Novo Namorado
Narração - Bella:
Senti que alguém me carregava, mas não tive coragem de abrir os olhos para ver quem era. Podia ser Brad e, definitivamente, eu morreria se fosse. Exagerei na interpretação e praticamente me fingi de morta, até prendi a respiração. Fiquei assim até todas as vozes sumirem e eu só ouvir o tagarelar de Alice, resmungando sobre seus problemas cardíacos.
- Por aqui! Por aqui! - Abri um olho e vi minha sócia escancarar a porta do meu quarto.
Olhei para cima e, ao perceber que o cara da selva é quem me carregava, sobressaltei assustada e desabei no chão, levando comigo sua toalha. Nervosa, ajoelhei-me rapidamente e fiquei frente a frente com “seu lado primitivo”, que era um tanto intimidador. Então, expirei forte, soltando todo o ar pela boca.
-Está soprando velinhas, Bella? - Lice zombou. - Devo tirar uma foto?
- Quantas vezes ainda vou precisar te cobrir? - Resmunguei, enrolando novamente Edward na toalha.
- Você estava fingindo? - A tonta havia demorado para perceber. - Quase enfartei!
- Claro, não estou suportando a pressão. Viu quem está lá fora? Brad ficará aqui por semanas. - Levantei-me.
- Eu vi, mas não sabia que era a banda dele que Jazz contratou.
- Eu queria desaparecer. - Joguei-me na cama. - Ficar invisível. Não consigo olhar para Brad sem... aiii...- Rosnei, depois enfiei a cara no travesseiro. Ouvi a porta do quarto bater e não precisei olhar para saber que Edward tinha ido embora.
- Fica fria, vai dar tudo certo. - Alice afagou meu cabelo.
- Me diz como. - Olhei para ela sem esperança.
- Continua se fingindo de doente e fica aqui o resto do dia. Pensaremos em algo.
Após o almoço, Alice e os outros foram para o Sea World, deixando a dona Bogdanov e Edward ao Deus dará, pois não tive ânimo para sair do quarto. Dormi um pouco e quando acordei falei rapidinho com meu pai por telefone. Mesmo com saudades, não queria prolongar a conversa e deixá-lo perceber a melancolia por trás de minha voz.
Por volta das 18:00h, saí do quarto e procurei Edward pela mansão inteira, mas nem sinal do sujeito. Liguei para Jazz e descobri que ele e meus amigos também não sabiam do paradeiro do cara.
Carregando uma sacola de roupas, continuei procurando-o em todos os lugares possíveis. E foi na parte do jardim mais afastado da casa, o lugar menos provável, que o encontrei.
Olhei para a escada que construímos na árvore e me perguntei se aquilo ainda era seguro. A casa de madeira ficava há uns dois metros do chão. As tábuas cravadas no tronco pareciam um tanto desgastadas. Sabia que Edward estava dentro da nossa casa na árvore, pois via claramente a luz de uma lanterna.
Receosa, subi os degraus com cuidado. Fazia muito tempo que não entrava na casa. De pé, na entrada, admirei as paredes onde ainda havia alguns quadros que Jasper pintara quando criança. Num canto, resistia ao tempo uma foto de nossa turma em um porta-retrato em cima de uma mesinha verde. Estudei o lugar, dividida entre o passado e o presente, até que avistei Edward deitado em um saco de dormir. Aproximei-me devagar e percebi que a bagagem dele também estava ali. Ele pretendia morar na casa da árvore?
Desconfortável, sentei-me há meio metro de Edward, o qual se sentou também, fitando-me, curioso.
- Olá. - Falei bem devagar. Então, me lembrei que precisava escrever e assim o fiz. Exibi o bloco para ele, mas o homem ficou indiferente. Depois de tanta confusão, eu queria fazer as pazes e garantir minha sobrevivência, pois o sujeito devia me odiar por tê-lo esquecido no supermercado e o impedido de passear por aí como veio ao mundo.
Edward continuou a me encarar, o que me dava calafrios. Ainda assim, prossegui com meu plano, tirando de dentro da sacola uma blusa de mangas compridas e uma calça que roubei do meu irmão. Queria que ele entendesse que não podia ficar andando pela casa só de bermuda ou pelado. Peguei o bloco de notas na sacola e escrevi:
Presente.
O cara pegou a blusa e a cheirou, estudando-a. Fiquei feliz com nosso progresso.
- Muito bom. Veste, vai ficar legal em você ou - com brutalidade, arrancou as mangas da blusa. - Ou pode rasgar tudo, seu cretino do mato, desgraçado. - Ele parou e eu sorri, como se tivesse dito a coisa mais gentil do mundo.
Joguei a calça para o lado, sabendo que ele ia acabar com ela também. Ia transformar as roupas bacanas nos trapos que estava acostumado a usar.
Sem tirar os olhos de mim, Edward puxou para si uma mochila velha e enfiou a mão dentro dela erguendo uma sobrancelha. Fiquei tensa e me perguntei se seria possível ele ter entendido os xingamentos. Devagar, me arrastei um pouco em direção a saída, na esperança de fugir antes que me agredisse. De repente, Edward levantou-se abruptamente e eu não consegui me conter.
- AI, SAI DE PERTO! - Corri para a porta. Nervosa, tentei descer rápido os degraus mas não saí do primeiro, pois o cadarço do meu tênis ficou preso entre um prego e a tábua. Puxei o pé com toda força e não consegui me soltar. Metade do meu corpo ficou dentro da casa e a outra metade fora.
Edward veio em minha direção com o punho cerrado e eu tive certeza de que ia apanhar. Afobada, chacoalhei o pé tentando soltá-lo e tudo o que consegui foi me desequilibrar e acabei caindo para trás. Na verdade, fiquei pendurada de cabeça para baixo, já que o cadarço continuou preso.
Olhei para um lado, olhei para o outro, e não havia uma alma viva para me ajudar.
- Ah, droga! - Choraminguei.
Com esforço, me curvei, tentando alcançar meu pé, mas não conseguia ficar naquela posição tempo suficiente para me salvar. Derrotada, joguei o corpo para trás e comecei a gritar:
- SOCORROOOOOOO! - Olhei para cima e vi Edward na porta com uma faca na mão. - O que você vai fazer, seu maluco? SOCORROOOOOO! - Ele baixou-se o colocou a lâmina junto ao cadarço. Arregalei os olhos. - NÃO CORTE! NÃO! NÃO! NÃO! - E ele cortou.
Despenquei. Podia ter quebrado o pescoço... sei lá. Por sorte isso não aconteceu. Talvez ele soubesse disso, mas machuquei cabeça, costas, braços, dignidade...
- Aiiii. - Gemi sem conseguir me mover. Fechei os olhos para morrer e só os abri quando senti alguém próximo a mim. Edward ajoelhou-se e levou o punho fechado até o meu rosto. - NÃÃOOO! - Consegui gritar, mas ele não me bateu, apenas abriu a mão, perto dos meus olhos e nela havia uma pedra branca do tamanho de um limão. - Uma pedra? - Murmurei sem acreditar. Ele só queria me dar aquilo? Talvez achasse que também tinha que me dar um presente. Não sabia se ficava com ódio dele ou de mim. - Que coisa mais - peguei a pedra querendo dizer: idiota, babaca, inútil e ridícula. - Linda. - Sorri sem vontade. Afinal, eu que não ia bater de frente com o selvagem.
Ele foi embora e eu joguei a pedra longe. Depois, rastejei até o meu quarto.
Fiquei boa parte da noite colocando compressa nos machucados e tomei algumas aspirinas, as quais me doparam completamente.
- Acorda, dorminhoca. - Ouvi o sussurro junto ao meu ouvido. - Aqui é sua consciência, precisamos trocar uma palavrinha. -
- Consciência? - Murmurei abrindo os olhos e percebi que era apenas a Lice. - Me deixa em paz, estou um caco. - Escondi o rosto no travesseiro.
- É por isso mesmo que eu trouxe o kit de sobrevivência.
Sentei-me imediatamente.
- O kit de sobrevivência? Estou tão mal assim? - Ofeguei.
- Está. - Ela sentou-se de frente para mim, colocando a caixa em seu colo. - Pronta?
- Sim. - Fui corajosa.
Alice abriu a caixa de madeira vermelha e dentro havia um litro de vodca, dois copos pequenos, um CD da Avril, pirulitos em formato de coração e um corretivo facial. Nós havíamos inventado aquele kit quando tínhamos 16 anos. Usávamos apenas quando as coisas ficavam pretas, o que era o meu caso.
- Não vou deixar você se afundar em suas próprias trapalhadas. Precisamos tocar o resort e você não pode deixar a presença de Brad literalmente matar você. - Apontou para o curativo na minha testa. - Hora de acordar, baby. - Encheu os copos de vodca, me entregou um e ergueu o seu, exigindo um brinde. - Repita comigo: hoje será meu dia de sorte.
- Hoje será meu dia de sorte! - Virei o copo com tudo e Lice me acompanhou. Depois, enfiamos os pirulitos na boca e usei o corretivo para dar um jeito nas minhas olheiras ao som de Avril.
Alice, como uma super-amiga, arrumou meu cabelo deixando-o preso em um belo rabo de cavalo e me passou boas energias enquanto eu me trocava.
Eu não tinha dinheiro, não possuía bens, não era dotada de talentos e meu futuro era incerto, porém, tinha uma das coisas mais importantes do mundo: amigos.
Alice me conduziu até o jardim para que eu respirasse um pouco do ar puro da manhã, mas, antes que atravessássemos a porta, falou:
- Repita: meu dia vai ser maravilhoso e só coisas boas vão acontecer comigo.
- Qual é a sua? Virou hippie como o Jazz?
- Re. Pi. Ta! - Falou alto.
- Tá. Bom! - Respondi no mesmo tom. - Meu dia vai ser maravilhoso e só coisas boas vão acontecer comigo. - Sorri.
Então, atravessamos a porta.
- CUIDADOOO! -Alguém gritou, só que foi tarde demais para desviar da bola que atingiu meu rosto.
Desabei imediatamente. Minha face ardia e não consegui sentir direito meus lábios e nariz.
- Você está bem? - Brad se aproximou. Tonta e com a visão turva, sinalizei com o polegar.
- Ai, minha nossa! - Alice me ajudou a levantar. Tive dificuldade para ficar de pé.
- Caramba, sua cara está vermelha. - O idiota comentou, quase rindo.
- Imagina - murmurei, fingindo-me de forte. - Quase não doeu. Não foi nada!
- Bella, o seu rosto está... - Alice fez careta.
- Está o quê? - Fiquei confusa. Corri até a porta e, através do reflexo no vidro, estudei meu rosto. - AAAAIII, NÃÃO! - Minha cara estava inchando muito rápido, principalmente os lábios. - Quis sentar e chorar.
- Calma, Bells, não está tão... - Brad agarrou meus ombros, fazendo-me encará-lo. - Esquece. - Deu um passo atrás.
- Vou buscar gelo. - Lice saiu correndo e eu fiquei no centro do meu inferno pessoal.
- Então... - Jogou a bola de vôlei de volta para os amigos. - O que tem feito da vida? - Mudou de assunto.
- Nada, só... inchando. - Balbuciei com dificuldade. Meus lábios estavam ficando maiores do que os da Angelina Jolie.
- É estranho ver você mais velha - riu. - Por algum motivo, ainda parece a virgem de 17 anos.
Estreitei os olhos e soltei os cachorros em cima dele. Falei poucas e boas. Infelizmente, o maldito não entendeu nada, pois meus lábios enormes tornaram as palavras incompreensíveis.
- Voltei. - Alice, percebendo que eu estava irada, tapou minha boca com o saco de gelo. - Ela está reclamando da dor. Coitadinha. - Sorriu falsamente.
- Ah. - Brad franziu o cenho.
- Do que estavam falando? - Perguntou, ainda pressionando o saco contra minha boca.
- Nada demais, só perguntei o que ela tem feito da vida.
- Bella não te contou?
- Contou o quê?
- Ah, Bella, eu adoro uma fofoca, eu preciso contar! - Piscou o olho para mim e fiquei totalmente perdida. - A perigosa aqui está namorando. Sabe como ela é... não consegue ficar sem um homem. Eu disse “Bel, dá um tempo, mulher, sossega o facho”. Mas é impossível detê-la quando está apaixonada.
Grunhi em protesto.
- Apaixonada? - Brad pareceu não acreditar.
- Sim.
- E cadê o sortudo?
- Bem... - A voz dela tremeu e ficamos com a corda no pescoço. - Ele... está... está... ali! - Apontou. Brad e eu olhamos para a direção que a doida indicou e avistamos o hóspede coroa que curtia me paquerar. Ele caminhava pelo jardim tirando fotos de Edward, que entalhava a ponta de um cabo de vassoura preparando uma lança. Ai, caramba! Uma lança?
- Qual dos dois é namorado dela? - Questionou Brad.
Mesmo sem conseguir falar direito, apontei para o tiozão e balbuciei:
- É o...
- Barbudo. - Alice me atropelou. Solucei tão alto que meu peito doeu.
- Ah, tá. - McFadden analisou o cara da selva. Dei graças a Deus por ele não saber as origens de Edward. Ia ser vergonhoso. - Então, ninguém vai me apresentá-lo? - Brad saiu ao encontro de Edward e eu corri para dentro de casa, só que Lice me alcançou e me arrastou de volta para o jardim.
Grunhindo e soluçando, fui obrigada a seguir meu ex-namorado. Será que minha amiga não via o desespero estampado em meus olhos arregalados? Aquilo ia dar merda!
- E aí, tudo bom? - Meu ex parou bem na frente de Edward, bloqueando sua passagem. Alice e eu trocamos olhares tensos, afinal, o selvagem estava com uma faca e uma lança. Ia ser um massacre.
Rapidamente, nos posicionamos dos dois lados dele e rezamos para aquilo não acabar em chacina.
- Edward, amigão, esse é Brad McFadden. - Minha sócia tentou fingir naturalidade. O anormal fincou a lança no chão com força. Eu quase me mijei de medo.
- Muito prazer. - Meu ex estendeu a mão para cumprimentá-lo. Quando vi que Ed se preparava para pegar no pênis de Brad, subitamente o abracei, imobilizando seus braços.
- Oh, isso não é lindo? - Alice improvisou, tão nervosa quanto eu. - Ela não consegue ficar longe dos braços dele. Queria um amor assim para mim.
- Como se conheceram?
Porra! Por que o cretino estava perguntando tanto se Edward e eu nem podíamos falar? Soltei meu suposto novo namorado e ele me olhou como se eu tivesse matado várias tappa kanas.
- Eles... se conheceram ... no... - A filha da mãe se perdeu na própria mentira. Totalmente desesperada, apelei para a mímica. Desenhei um triângulo invisível, na intenção de dizer que nos conhecemos em uma igreja. Queria fazer Edward parecer um bom moço, por isso insisti no triângulo, mesmo não sendo boa de mímica. - Foi num... - Alice tentou entender meus sinais. - Monte! - Concluiu. - É, me lembro muito bem. - Derrotada, pendi a cabeça, muito chateada.
- Num monte? - Brad estranhou. - Que monte?
- O Everest. - A maluca terminou de me enterrar.
- Você esteve no monte Everest? - McFadden me encarou incrédulo. O que eu podia fazer? Confirmei com a cabeça. - E o cara aí perdeu a língua por lá? - Pronto. Fedeu!
- Esse é um assunto muito delicado. - Minha quase ex-amiga pôs a mão no ombro do selvagem. Inclinei a cabeça, pensando em como fugiria dali. - Edward sofreu um acidente muito grave enquanto escalava o Everest e...
- Espera aí! - O tiozão, que até aquele momento só observava, meteu o nariz onde não foi chamado. - Está dizendo que este homem escalou o monte Everest?
Solucei.
- Sim. - A mentirosa tentou passar convicção. - Três vezes.
Pronto, morri!
- Que coisa mais... - Brad ficou sem palavras. Dava para notar que não acreditava totalmente na história.
- Como eu estava dizendo... Ele sofreu um acidente, foi uma avalanche terrível! Os alpinistas da equipe dele morreram. Só Ed sobreviveu, e por isso, enquanto estiver de luto, permanecerá em silêncio para homenagear seus companheiros. Eu acho isso tão puro. Admirável! - Ela fingiu enxugar uma lágrima no canto do olho.
Brad e o tiozão analisaram Edward, cuja expressão era de pura perplexidade.
- Então... tá. Foi um prazer conhecê-lo, alpinista. - McFadden acenou e sorriu. - Vou tomar um banho, daqui a pouco a banda vai ensaiar. Espero que curtam o show de logo mais.
Alice e eu respiramos aliviadas quando meu ex se foi.
- Que outro monte esse homem escalou? - A droga do tiozão ainda estava interessado.
Sem cerimônias, puxei minha amiga para dentro de casa e deixei que Ed descontasse sua ira no hóspede curioso.
Passei vinte minutos trancada no escritório com Lice. Esperamos o gelo desinchar o meu rosto e então finalmente pude gritar:
- Você está drogada? Bêbada ou possuída? Por que falou tudo aquilo? - Chacoalhei-a pelos ombros.
- Estava salvando sua pele. Por acaso você queria que o Brad soubesse que ficou encalhada desde que ele te chutou? Eu fiz o que era certo!
- Jura? - Quase a esganei. - Namorado? O selvagem? Everest? Seu problema do coração subiu para a cabeça?
- Ah, eu... - Riu timidamente. - Improvisei, né? Eu sei que o Everest foi um exagero, mas eu não sabia o nome de outro monte e também meio que explica o visual maltrapilho dele... eu acho. Por favor, não se desespere.
-Não me desesperar? - Coloquei as mãos na cabeça. - Por que escolheu o cara da selva? Eu preferiria mil vezes o tiozão, ao menos ele fala! - Mordi o punho fechado.
- Na hora eu não pensei nisso. - A pilantra se escondeu atrás de uma almofada. - Foi mal.
- Alice, você me colocou nessa furada e vai me tirar. Do contrário, vai acordar amanhã careca e sem dentes! - Eu estava falando sério.
- Calma, vamos dar um jeito. Pensa no lado positivo, Edward não pode nos desmentir já que não fala. - Sorriu.
- Não interessa. Nunca vai parecer que somos um casal, além disso, o cara, neste momento, deve estar preparando aquela lança para nos empalar.
Mal terminei de falar e ele entrou pela janela, nos matando de susto.
- LASCOU! - Lice berrou.
Instintivamente, me armei.
- Não chegue perto, eu tenho uma... - Olhei para minha mão e choraminguei. - Caneta e não tenho medo de usar. - Retiro o que eu disse, não me armei e sim me estrepei.
- É. A caneta dela é mais poderosa que a sua espada. - E com essa citação, Alice se escondeu atrás de mim.
Edward pegou lápis e papel na escrivaninha, rabiscou e depois nos mostrou, sem se aproximar.
Explique tudo!
Estiquei bem o braço e também peguei uma folha na escrivaninha. Rapidinho, escrevi e exibi:
Só finja que é meu namorado, por favor.
Ele balançou a cabeça, ranzinza. Em seguida, escreveu:
Eu não minto!
- Qualé! Todo mundo mente. - Indignei-me. - Eu já devo ter mentido umas 50 vezes hoje. É normal.
O babaca escreveu em letras grandes:
EU NUNCA MINTO!
- E agora, espertinha? - Olhei para Lice.
Ela tomou o papel de minhas mãos e rabiscou:
Isso não é problema, você nem fala. Nós é que estamos mentindo.
- Sua doida, ele não vai topar porcaria nenhuma. Não está nem aí para nós. - Revirei os olhos.
- Edward deve querer alguma coisa. Vamos suborná-lo, é só por algumas semanas. Todo mundo tem o seu preço. Dá algo para ele.
- Dar? Não gostei de como isso soou. Dê você!
Alice me deu um tapa.
- Aiiii! - Esfreguei a bochecha.
- Concentra! Pergunte o que ele quer!
Contrariada, escrevi:
O que você quer para nos ajudar?
Edward ficou olhando fixamente para a folha e finalmente, respondeu:
Me deixem em paz.
Então, saiu pela janela tão rápido quanto entrou.
- O que isso significa? - Alice ficou confusa e eu também. - Ele vai nos ajudar se o deixarmos em paz, ou pediu para não o incomodarmos?
- Eu não faço idéia. - Enfiei a cara no papel.
Logo que meus machucados melhoraram, minha sócia e eu arrumamos a casa e os rapazes divertiram os hóspedes com jogos aquáticos. A empresa que Jazz contratou chegou bem cedo e montaram todo o esquema no jardim para a festança que começaria às 20:00h. Todos - exceto eu - estavam empolgados, loucos para festejar a abertura das férias até o Sol raiar.
Passamos horas ralando e pensando em várias maneiras de sustentar nossa desastrosa mentira, infelizmente nenhuma podia ser aplicada sem a ajuda do cara da selva. Por fim, resolvemos pedir a ajuda dos rapazes. Contamos tudo o que aconteceu e mais um pouco.
- Perguntinha. - Emm levantou a mão. - Por que a Bella iria para o monte Everest? Ela não tem equilíbrio nem para subir numa cadeira.
- Dá para se concentrar na parte mais importante? - Lice esbravejou.
- Precisam convencer Edward a me ajudar. Gente, eu não sei o que fazer! Se Brad descobrir a verdade vou embora dessa casa, não agüento mais humilhações! - Me joguei no sofá do escritório.
- Por que acha que Jasper conseguirá convencê-lo? - Perguntou meu irmão.
- Por favor, né? Você são homens... ou projeto de homens. É mais fácil se entenderem. Façam amizade com o esquisitão. Jazz, você me deve isso. Ao menos tente, pelo amor das suas calças boca de sino.
- Relaxem, Jazz & Emm vão resolver a parada. A gente consegue tudo! - Meu irmão levantou-se, confiante. - Cuidem dos hóspedes, nós vamos dar uma voltinha pela cidade com Edward.
- Levem um bloco de notas e caneta, vão precisar. - Alertei.
Narração - Jasper:
Já passavam das 15:00h quando fomos buscar Edward no jardim. Ele estava deitado no gramado, embaixo da casa da árvore.
- E aí, Ed, meu véi! Jazz quer falar com você. - Emm me empurrou na direção da treta.
Amedrontado, escrevi:
Jasper não quer mais pegar no seu pênis.
O maluco sentou-se, me olhando dos pés à cabeça.
- Convida logo ele. - Emmett me apressou, por isso, escrevi:
Quer dar uma volta com a gente, mano?
Ele pensou um pouco, depois confirmou com a cabeça. Com cautela, o levamos até o jipe de Emm, que estava estacionado fora da casa. O fizemos sentar no banco de trás e eu me sentei na frente, colocando um CD maneiro para tocar. Emmett deu a partida no seu carro e chegamos rapidinho a uma das avenidas principais.
- Véi, você vai se divertir muito hoje. Você curte filme pornô?
- É claro que não, seu idiota. - Emm me interrompeu- Ele morava na selva com os macacos ou sei lá o que... Como vai ter pornô no mato?
- Ah, é! - Fiquei admirado. - Cara, o que vamos mostrar vai mudar o mundo dele. - Olhamos para Ed e nossa gargalhada explodiu. - Precisamos dar um nome bacana para ele. Edward é muito chato.
- É verdade.
- Tem que ser um nome irado, selvagem. - Sugeri.
- Que tal, Tarzed? Não, não. Soa meio gay... Podíamos chamar só de T-zed.
- Show!
Logo escrevi:
Véi, teu nome agora é T-ZED!
Sem que eu esperasse, ele tomou o bloco de notas da minha mão e bateu na minha cara com ele.
- Acho que o mano não gostou muito. - Emm riu.
- Vou contornar a situação. - Troquei a faixa do CD do Guns N' Roses, e coloquei uma música especial para o T-zed. - Cara, essa é pra você. É doideira! - Coloquei no último volume e Emm pisou no acelerador.
Chacoalhando a cabeça, cantamos alto:
Welcome to the jungle (Bem-vindo à selva)
We got fun and games (Nós temos diversões e jogos)
We got everything you want… (Nós temos tudo o que você quiser...)
Olhei para trás e T-zed estava de braços cruzados, fazendo uma caretona como quem diz: hã?
- Emm... - O cutuquei. - Você acha que agora ele nos odeia ainda mais?
Meu amigo fitou o sujeito e respondeu.
- Nããão. - Ficou na dúvida. - De qualquer forma, ele vai nos adorar depois da sessão de cinema. Continua cantando.
Arrepiamos:
Welcome to the jungle (Bem-vindo à selva)
It gets worse here everyday (Fica pior a cada dia)
Ya learn to live like an animal (Você aprende a viver como um animal)
In the jungle where we play… (Na selva em que jogamos...)
Minutos depois, T-zed e eu já estávamos acomodados na sala do cinema pornô. O filme ainda não tinha começado e esperávamos Emm voltar com os lanches. O filho do Dr. Cullen olhava para o ambiente estudando-o e eu fiquei louco para saber o que se passava na cabeça dele.
- Voltei. Já vai começar? - Emmett, segurando três cervejas long neck e uma sacola de papel, sentou-se do outro lado de Edward.
- O que você trouxe? - Perguntei no momento em que as luzes se apagaram.
- Calma aí, deixa eu abrir minha cerveja.
Os créditos passaram rapidinho e logo o pornozão começou, com uma cena “barra pesada”.
- Vai te catar, me dá logo esse saco, Jasper tá com fome! - Estendi o braço na frente de T-zed querendo pegar a comida.
- Não faz isso, vai derramar tudo. - Emmett me empurrou.
O empurrei também e ficamos naquela disputa até T-zed usar seus braços para nos separar projetando a cabeça para frente, com os olhos vidrados no filme. Foi nesse momento que percebemos o quanto ele estava chocado.
- Nossa, olha a cara dele. Jasper nunca viu nada igual. - Murmurei.
- Saca só as expressões faciais que ele está fazendo. São muito loucas, véi. - Meu amigo tinha razão. O cara da selva hora parecia aturdido, hora curioso e também bestificado. Em alguns momentos, parecia até amedrontado.
Por um bom tempo, esquecemos de tudo e ficamos só observando-o, totalmente alheios ao filme.
- Tínhamos que ter gravado isso. - Balbuciei, perplexo. - É como ver o homem pisar na lua.
- Como é possível um cara de, sei lá... 22 ou 23 anos nunca ter visto pessoas fazendo sexo? - Para nós, aquilo realmente parecia anormal.
- Vamos deixá-lo curtir em paz. O que trouxe para comermos? Já deve estar frio.
- Salsichões no espeto e, como Bella falou que T-zed é vegetariano, trouxe um pepino para ele.
Passei as mãos no rosto, querendo voar no pescoço de Emmett.
- Seu idiota, olha onde nós estamos! Só tem homem aqui, o que vamos parecer segurando salsichões e pepino?
- Se continuar falando comigo nesse tom, vou esfregar esses salsichões na sua cara.
Irado, peguei a comida e a joguei longe.
- Aquilo foi caro! - O mané se irritou.
- Quem. Foi. O defunto. Que. Jogou. Salsichão. Em. Mim? - Um homem que estava sentado atrás de nós, levantou-se lentamente. Ao vermos que ele era um gigante musculoso, afundamos nas poltronas e simultaneamente apontamos para Edward.
Sem mais perguntas, o gigante socou a parte de trás da cabeça do T-zed. O impacto o fez bater a testa no acento da frente. Emmett e eu nos encolhemos ainda mais, quase borrando as calças.
O selvagem ficou de pé, chacoalhando a cabeça e encarou seu agressor.
(Continua...)
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