela no perfil do Eutouquerendo.com. É bonitona.

Jully suspirou e eu fiquei sem saber o que dizer.

 - Toma a tua cerveja. - Lice voltou e me entregou a latinha.

Abri a cerveja, tomei quase metade de uma só vez e fiquei na minha.

- Qual o problema daquele Brandido? - Lice irritou-se. - Não olhe para ele.

Por um impulso, olhei. Não se pode dizer “não olhe”, pois é aí que olhamos mesmo.

McFadden estava do nosso lado direito, há uns 8 metros de distância. O cretino conversava com uma das hóspedes e pelo jeito que ria, dava para sacar que a paquerava. 

- Ele deve ter alguma tara por garotas menores de idade. - Jully comentou, fazendo uma sutil referência ao fato de que quando o conheci também era menor de idade.

- Acredito que sim. - Desviei o olhar e tomei o resto da cerveja. Procurei não me abalar com nada que Brad fizesse, eu estava determinada a me preocupar só comigo e meus amigos. - Estamos aqui para nos divertir, certo? - Tentei animá-las. - Não vamos ficar aqui às moscas.

Fiquei de pé e me livrei do vestido de praia. Ajustei a parte de cima do biquíni vermelho e sacudi o cabelo com a mão, deixando-o ainda mais rebelde.

- Vamos dar um mergulho? - Sorri e as meninas fizeram careta, podres de preguiça. - Que seja. - Bufei chateada, mas não desisti de me divertir. - Fui!

Caminhei rumo ao mar sem olhar para trás. O vento em meu rosto e o cheiro da água salgada acenderam fagulhas de empolgação em mim. Logo apressei o passo querendo chegar ao mar. De repente, alguém passou por mim correndo e só quando se distanciou, chegando à água, foi que notei que se tratava de Edward.

Não o segui e mantive meu próprio curso. Ao entrar no mar, banquei a afoita e deixei que a água cobrisse bem além da minha cintura, mas só quando uma onda veio ao meu encontro, foi que realmente ignorei tudo e mergulhei nela sem hesitar. Foi muito divertido, porém logo tive que emergir. Não tive nem tempo de recuperar o fôlego, pois uma onda maior me pegou desprevenida e foi me arrastando para a margem. Cheguei até a engolir um pouco de água. Totalmente desajeitada, busquei me equilibrar, e com dificuldade, consegui fincar os pés no chão.

Com água já na altura dos quadris, passei as mãos no rosto e disse a mim mesma que o pequeno acidente não foi tão ruim. Então do nada, dois banhistas que estavam sentados na areia começaram a rir de mim. Franzi o cenho sem entender e, quando menos esperava, Edward apareceu, se colocando na minha frente. Tudo aconteceu muito rápido e meu cérebro processou as informações com dificuldade.

O selvagem me abraçou, mantendo seus braços em minhas costas e fazendo com que nossos corpos ficassem colados. Ofeguei aturdida e ele me obrigou a dar alguns passos atrás, até que a maior parte de nossos corpos ficasse submersa.

- Edward... - Confusa, retribui o abraço. Ele estava tão carente assim?

O cara soltou uma risadinha estranha, mas não me largou.

- É meio constrangedor dizer isso, mas...

Me afastei o suficiente para conseguir encará-lo.

- A parte de cima do seu biquíni sumiu.

Olhei para baixo e vi que tinha razão.

- AAAAAAAHHHHH! - Gritei alarmada.

- Não grita não. - Se conteve para não rir. - Podem pensar que estou te atacando.

- Que merda! O que vou fazer? - Exasperada, olhei para os lados e nem sinal da peça.

Nunca tinha passado por uma situação semelhante. Era mais do que constrangedor, era estupidamente embaraçoso.

- Calma. - Edward mantinha seu peitoral cobrindo meu busto. - Não adianta se desesperar.

Uma onda se chocou contra nós, mas Edward conseguiu manter o equilíbrio e não fomos arrastados por ela. Logo em seguida, girou nossos corpos para que pudesse enxergar a praia.

- Estou vendo seu biquíni. - Falou com um sorriso.

Forcei o pescoço pra olhar para trás e avistei a peça boiando na margem, perto de onde Toby brincava. Ele viu o biquíni e, com um sorriso matreiro, pegou a peça com a ponta dos dedos.

- Vou lá buscar. - Ed tentou se afastar e o impedi.

Outra onda nos atingiu e dessa vez quase fomos levados.

- Você não é nem doido de me deixar aqui sozinha. Uma onda vai me pegar e eu vou acabar rolando semi-nua até a areia. - Ameacei com o olhar.

- Considerando a sua sorte... - Refletiu, brincalhão. - Existe mesmo essa possibilidade.

Fiquei brava com seu sarcasmo.

- Toby! - Olhei para trás. - Joga essa droga pra cá! - Gritei.

- Que droga? Essa? - Gargalhando, chacoalhou a peça no ar.

- Toby. - Grunhi, irada. - Agora!

- Não! - Ele saiu correndo com o biquíni.

Arregalei os olhos e senti minha boca escancarar.

- Agora complicou. - Edward finalmente percebeu que a situação não era tão engraçada.

- Odeio crianças. - Rosnei.

- E elas odeiam você.

O fitei não crendo que teve coragem de fazer tal comentário.

- Foi só uma observação. - Defendeu-se. - Vamos pedir ajuda.

Edward acenou na esperança de sermos socorridos, infelizmente nossos amigos estavam distraídos e distantes demais para ouvirem qualquer coisa. Ainda mais com barulho das ondas batendo nos rochedos ali perto. De repente, Alice nos olhou, acenou de volta alegremente, e voltou-se para Emm, Jazz e Jully, os quais gesticulavam como se estivessem decidindo algo importante.

- Isso não está acontecendo comigo. - Choraminguei.




Edward nos girou outra vez, procurando um maior equilíbrio. Buscamos por ajuda nas proximidades, infelizmente não havia quem pudesse nos dar “uma mão”. Os poucos banhistas estavam muito distantes. Cheguei até a pensar que nos isolaram de propósito acreditando que estávamos fazendo alguma safadeza.

- Cadê? Onde está a minha “coisa boa”, o meu momento de sorte que vem logo depois do desastre? Sua teoria é a maior furada, Sr. Celebridade Instantânea. - Emburrei.

- As coisas não acontecem na hora que você quer, Bella. O dia ainda nem terminou.

- Besteira. - Sem querer fiquei analisando o rosto dele. - Hum... - Estreitei os olhos.

- O que foi?

- Depois que encontrar sua garota não podemos ficar nesse tipo de intimidade aqui não, hein? Não pega bem.

- Eu sei disso. - Respondeu com certa indiferença, voltando seu olhar para a praia.

Me arrependendo de ter dito tamanha asneira, fitei o mar e cada um ficou olhando para uma direção diferente. Passaram-se quase três segundos, então suspiramos simultaneamente. Foi um suspiro mais puxado para o lamento do que para o alívio.

Para não ruborizar, mudei rapidamente de assunto.

- Clima bom, né?

Edward me encarou meio confuso.

- O quê?

- O quê? O quê? - Me perdi, porém logo me achei. - Eu falei... do clima. Sol, mar, etc... Não de nós colados aqui... semi-nus. - Fiz uma careta.

É, eu devia ter ficado no “O quê? O quê?”

- É assim só comigo?

- Seja mais claro.

- Você sabe... - Pareceu se arrepender de ter começado a pergunta. - Beijo e outras coisas. - Olhou rapidamente para o meu corpo.

- Claro que não. - Ri, desconcertada. - Isso acontece comigo e Emmett o tempo todo. - Menti e meu sorriso sumiu. - É bem coisa de amigos. - Desviei o olhar.

- Entendi e ao mesmo tempo não.

- Ed, vai buscar alguma coisa para eu vestir. - Preferia ser arrastada pela praia inteira nua a ter que continuar a conversa.

- Já volto. - Nadou para a praia e eu cobri o busto com as mãos, mesmo sabendo que a água escondia meu corpo.

Me concentrei nas ondas e pouco tempo depois senti uma presença.

- E aí? - Brad me lançou seu sorriso 171. Ele estava há um metro de mim. - Ajuda? - Mostrou a camiseta preta com o logotipo da banda.

- Joga. - Exigi emburrada.

Será que ele ficou nos observando o tempo todo?

- Não sei não. - Brincou. - Prefiro você de topless.

- Vai pro... - Fiquei indecisa, havia tantos lugares que queria mandá-lo. - Pro raio que o parta!

O idiota apenas riu.

- Toma, Bells. - Jogou a camiseta. - Não esqueça de me agradecer depois.

Nadei até alcançá-la e a vesti bem rápido. A barra da camisa ficou flutuando, mas conforme eu saia da água ela grudava ao meu corpo.

Caminhei em direção aos guarda-sóis e encontrei Ed no meio do caminho. Ele segurava a parte de cima do meu biquíni e não falou nada quando lhe tomei a peça. Continuei andando deixando-o para trás, só que após dar cinco passos, olhei para trás e notei que ele continuava no mesmo lugar. Edward respirou fundo, fitando o horizonte.

Imediatamente me perguntei se ele teria ficado chateado por eu ter aceitado a ajuda de Brad ao invés de esperar a dele. Oras, era questão de necessidade. Então refleti por cinco segundos e cheguei à conclusão de que Edward não ficaria ressentido por uma bobagem. Ainda mais uma bobagem que envolvia a mim.

Assim que abandonei os questionamentos inúteis fui até ele e cutuquei suas costas. Ed virou-se e disparei a falar.

- Obrigada por me salvar da humilhação. - Sorri querendo manter o clima amistoso. - Quer que eu te ajude com as fãs? Você sabe que eu, Bella-Bill, sou melhor com as garotas do que os rapazes. - Girei o biquíni no ar. - Vamos lá, vai ser divertido, princeso. - Fui sincera em cada palavra.

Edward ficou me encarando com os olhos semicerrados. Havia de fato um ressentimento, mas não conseguia compreender a origem disso. Então, sem falar nada, ele saiu deixando-me no vácuo.

- E lá vamos nós de novo. - Murmurei por entre dentes.

Girei o corpo e corri para alcançar o esquentadinho. Sem avisos, pulei em suas costas. O selvagem se desequilibrou, mas não foi ao chão. Com as pernas e braços em volta de seu corpo, sussurrei junto ao seu ouvido:

- Perdeu a noção do perigo, rapá? Agora vai chover dor! - É claro que eu estava brincando. - Só porque agora você é famoso vai ficar fazendo manha? - Ri.

- E eu estou em posição de fazer manha?

- Ôôô se tá!?

Edward não conseguiu ficar sério.

- Fiquem parados! - Alice veio correndo armada com a câmera digital. - Digam: eu vim de Kombi.

- Eu vim de Kombi. - Falamos juntos e ela tirou uma foto.

Eu fiz careta mostrando a língua e Ed saiu com cara de quem estava pensando: onde me meti?

(...)

- Você tem certeza que quer fazer isso? - Indaguei para Jasper.

- Fica na tua, Bella. Jasper sabe o que está fazendo. - Ele tirou a camiseta e Emm, Alice e eu gememos de desgosto.

- Se ele diz que sabe... - Ed cruzou os braços, louco para ver se meu irmão sabia mesmo subir em um coqueiro.

- Jasper já fez isso antes. - Amarrou uma corda na cintura, mentindo descaradamente. - Jasper vai tirar aquele cacho de cocos sem derrubar nenhum. - Apontou.

Olhei para cima e fiz uma careta, prevendo a merda que o PhD em escrotice ia fazer. Jazz, determinado a levar os cocos para casa, pôs a faca entre os dentes, se achando o Rambo. Então, se agarrou ao tronco e foi escalando a porcaria parecendo um macaco.

- Vai indo. - Emmett apoiou. - Vai indo que eu sei que tu adora se agarrar num pau.

Jasper grunhiu sem poder responder.

- Não existe uma música sobre isso? - Lice riu.

Com esforço e muito suor, o idiota chegou à metade do coqueiro. Então, quando vimos que ele estava pensando em desistir, resolvi dar um apoio moral.

- Vai tre... pan ...do! Vai tre... pan ...do! - Puxei o coro e Emmett me acompanhou.

Jazz grunhiu alto, totalmente vermelho de raiva. O incentivo deu certo e ele alcançou o cacho de cocos. O mongo envolveu o tronco com as pernas, ficando suficientemente seguro para soltar uma das mãos e com ela amarrou a outra ponta da corda no cacho.

- Não é que ele vai conseguir?! - Comentei espantada.

- Há! Há! - Debochou de nós se achando o sabichão.

O cacho possuía uns oito cocos grandes e eu fiquei louca de vontade de provar um deles.

- Corta logo o cacho. - Emm opinou.

Jazz deu uma última verificada no nó da corda em sua cintura e começou a cortar a parte do coqueiro que sustentava o cacho.

- Eu não quero nem ver. - Ed murmurou, balançando a cabeça.

- Por quê? - Perguntei.

- AAAAAAAAAAAHHHHHHHHH! - O cacho pesado despencou e meu irmão, agarrado ao tronco, veio deslizando com rapidez. - AAAAAAAAHHHHHHHH!

Não deu tempo de agirmos, o imbecil caiu na areia com o peito e os braços arranhados, na verdade, quase em carne viva. Fizemos um círculo em volta dele e Edward falou:

- Ele é mesmo seu irmão. - Fez um enorme esforço para não rir.

- Tá ardendo... - Jazz soltou uma série de palavrões.

- Rápido, vamos levá-lo para o mar. - Lice ficou aflita.

- E terminar de matar? - Ironizei.

- Ah, é. Água saldada. - Ela se entristeceu.

- Pelo menos os cocos estão intactos. - Emmett ergueu o cacho.

Preocupada, fitei o selvagem com um olhar suplicante esperando ele ter uma ideia.

- Tudo bem, Bella. Jasper é forte. - Colocou uma mão em meu ombro e Jasper começou a chorar alto. - Talvez não. - Suspirou.

(...)

Lavamos os ferimentos do meu irmão com água mineral e ele ficou em baixo de um guarda-sol, com a maior cara de choro.

Emmett abriu um dos cocos para mim. Coloquei dois canudinhos e o estendi para Jasper, dizendo:

- Vai uma aguinha de coco?

Ele me encarou por um segundo, então voltou a chorar.

- Socorro. - Toby chegou junto.

- O que foi?

- Entalei. - Seu lábio inferior tremeu por causa do choro contido.

Olhei para a bóia infantil em volta da sua barriga e gemi de desgosto, imaginando como ia livrá-lo daquilo.

(...)

10 MINUTOS DEPOIS...


- Murcha... a... barriga! - Arfei, ainda tentando puxar a bóia para cima.

- Eu... tou... murchando! - O coitado gemia, com o rosto coberto de lágrimas.

Impaciente, tentei rasgar a bóia, só que o plástico era muito grosso. Era uma bóia muito resistente.

- Aaahhhh! - Usei toda a minha força e a maldita nem se moveu.
Talvez o plástico tivesse grudado nas banhas do garoto. - Que raiva!

- Vamos untá-lo com manteiga. - Alice gargalhou. - Só que não temos manteiga.

- Já chega. Vou usar a faca. - Decidi.

- Não acho seguro. - Edward só assistia.

- Eu tenho quase 10 anos de idade... - Toby começou a chorar alto. - E nunca passei por uma humilhação tão grande. - Suas bochechas cheinhas ficaram ainda mais vermelhas.

- Taí uma coisa que eu duvido. - Retruquei.

- Meu Deus do céu... - Chorou ainda mais alto e os banhistas que passavam por nós riam a valer. - Se eu sair dessa bóia... - Fungou. - Nunca mais vou tirar fotos da minha bunda e mandar para estranhos pelo correio. Nunca mais vou roubar a dentadura do meu avô pra brincar de vampiro. - Estrebuchou aos prantos. - Nunca mais vou passar trote para minha professora e perguntar: é da casa do Miro? E ela diz: que Miro? - Fungou outra vez. - Aí eu respondo: miro o meu pin... - Tapei-lhe a boca. - No seu c... - Lutou para continuar. - E dou um tiro. - Desvencilhou-se.

- Muleque, tu vai arder no inferno. - Alice passava mal de rir.

- Não tem jeito, Toby. Vai ter que esperar chegarmos em casa. Se um dos caras for tentar arrancar a bóia, você pode se machucar. Acho que ela que está pregada na sua pele. - Dei o veredicto.

Ele caiu de joelhos, depois se atirou contra a areia, mas a bóia impediu que seu rosto tocasse o chão.

- Vamos empurrar só pra ver o que acontece. - Emmett saiu empurrando o gordinho pela praia, o qual chorava girando e girando dentro da bóia.

(...)

Ao cair da tarde, subimos até o farol, pois aquele era um ponto turístico que não podíamos deixar de visitar. Os hóspedes ficaram entretidos com a beleza do farol e a linda vista. Já meus amigos, brincavam, fingindo que iam pular do penhasco.

- Vamos ver se você sabe voar, Jasper. - Emmett esticou os braços como se fosse lhe empurrar, e antes mesmo de Emm tocá-lo, meu irmão berrou feito uma mulherzinha.

- Deixem de bobagem. - Cruzei os braços, com os olhos no majestoso horizonte.

- Ei. - Brad, junto com o Link 69, veio até nós. - Que tal uma aposta? - Sorriu, provocando.

- Depende. - Emmett se interessou.

- Quem pular daqui e chegar primeiro na praia vence. - Trocou olhares com sua banda.

- Tou fora. - Meu amigo amarelou.

- E o grande rei da floresta? - Fitou Edward, o qual estava há uns dois metros de nós, sentado no gramado, presente só de corpo.

- De quanto estamos falando? - Alice se meteu na conversa.

Brad pensou um pouco.

- Quinhentos.

- Não. Mil. - Jasper lembrou do dinheiro que devíamos ao agiota.

- Ele vai pular? - O baterista duvidou, apontando para Ed.

- Rola, T-zed? - Emm se animou.

- Não. - Edward disse como se não estivesse dando a mínima para a nossa conversa.

- Deixem ele em paz. - Pedi.

- Sendo assim, qual de vocês vai pular daqui de cima comigo? - Meu ex me desafiou com o olhar.

Me aproximei da beirada do precipício e analisei as águas turbulentas que engoliriam qualquer um que mergulhasse nelas.

- A maré está alta. Não dá para ver os rochedos, é suicídio. - O selvagem alertou.

- Ele tem razão. - Concordei, voltando para o meu lugar.

- Qualé, amigo? Você morava na selva. - Brad revirou os olhos, mostrando que não acreditava naquela história. - Isso aqui pra você é moleza. Nós confiamos na sua coragem. - Foi ridiculamente sarcástico.

- McFadden, pica a mula! - Ordenei.

- Mil e quinhentos. - Ele murmurou teatralmente, tentando-nos.

Eu precisava recuperar o dinheiro que roubei para comprar o terno de Edward, talvez aquela fosse a minha chance. Já tinha pulado daquele penhasco antes, podia fazer de novo.

- Não temos essa grana pra apostar. - Procurei tirar vantagem.

- Na verdade, temos sim. - Emmett se intrometeu e quase dei na cara dele.

- Eu pulo. - Edward avisou, surpreendendo-nos. - Mas, quero os mil e quinhentos e o seu carro.

Sorri, prevendo que meu ex ia dar pra trás. Não tive dúvidas de que Edward falara aquilo com a intenção de fazer Brad baixar a bola.

- Não vale a pena. - O baixista tentou convencer seu amigo.

Brad ficou encarando Edward, nitidamente o odiando por ter invertido a situação. O imbecil não queria sair como covarde. Esperamos o desfecho da ridícula disputa de testosterona, sentindo que os olhares que trocavam era a corda de um cabo de guerra.

- Tudo bem. - McFadden ergueu a cabeça.

O selvagem subestimou a coragem do meu ex e agora estava preso às suas próprias palavras.

- Vamos deixar de criancice. - Ri sem humor.

- Bella tem razão. Chega dessa bobagem. - Jully tentou me ajudar.

Edward respirou fundo, em seguida, ficou de pé.ttt  

- Rock'n'Roll! - O baterista “colocou pilha”.

(...)

Fiquei em um canto, emburrada porque Edward não me deu ouvidos. Até mesmo Jully insistiu para ele não embarcar nas patetices de Brad, infelizmente o cara estava determinado a manter a aposta.

Enquanto os dois suicidas assumiam suas posições em uma linha de largada improvisada, me perguntei quais seriam os verdadeiros motivos que estavam levando Ed a peitar Brad daquela forma. Seria mesmo só por orgulho e dinheiro? Não me parecia típico dele, mas... eu não o conhecia tanto assim.

- Relaxa, a disputa vai ser para ver quem desiste primeiro. Garanto que nenhum dos dois vai pular. - Alice passou o braço envolva dos meus ombros.

- Huhum. - Me esforcei para acreditar.

- T-zed está tentando recuperar o dinheiro que gastamos com ele ontem. Acho que se sente mal por causa disso.

Edward e Brad ficaram há dez metros da beira do precipício. Ambos pareciam tensos, e nem mesmo o incentivo vindo dos rapazes e dos hóspedes foi capaz de levantar o astral deles.

- Prontos? - O baterista se preparou para sacudir sua camiseta a fim de anunciar a largada.

- Ainda dá tempo de agirem como adultos. - Gritei e fui ignorada.

- No três, hein? 1...

O baterista começou a contar e senti um espasmo no peito. Eu estava com mau pressentimento. Edward trocou um rápido olhar comigo e voltou a se concentrar.

- 2... 3!

Eles dispararam em igualdade. Todos gritaram incentivando, mas eu não consegui reagir. No entanto, ao chegarem perto da beirada do penhasco, Brad deteve-se e Edward pulou sozinho.

- Nããããããoooooo! - Lice e eu berramos correndo até lá.

Em um piscar de olhos, fiquei rodeada por meus amigos, a banda e mais alguns curiosos.

- Cadê ele? - Jully gritou.

Não conseguíamos ver nada além da espuma do mar.

- Que cara maluco. Eu estava só zoando, pular com a maré assim é morte certa. - McFadden estava mentindo. Ele havia se acovardado.

- Estou vendo ele. - Emmett apontou.

Olhamos na direção que indicava e enxergamos só a cabeça de Edward. Sorri, aliviada, mas isso durou pouco, pois uma onda enorme o arrastou para junto do penhasco e não conseguíamos mais vê-lo. Como já estive ali antes, sabia que aquela região era cheia de rochedos pontiagudos e mortais.

- Façam alguma coisa! - Berrei desesperada.

Todos sabiam que se Ed tivesse se chocado contra as rochas, os ferimentos poderiam ser fatais.
tttttttttttttttt   
Os deixei discutindo e, na atitude mais impulsiva da minha vida, tomei distância, corri rumo ao precipício e simplesmente pulei, deixando para trás um coro de gritos alarmados.


(Continua...)

Próximo Capítulo Aqui!

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