segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Capítulo 11

A Parceria de Edward e Bill




Narração – Bella:

Em uma lanchonete, Edward e eu dividimos uma pizza média de mussarela. Enquanto comia, me perguntava como poderia fazer uma garota se interessar pelo selvagem. Era provável que todas as mulheres tivessem a mesma impressão que tive no início: mendigo.

- Ed, você ficaria mais atraente se tirasse essa barba de homem das cavernas.
- Não estou com muita vontade. Além disso, quero que alguém se interesse por minha personalidade e não pela minha aparência.

- Ok. - Tive que prender o riso. Ele devia se achar um lindão. - Gostou dos seus óculos? - Não o tirou do rosto nem para comer.

- Sim.

- Que bom. - Fiquei satisfeita em poder presenteá-lo. - Então... - Mordi um pedaço da pizza. - Me fala mais sobre sua mãe. Não vê ela desde quando?

- Desde que me levou para a ilha. - Respondeu com uma estranha indiferença.

- Espera. - Fiz os cálculos rapidamente. - Está me dizendo que não tem notícias da sua mãe há quinze anos?

- Sim.

- Uau! Como se sente em relação a isso?

Edward deu de ombros, bebeu um pouco de chope e olhou para o movimento da lanchonete, mostrando que não estenderia o assunto.

- Não gostei dessa Sarah Cullen. - Comentei, solidária com a provável dor dele.

- Ela nunca possuiu Cullen em seu nome. Sempre foi só Sarah Ryan.

- Ah... - Assenti absorvendo a informação. Então, me lembrei que aquele nome era muito conhecido.  - Espera. Está falando da grande estrela Sarah Ryan? - Embasbaquei.

- Como? - Ficou confuso.

- Oh, meu Deus! - Não podia ser verdade. - Como ela era fisicamente?

- Loira, olhos azuis, bonito sorriso... engraçada.

- Ai, caramba! - Uma súbita histeria de tiete me atingiu em cheio. - Você é filho da Sarah Ryan! Eu não acredito! - Me virei para a mesa ao lado. - Ele é filho da Sarah Ryan! Da Sarah! - Apontei para Edward, praticamente quicando na cadeira. - Eu sou tão, tão fã dela! Sarah Ryan! - Não consegui mais parar de falar o nome da mulher. - Ed baixou a cabeça porque meus gritos de empolgação estavam incomodando os clientes da lanchonete. - Sarah Ryan. - Falei mais uma vez, ofegante.

- Vamos mudar de assunto? - Pediu baixinho.

- Seu bobo! - Quase bati nele. - Não está percebendo que sua mãe deixou de ser uma simples atriz de teatro e virou uma mega estrela do cinema? Ela estrelou as melhores comédias românticas do mundo. Eu trabalhei em uma locadora de DVD, via os filmes da Sarah o tempo todo.

- Não estamos falando da mesma pessoa. - Balançou a cabeça com desdém.

(...)

- Então, o que me diz agora?

Precisei levar Edward na locadora onde trabalhei para ele ver com os próprios olhos a capa de um dos filmes de sua mãe.

- É ela. - Confirmou em um murmúrio.

Pulei de alegria no meio do corredor da sessão de romance.

- Eu sabia! Eu sabia! O que vai fazer?

- Nada. - Colocou o DVD de volta na prateleira.

- Como nada? - Me revoltei. - Não vai procurar sua mãe?

- Não. - Respondeu com firmeza.

- Edward, o que foi? - Séria, toquei-lhe o braço.

- Ela sabia onde eu estava todo esse tempo. Se quisesse falar comigo teria me procurado. 

O pior é que ele tinha razão.

- Desculpe, eu me empolguei. - Olhei para a prateleira.

- Vamos? - Senti que ele estava pouco confortável ali.

- Não quero ser chata, mas preciso perguntar. Não quer ver nenhum filme da sua mãe? - Franzi o cenho, na dúvida se estava agindo corretamente. Edward ficou olhando para os filmes em silêncio. Quis saber que tipo de conflito existia na mente dele, mas minha curiosidade foi aplacada pelo olhar que lançou para mim. Com um simples gesto, pediu minha opinião e eu apreciei sua atitude. Foi bom me sentir útil. - Vamos levar este aqui. - Peguei o DVD. - É o meu favorito.

(...)

Levei Edward para casa. Durante o trajeto, falamos pouco, pois não quis perturbá-lo. Tinha certeza que ele absorvia lentamente o fato de que sua mãe era famosa.

Coloquei o filme no DVD player e corri para sentar-me ao lado do selvagem, no sofá grande da sala. Avancei rapidinho os trailers e os créditos inicias, mas deixei o filme rodar normalmente quando o título apareceu grande na tela.

- Amor à meia noite? - Edward fez careta para o título aparentemente meloso.

- É muito bom, eu garanto. Quando Alice e eu éramos adolescentes, assistimos umas mil vezes.

O cara cruzou os braços e voltou sua atenção para o filme.

A história era sobre um jovem idealista e de espírito livre que gostava de vagar à noite pelas ruas de uma cidade fictícia chamada Aurora. Uma noite, ele encontrou Hilíria, interpretada por Sarah. A mulher passava todas as madrugadas em uma ponte, esperando por um antigo amor que prometeu voltar para ela. Os protagonistas tornam-se amigos e passam a se encontrar apenas durante a madrugada. O jovem se apaixona por Hilíria, a qual não consegue retribuir seu afeto por estar irremediavelmente apaixonada por um andarilho. 

Apesar dos trechos cômicos, a história tinha um grande apelo dramático que fazia qualquer um se emocionar.

- O que está achando? - Indaguei.

- Me lembra uma das obras de Dostoievski.

- Nem sei do que está falando, mas também não precisa explicar. - Ri sozinha. - Sabe o que me incomoda? São essas personagens que ficam sofrendo por homens que nunca vão amá-las devidamente. Parecem sempre tão cegas. - Edward me encarou de uma forma estranha. - O quê? - Não entendi sua reação.

- Por que triângulos amorosos? - Ele revirou os olhos. - Porque não pode ser simples? Só duas pessoas que se encontram e se apaixonam?

Ri de sua expressão.

- Eu não sei. Talvez o mundo seja assim mesmo. Alguém sempre termina com o coração partido.

- Talvez. - Concordou.

- Mas convenhamos, a interpretação de Sarah está impecável.

Edward não respondeu.

Depois de nossa rápida conversa, não consegui mais dar a devida atenção ao filme. Fiquei estudando Edward e suas sutis reações às cenas românticas. Por mais forte e independente que ele parecesse, era nítido que Ed secretamente buscava o que todos buscam: amor.

De forma covarde, não tive coragem de lhe dizer que o “amor” é mais mito do que verdade. O sentimento que ligam as pessoas é inconstante e traiçoeiro. Esse sentimento se chama paixão. Ninguém passa décadas e décadas apaixonado. Os sentimentos mudam, porque as pessoas mudam. Será que Edward compreenderia isso em tão pouco tempo?

Durante o final do filme, minha mente mergulhou nas expressões faciais de Edward, procurando desvendar os seus pensamentos. Ele assistia atentamente a personagem de sua mãe se despedir do amigo para ir embora com o andarilho que a fez esperar por um ano. Era uma cena de apelo emocional forte, com uma atuação gloriosa de Sarah. A história dos mocinhos foi linda, mas o jovem nunca conseguiu vencer o amor que Hilíria sentia pelo andarilho. Era triste, porém, lindo.

Eu já sabia como o filme terminava, só que Edward, não. O jovem apaixonado terminava sozinho e com um futuro incerto. Eu tinha certeza que era a primeira vez que meu amigo via algo do tipo e... era a primeira vez que via sua mãe em quinze anos.

O selvagem ficou um pouco tenso e seus olhos pareciam levemente marejados. Tinha certeza que eu teria chorado pela milésima vez se estivesse prestando a devida atenção ao filme. No entanto, as reações de Edward eram bem mais interessantes. Tudo aos olhos deles parecia... novo.

Ele estava sentado há alguns centímetros de mim, por isso pude ouvi-lo engolir a saliva com dificuldade. Notei que aquela experiência estava mexendo com seu interior. Olhei para sua mão pousada no assento e, sem ter certeza do que estava fazendo, fui aproximando lentamente minha palma da sua. Confesso que fiquei nervosa. Não sabia como ele reagiria a tal contato.

Com delicadeza, coloquei minha mão em cima da dele. Inicialmente, não reagiu. Pensei em retirar a mão, mas ele girou sua palma para cima, entrelaçando nossos dedos. Queria consolá-lo de alguma forma, mostrar-lhe que ele tinha uma amiga ali. Não me preocupei mais. O que fiz pareceu a coisa certa.

Permanecemos de mãos dadas até os créditos finais começarem a subir na tela. Não havia nada que eu pudesse falar quanto à Sarah Ryan. Eu continuava sendo fã dela, mas também me sentia triste por Ed. Então, impulsionada pela compaixão, falei algo totalmente impulsivo e surpreendentemente altruísta.

- Edward, não se preocupe. Eu vou te arranjar a melhor garota do mundo.

Eu não era assim...

Estava começando a enxergar que a guinada que dei na minha vida durante a madrugada, estava desencadeando uma série de acontecimentos e decisões inesperadas.

O selvagem me encarou e, no mesmo momento, tive um baita idéia.

- JÁ SEI! - Levantei-me empolgada.

- O que foi? - Ficou aturdido.

- Eutoquerendo.com. - Sorri.

- Repete. - Franziu o cenho.

(...)

No escritório do meu pai, acessei o site, me sentindo um gênio.

- Eutoquerendo.com. - Virei o monitor na direção de Edward, o qual estava sentado na ponta da mesa.

- O que é isso?

- É um site de relacionamentos. Aqui você pode conhecer garotas do mundo inteiro, mas não se preocupe. Vamos selecionar apenas as de Orlando.

- Conhecer? - Balançou a cabeça sem entender.

- É muito maneiro. Vamos criar o seu perfil rapidinho e depois as interessadas vão te escrever. - Tentei simplificar. - É como auto-propaganda. É um jeito rápido e simples de conhecer mulheres com os mesmos interesses que você.

- É estranho. - Respondeu com o pé atrás.

- Ed, nós não temos muito tempo. Achar a garota certa é como procurar uma agulha no palheiro. Precisamos procurar por todos os lados.

- Tudo bem. - Suspirou. - O que tenho que fazer?

- Vou preencher o seu perfil. Vou ler as perguntas e você responde para que eu possa digitar. - Me enchi de esperanças.

Coloquei o monitor virado para mim e, rapidinho, cadastrei Ed. Preenchi as informações básicas como nome, idade, sexo, cidade...  Então, o questionário ficou mais difícil. - Tem uma seção onde precisa falar de sua aparência. Responde de forma direta, ok?

- Ok.

- Estatura?

- 1. 85m

- Tipo físico?

- Er... - Não soube o que responder.

Dei uma rápida olhada nele e digitei: malhado.

- Estilo?

- Como assim?

- Vou colocar descontraído. - Elegante é que não podia ser. - Olhos?

- Dois. - Brincou.

- Azuis. - Mais uma vez respondi por ele.

- Cabelos?

- Não tenho certeza. O que você acha?

- Baixa a cabeça. - Ele me obedeceu e passei a mão por seus cabelos. - Não sei... - Analisei com mais cuidado. - Estou entre castanho claro e loiro escuro. Bem, isso é o de menos. Vou colocar loiro escuro.

- Por mim tudo bem.

Na parte que perguntava se ele possuía barba ou bigode, ri alto, mas Ed não entendeu o porquê.

- Agora vamos falar sobre seu estilo de vida. Orientação sexual?

- Tem certeza que precisa perguntar?

- Ué, se você for bissexual, não vou adivinhar. - Justifiquei-me.

- Próxima pergunta. - Exigiu.

- Fumante?

- Não.

- Bebe?

- Parece que agora sim. - Riu baixinho.

- Tem filhos?

- Não.

- Quer ter?

- Isso é um convite? - Debochou.

- Sim. - Para descontrair, entrei na brincadeira. - Eu faria qualquer coisa por uma pensão alimentícia ou alguns diamantes da selva. Topa?

- Vou pensar.

 Ri, depois voltei ao questionário.

- Animais de estimação?

- Você sabe que tenho.

- Um puma não é animal de estimação. É um atestado de loucura. - Fiz uma careta cômica. - Tudo bem. Vamos fingir que você tem um cachorro. Pronto para perguntas mais difíceis?

- Sim.

- Falar sobre seus gostos é importante. É essa parte que vai fazer você parecer um cara legal.

- Entendi.

- O que gosta de fazer nas horas vagas?

- Rapel, canoagem, nadar em mar aberto, ler, desenhar, acampar...

- Shhh!- Interrompi. - Não parece real. Qualquer pessoa que ler isso, vai achar que você está inventando esses lances.

- Mas é verdade.

- Vamos colocar apenas ler, desenhar e acampar, ok? É bom manter um mistério. - Edward teria mais chances se parecesse um cara comum.

- Livro favorito?

- Viagem ao Centro da Terra.

- Fala sério! - Soltei sem querer.

- Qual o problema? - Ficou curioso.

- Os geólogos adoram esse livro. Meu pai tentou me fazer ler, mas eu dormi no primeiro parágrafo. Não gosto muito de ler.

- É uma grande história.

- Não é o tipo que agrada as mulheres. Se você achar uma doida que goste de Viagem ao Centro da Terra, amigo, case-se com ela.

Edward riu.

- Tem mais perguntas, Bella?

- Sim. Filme?

- Não sei. - Deu de ombros.

- Vou colocar Amor à Meia Noite. - Sorri provocando. - Eu sei que você gostou.

- Próxima pergunta. - Mudou de assunto.

- Música favorita?

- Não tenho.

- Como não tem? - Bestifiquei. - Todos têm uma música favorita.

- Não tenho. - Repetiu com simplicidade.

- Isso é inconcebível! Não posso ficar perto de alguém que não gosta de música. Alôô... Música é tudo!

Ele suspirou como se eu estivesse criando caso. Eu amava música e o fato de Edward não ter uma canção favorita me deixou revoltada.

- Podemos avançar?

- Não. Você precisa de uma música favorita. Qualquer uma. - Insisti.

Ele refletiu um pouco, então falou, olhando para as próprias mãos:

- Existe uma, mas eu não sei o nome. Sarah cantarolava para mim.

Percebi que por detrás das brincadeiras e sorrisos, Edward ainda pensava em sua mãe e nos possíveis motivos que a levaram a se afastar dele.  Vê-la no filme provavelmente lhe trouxe mil lembranças.

- Canta para mim, talvez eu saiba que música é.

- Não. - Riu sem humor. - Eu não canto. Eu... nunca canto.

- Só um pouquinho. Não precisa ter vergonha.

- Esqueça.

- Nem precisa ser alto. - Insisti, levantando-me. - Prometo que será só uma vez. - Fiquei de frente para ele.

- Só uma vez? - Ele estava quase cedendo.

- Só uma vez. - Confirmei.

Edward passou a mão no cabelo, constrangido. Em seguida, puxou-me para perto de si colocando os lábios próximos ao meu ouvido. Ele pigarreou antes de começar e eu fiquei bem quieta.

- Once upon a time, I was falling in love. But now, I'm only falling apart. Nothing I can do. A total eclipse of the heart. Once upon a time, there was light in my life. But now, there's only love in the dark. Nothing I can say. A total eclipse of the heart. (Era uma vez... eu me apaixonei. E agora eu estou simplesmente desabando. Não há nada que eu possa fazer. Um eclipse total do coração. Durante algum tempo houve luz na minha vida. E agora só há amor na escuridão. Nada que eu possa dizer. Um eclipse total do coração.) - Cantou muito baixinho. Sua voz rouca até que era bonitinha.

Logo reconheci a música, mas não falei nada. Meu amigo estava tendo um dia difícil e o mínimo que eu podia fazer era deixar que ele partilhasse a saudade que sentia de Sarah comigo. Tentei enxergar os sentimentos que existiam por trás de sua voz, só que não consegui.

Edward suspirou e, ao fazer isso, seu hálito tocou meu pescoço fazendo minha pele arrepiar-se. Estremeci o suficiente para que ele notasse. Ed, gentilmente, passou a mão no meu braço esquerdo, ajudando minha pele a voltar ao normal.

- Desculpe. - Sussurrou.

- A total eclipse of the heart. - Falei buscando seus olhos. - É o nome da música.

- Obrigado.

- Quê tá pegando? - Jasper, acompanhado por Emm, adentrou o escritório sem bater e imediatamente sentei-me na cadeira. - Pô, T-zed! Você não vai nos ensinar nada hoje? Nós até nos exercitamos.

- Dá uma folga para o cara. - Falei salvando o perfil de Ed no site.

- O que vocês estão fazendo? - Emmett se aproximou.

- Ed precisa de uma namorada. Estou procurando uma Rainha da Floresta.

Jazz e Emm trocaram olhares chocados e em seguida, explodiram em uma gargalhada.

- Precisava ter falado desse jeito? - O selvagem murmurou.

Eu sei que às vezes o mato de vergonha, mas não consigo evitar.

- Essa Jasper não pode perder. Jasper precisa acompanhar essa saga. - O idiota ria muito.

- Véi... - Emmett passou o braço em volta dos ombros de Edward. - Se tu tava querendo descabelar o palhaço, devia ter nos procurado. Somos teus manos, pô!

- Cala a boca! - Me revoltei. - Ele não precisa de uma vadia com cara de pamonha.

- Bella, você não entende. Fica na tua. É assunto de homem.

- Rá! Até parece que o Idi e o Ota sabem alguma coisa sobre mulher. Jazz literalmente só fica na mão e você só pegou a loira-chave-de-cadeia.

- Jasper só é humilhado. - Meu irmão, chateado, sentou-se em um canto. - Não precisa ficar dizendo por aí que Jasper amassa o alho.

- Eu fiz um perfil de Edward no site eutouquerendo.com. Vai bombar, acreditem.

- Descabelar o palhaço? Amassar o alho? Bombar? Espero que sejam coisas boas. - O selvagem estava meio perdido.

- Não se preocupe. Sei o que estou fazendo. - Menti. - Você só precisa de uma boa foto para o perfil.

- Beleza. Nós vamos ajudar. - Emm interferiu.

- Não vão, não. - Fechei a cara.

- Relaxa, Bella. A gente manja muito das coisas. Nós vamos preparar T-zed para as fotos. Vamos dar um tapa no visu dele. Vai ficar irado!

Bufei. Eu realmente precisava de uma mãozinha. Talvez os rapazes convencessem o selvagem a ficar mais apresentável.

- Tudo bem, vou pegar a câmera digital. Façam Edward parecer “o cara”.

- Por que tenho a forte impressão de que não vou gostar disso? - Edward franziu o cenho.

(...)

Na sala, coloquei as pilhas na câmera e deixei no ponto. Assim que ouvi os murmúrios vindos da escada, olhei para trás e senti meu queixo cair. Na verdade, despencar.

- Edward... é você?

- Não tenho certeza. - Respondeu um pouco chateado.





Os rapazes praticamente o empurraram escada abaixo e se posicionaram ao lado dele, bem na minha frente.

- Então? - Emmett ficou ansioso.

- Nem tenho palavras. - Tentei prender o riso, mas foi pior. Dei uma gargalhada tão alta e descontrolada que até ronquei um pouco.

- Totamente hip hop. - Jazz alegou sorridente.

- Totalmente. - Concordei.

Edward estava com uma blusa de um time qualquer e um macacão hiper largo por cima, com apenas uma das alças abotoada. Eu não sabia se ria dos tênis prateados ou do boné virado para trás. Como se já não estivesse enfeitado o suficiente, ainda usava vários cordões pendurados no pescoço. Aquele troço brilhava tanto que, com certeza, poderia achar Ed no escuro.

- Não enche, Bel. Ficou show! Ele finalmente tem um visual digno de seu apelido. - Emmett se justificou.

- Bebeu água da privada? - Como ele podia dizer aquilo? - “T-zed” agora tem um visual digno de um traficante. Se mandem daqui e só voltem com algo mais... - Analisei o pobre selvagem. - Rock n’roll! - Edward bufou, subindo as calças, ou melhor, o macacão. Foi para a escada e, antes que sumisse de vista, gritei. - Ei, Ed! - Ele virou-se para mim. - Diga “Yow”. - Ri, tirando uma foto daquele momento memorável.

(...)

Coloquei uma cadeira de frente para a escada e fiquei esperando. Assim que avistei Edward no topo dela, levantei-me e gritei.

- Que porra é essa?

Emmett e Jasper riram. Edward revirou os olhos e cruzou os braços.

O coitado do meu amigo estava com o cabelo todo repuxado para cima, parecendo um punk. O problema não estava só no penteado, mas também nas vestes. A calça de couro preta era demasiadamente apertada por ser de Jasper. Ficou simplesmente ridículo. Mesmo Edward tendo um peito definido para ajudar, a maquiagem preta nos olhos o tornou um tipo menos bizarro de Marilyn Manson.

- Você disse rock n’ roll. - Jasper tentou tirar o dele da reta.

Por falta do que jogar em meu irmão, tirei meu tênis e joguei em sua direção.

- O façam parecer normal, seus... seus... anormais! Por favor, algo mais alegre.

- Quanta contradição. - Emmett se queixou, me jogando o sapato de volta.

Claro que não perdi a chance de tirar uma foto do selvagem naquelas condições.

(...)

Sentada de pernas cruzadas, folheei uma revista.

- Então? - A voz de Edward veio do alto da escada.

Receosa, ergui a cabeça e o encarei.

- Oh, Deus. - A revista deslizou de minhas mãos.

Ed estava metido em uma calça boca-de-sino e a camiseta com estampa psicodélica fechava o look hippie. Até tinha lencinho amarrado na testa.

- Rápido, faz aquilo que te ensinei antes que ela critique. - Jasper cutucou o selvagem.

Edward, desanimado, fez sinal de “paz e amor”.

Balancei a cabeça, totalmente incrédula.

- Acho que se ele segurasse um baseado ia ficar mais legal. - Emmett estava falando sério.

- Ed, você já se olhou no espelho? - Indaguei, sem saber se ria ou se chorava.

- Não me deixaram. - Lançou um olhar de ódio para meu irmão.

- Diga “altamente coisativo”. - Tirei uma foto dele.

- Desisto. - Foi para o quarto e os patetas o acompanharam, tagarelando.

- Onde está Alice quando precisamos dela? - Murmurei desanimada.

(...)

- Não! Não! Não!

Ouvi os gritos de Emm e Jasper, mas não consegui entender o que estava rolando no andar de cima. Então, sem nenhum aviso, Edward desceu as escadas, completamente pelado.

Embasbacada, fiquei muda quando ele passou por mim, dizendo:

- Nunca mais vou fazer isso.

Emmett se aproximou e sussurrou.

- T-zed desistiu das roupas. - Riu baixo. - E olha que eu nem insisti pra ele vestir as roupas no estilo Disco.

- Estou vendo. - Antes que o cara da selva atravessasse a porta, tirei uma foto.

Mal tive tempo de me lamentar e ouvi o grito de Jully vindo do jardim. Disparei porta afora e a encontrei perto da piscina, totalmente chocada pelo fato de Edward mergulhar pelado, como se estivesse completamente sozinho.

Fui até ela a fim de lhe acalmar, mas aquela mania de “liberdade” do meu amigo era difícil de explicar.

- O que deu nele? - Ela questionou, evitando olhá-lo.

- Acredite, estou me perguntando a mesma coisa. Não se preocupe, Edward parecer gostar de um ventinho em seu lado primitivo. Fora isso, é totalmente inofensivo.

- Estou sem palavras. - Foi para dentro da mansão.

Eu já esperava aquele tipo de reação vindo de Jully. A garota era muito certinha. Eu até podia apostar que era a primeira vez que ela via um homem sem roupa. Minha prima, ao contrário de mim, sempre viveu para os estudos. Quando morava conosco, até lhe apresentei uns carinhas legais, mas Jully era tímida demais para sair curtindo uma boa “ficada”. Eu realmente queria que ela mudasse e passasse a aproveitar a vida, mas respeitava o jeitinho dela.

Edward saiu da piscina, aparentemente mais relaxado e o observei meticulosamente. Seus cabelos molhados, água escorrendo pelos músculos definidos... Eu não tive dúvidas de que podia tirar proveito daquilo.

Sem chamar muito a atenção, passei a tirar fotos dele da cintura para cima. A forma como passava as mãos pelos cabelos ou espreguiçava, me mostrou que seus movimentos naturais eram perfeitos para uma boa foto sexy.

Explorei os melhores ângulos, descobrindo que seu visual selvagem ia chamar a atenção das mulheres que buscavam pretendentes com cara de “homem” e não com aparência de garotão.

- O que está fazendo?

Dei um meio sorriso.

- Você é perfeito.

- O quê? - Ergueu uma sobrancelha.

- Não. - Ri envergonhada. - Não quis dizer perfeito... - Me atrapalhei na tentativa de me retratar. - Me expressei mal... eu.. quis dizer que é perfeito para o site de relacionamento. Você vai fazer sucesso... é isso! - Mesmo sendo sincera, tropecei nas palavras. - Não sente vergonha de ficar sem roupa na frente de outras pessoas?

- E por que deveria ficar? Nudez é natural, roupas deviam ser usadas apenas para aquecer.

- Diz que está brincando. - Os ideais de Ed eram estranhos demais, quase inaceitáveis.

- Pareço estar?

Preferi não responder. Mesmo sendo amiga dele, às vezes não tinha como fingir que não existia uma barreira cultural entre nós.

- Refrescando as cabeças, Ed? - Emmett se aproximou rindo. - Ei, Bella, eu tive uma idéia.

- Fala.

- A internet não é o lugar certo para procurar uma boazuda para o T-zed. Ele precisa sair, entende? Devíamos levá-lo pra noite. O que acha?

- Hum... - Tamborilei os dedos na boca, arquitetando. - Quanto mais garotas ele conhecer, maiores são as chances de achar a Rainha da Floresta.

- Legal! Jasper e eu vamos levá-lo àquela boate com decoração de pirata.

- O Bucaneiro?

- Esse mesmo.

- Como assim, Jasper e você? - Não entendi porque estava me excluindo.

- Ah, qualé, Bel! Nós vamos caçar mulheres, você seria um repelente. É muito mais fácil abordar as gostosas estando só entre homens. As mulheres se sentem mais à vontade para dar... - Riu. - O número do telefone.

- Imbecil! - Soquei-lhe o ombro. - Tudo bem, podem ir amanhã.

- Já é!

Me fingi de conformada.

Há. Até parece que eu ia deixar Jasper e Emmett estragarem toda a busca pela fêmea do selvagem. Eu mesma ia levar Ed ao Bucaneiro logo que anoitecesse.

(...)

Às 20:00hs desci as escadas pronta para ir à boate. Tive que passar pela sala onde Jazz, Emmett e Rosalie estavam. Os rapazes assistiam a um jogo de futebol e não deixaram de me notar.

- Aonde a bananinha louca vai há essa hora? - Meu irmão arqueou a sobrancelha. 

- Vou à casa de Alice. Quero saber por que ela não apareceu hoje. - Já tinha planejado aquela desculpa.

- E por que a bolsa? - Rosalie desconfiou, não me ajudando em nada.

Passei a mão por minha bolsa transpassada e sorri, esbanjando falsidade.

- Estou levando umas roupas que ela deixou aqui.  Até mais. - Cortei o papo. Me dirigi até a porta, mas ao abri-la, Emmett falou.

- Cadê o T-zed?

Merda!

Virei-me e respondi:

- Deve estar dormindo na casa da árvore. O deixem em paz, ele está sensível.

Saí andando normalmente, porém, logo que fiquei fora de vista, corri até a casa da árvore. Olhei para a janela e estava tudo escuro dentro da casa. Impaciente, assobiei alto.

- Edward! - Chamei baixinho, em seguida, assobiei novamente.

Ele colocou a cabeça na janela, confuso.

- O quê?

- Vem! - O chamei com as duas mãos.

(...)

Ao subirmos no ônibus, fomos direto para o fundão. Edward ainda não sabia os detalhes do meu plano, mas confiava em mim. Sentamos no último banco. Ele era comprido, não duplo, como os demais. Atrás de nós ficou a lataria do veículo e, à nossa frente, o corredor. Aproveitei que só haviam alguns passageiros nos primeiros bancos e decidi começar minha transformação.

- Preciso de ajuda. - Tirei minha jaqueta. - Vou ter que me despir.

- O quê? - Não acreditou.

Fiquei de pé e joguei a jaqueta para ele.

- Anda, Ed! Segura isso pra que eu possa me trocar.

- Isso é brincadeira, certo?

Desabotoei a calça, mostrando que não estava de onda. Assim como pedi, Edward ficou na minha frente usando a jaqueta como cortina para que os passageiros não me vissem de lingerie.

- Não é pra olhar, hein! - Tirei o top tomara-que-caia preto, deixando à mostra o sutian meia taça. Ed ficou olhando para o teto, estarrecido com minha ousadia.

- Qual o problema? Não foi você quem falou que nudez é natural? - Brinquei.

- Só que estamos em lugar público. Podemos nos complicar.

Joguei a blusa no banco e tirei minhas botas. Alguns passageiros perceberam a agitação, mas não interferiram.

- Não se preocupe, não vou ficar nua. - Tirei minha calça, rindo da cara de Edward. Ele deu um meio sorriso e me encarou. - Ei! Só porque me viu pelada uma vez não significa que tenha o direito de espiar. - Fui o mais dura possível.

O ônibus deu um solavanco e eu me desequilibrei, indo parar nos braços dele. Rapidamente o selvagem me abraçou, cobrindo-me com a jaqueta. Por sorte, ou por conta do equilíbrio de Edward, não fomos ao chão.

- Você tem cada idéia. - Gargalhou. - É a pessoa mais estranha que já conheci.

- Idem.

- Ei, vocês aí atrás! - O motorista esbravejou enraivecido. - Vou colocá-los para fora. Estão pensando que aqui é o quê?

- Não, seu motorista! Eu vomitei minha roupa toda e estou trocando-a. Será rápido, ninguém vai nem notar. - Gritei de volta.

Me afastei de Ed e tirei da bolsa uma camiseta de Jasper. Depois, vesti calças cargo. Calcei tênis e, por fim, prendi meu cabelo, enfiando um boné na cabeça. Edward assistiu tudo em silêncio. Acho que estava com medo de perguntar qual era minha intenção com tudo aquilo.

Com dificuldade, consegui guardar toda a minha roupa dentro da bolsa. Ela era feita de um tipo de couro mole na cor preta, totalmente neutra, que podia ser facilmente confundida com uma bolsa unisex.

- Devo fazer alguma pergunta, Bella? - Sentou-se no banco.

- Bella? Quem é Bella? - Engrossei a voz. - Meu nome é Bill!

- Ah, meu Deus. - Gemeu sacando tudo.

- Antes de você me censurar, preciso dizer que isso é totalmente necessário. Emmett tinha razão. Se eu for com você vestida de mulher, podem nos confundir com um casal e suas chances de conhecer alguém diminuem. Além disso... - Me gabei. - Eu sei como chegar junto das mulheres, pois sou uma. Sei exatamente o que elas querem ouvir e como querem ouvir. Será uma boa estratégia para fazer com que você tenha a oportunidade de papear com algumas.

- Sinceramente, nem sei o que dizer. Acho que ninguém vai acreditar que é homem.

- Acho que vou me sair bem.  Fiz teatro no colégio. - Olhei através da janela mais próxima. - Estamos quase chegando. - Edward levantou-se. - Espera, falta uma coisa. - Abri a bolsa e, com uma mão, vasculhei até achar um rolo de meias.

- Pra quê isso?

- Tem certeza que não sabe? - Gargalhei enfiando as meias dentro da calça.

- Você é inacreditável. - Balançou a cabeça.

- Obrigada. - Considerei um elogio. Empurrei Edward para a saída, mas antes de descer do ônibus, agradeci ao motorista. - Valeu, cara. - Usei minha voz masculina.

- Boa noite, rapaz. - Respondeu sem perceber que eu era mulher.

Na calçada, ficamos olhando o ônibus ir embora. Edward estava totalmente embasbacado pelo fato de o motorista ter me confundido com um rapaz.

- Vai dar certo. - Garanti, dando-lhe um tapinha nas costas.

(...)

Adentramos o Bucaneiro um pouco nervosos. Pelo que percebi, Ed se sentiu momentaneamente perdido por conta da música alta, do excesso de pessoas falando ao mesmo tempo e da proposital falta de iluminação.

- Não é o máximo? - Eu adorava aquele lugar, era tão bem decorado.

- Nunca estive em um lugar assim. - Falou alto para que eu ouvisse. - É muito estranho e... barulhento.

- Daqui a pouco você acostuma. - O puxei para o bar. Me inclinei sobre o balcão e, com minha voz de Bill, gritei. - Ei, barman, libera aí duas doses de rum. - Enquanto esperava, fiquei observando o selvagem estudar a boate. O cara devia se sentir um peixe fora d´agua, mas eu estava disposta a mudar essa situação.

Um funcionário da boate registrou as bebidas no meu cartão de consumo e o barman colocou as doses no balcão. Entreguei um copo a meu amigo e ele cheirou antes de provar.

- Forte. - Fez careta.

- Vira! - Ordenei, tomando minha dose. - Vai te deixar desinibido. - Edward tomou todo o rum. Dei uma olhada rápida nas pessoas na boate e decidi explicar minhas intenções. - Se liga: Não estamos aqui para necessariamente te fazer sair beijando uma desconhecida. A intenção é pegar o maior número de telefones possível e assim selecionar algumas garotas para um futuro encontro.

- Tudo bem.

- Se você gostar de alguém, o que é raro, mas pode acontecer, me avise. Quando não gostar de uma garota e quiser pular fora, é só coçar o queixo que vou entender e dar um jeito de te salvar da baranga. O mais importante é não esquecer que agora sou homem. Se vacilarmos, podemos estragar todo o esquema.

- Entendi.

Respirei fundo e tratei de encarnar Bill.

- Coloca na sua cabeça que nós somos caras de sorte, só não temos dinheiro, mas somos desenrolados. - Falei grosso.

- O que quer dizer com desenrolados?

Revirei os olhos e o puxei pela gola da camiseta surrada.

- Vamos à caça!

(...)

Demos uma volta pela boate e eu avistei duas garotas em um canto conversando.

- Ali! - Indiquei disfarçadamente com a cabeça. - Vamos chegar junto. Me segue! - Fui me aproximando e mexendo o corpo no ritmo da música, de um jeito bem malandro. - Me imita. Só no gingado, mano.

- Não tem nem perigo disso acontecer.

- Chato. - Retruquei. Me coloquei diante das moças e fui logo falando para mostrar a Ed como deveria abordar. - Com licença. - Encarei uma delas. - Eu sei que já ouvi isso muitas vezes, mas eu não te conheço? Sério, você não é a garota com quem sonhei noite passada? - As moças riram nos dando a chance de continuar. - Eu sou Bill e esse é o meu amigo, Ed. - Coloquei uma mão no ombro dele.

- Prazer. - O cara assentiu.

Elas nos cumprimentaram com simpatia.

- Sabe, somos dois e vocês são duas. Por que não somamos isso ali na pista de dança?

- Ah, eu adoraria dançar. - Respondeu a baixinha.

- Massa! - Descaradamente, empurrei Edward na direção dela.

- Eu não sei dançar. - Quando ele disse isso, tive vontade de matá-lo.

Ódio!

- Vamos dançar. - A baixinha me puxou para a pista e Bill teve que dançar.

Mantive a maior distância possível da garota, mas era difícil escapar de suas investidas sem revelar meu disfarce. Fiquei o tempo todo de olho em Edward. Ele ficou conversando com a outra moça e eu comecei a ter esperanças.

Então, ainda dançando, baixei a cabeça para ajustar o boné e quando voltei a observá-lo, vi que estava sozinho. Imediatamente larguei a baixinha e fui ao seu encontro.

- O que aconteceu? - Fiquei confusa.

- Ela perguntou em que eu trabalho e respondi que não estou trabalhando no momento.

- Pela madrugada! Como você me diz um negócio desses? - Passei as mãos pelo rosto. - Não dava pra ter mentido?

- Não.

- Ok. - Respirei fundo. - Você é guia lá na sua ilha, certo? Então diga apenas que é guia. Não é uma mentira. Evite detalhes.

- Já que insiste... - Deu de ombros.

- Fico me perguntando se não é melhor usarmos uma abordagem mais radical. Pra mim não seria agradável, mas pode ser eficiente.

- Como assim?

- Sei lá. Tô querendo apalpar os glútil de alguém.

- Não. - Passou a falar devagar. - Estou querendo apalpar o glúteo de alguém.

- Ah, você também? Beleza! - Uma moça passou por nós e dei um tapa em sua bunda. Sobressaltada, ela olhou para trás e imediatamente indiquei Ed.

- Imundo! - Xingou, dando-lhe um tapa.

Assisti tudo sem saber o que dizer. A doida foi embora e meu amigo, cabisbaixo, falou por entre dentes.

- Obrigado, Bill.

- Quer mais rum? - Franzi o cenho.

(...)

- Há, há, há! - Ri contra minha vontade. - Não entendi nada. - Falei para uma das morenas que encontramos perto do bar. Ela sussurrou palavras em francês no meu ouvido, as quais fizeram meu estômago embrulhar. - Meu amigo entende tudo de francês. - Tirei meu time de campo e a mulher não gostou.

- Em que trabalham? - Uma das amigas da morena indagou.

- Eu sou um simples... garçom. - Precisei mentir, pois elas tinham mais interesse em mim do que em Edward. O visual maltrapilho do selvagem estava dificultando demais. Eu na frente dele ficava um gato. Por incrível que pareça, eu já tinha três números de telefones na agenda do meu celular e Edward continuava zerado. - Ed é guia. - Sorri.

- Onde? - Continuaram o interrogatório.

- Na ilha. - Ele respondeu com indiferença e eu quase mordi o punho.

- Ilha? - Uma loira ficou confusa.

- Ah... Manhattan, claro. - A louca que deu em cima de mim tirou a conclusão que queria e todas aceitaram sorridentes.

Edward me fitou coçando o queixo e aquele era o sinal de que ele já não suportava o papo.

(...)

- Qual é a sua? - Acompanhei Edward até o banheiro masculino. - Você é desinibido, mas na frente das mulheres fica com cara de trouxa.

- Eu não sei. Talvez não seja um conquistador. - Respondeu indo para o mictório.

- Deixe o louco que existe dentro de você fazer a festa.

- Prefiro não ter ninguém dentro de mim fazendo festa alguma.

Chateei-me.

- O problema é esse seu visual. Só porque eu beijei você barbudão não significa que outras pessoas vão topar. - Todos os homens do banheiro nos encararam. Constrangida, ri sem humor e em seguida fechei a cara. - Então? - Engrossei ainda mais a voz e cocei o saco falso. - Tão olhando o quê? Nunca viram dois caras bem machos conversando?

Posicionei-me em frente a um mictório e lembrei que não tinha jeito de fingir aquilo.

- Com licença. - Edward ao meu lado pediu, abrindo o seu zíper.

- Viu só? Agora eu tou puto! Até passou a vontade de urinar. Vou sair daqui e mostrar minha mercadoria pras gostosas. - Fui só na malandragem. - Hoje eu vou arrebentar a coluna da mulherada! - Bati a porta do banheiro ao sair.

(...)

Fiquei perto do banheiro só de olho nas possíveis pretendentes para o meu amigo. Então, achei uma moça que parecia ser um bom partido. Ela era um pouco mais baixa que eu, usava rabo de cavalo e óculos de grau. Devia ter uns 21 anos. Sua aparência intelectual contou a seu favor, já que essa parecia ser o tipo de Edward. Por algum motivo, a garota estava bebendo sozinha, então deduzi que era tímida. Isso era perfeito, pois faria com que Ed conduzisse a conversa.

Assim que ele saiu do banheiro, o puxei pela manga da camisa, dizendo:

- Vem comigo! - Cortamos caminho por entres as pessoas e chegamos até a moça. Eu estava cansada do zero a zero, então fui logo colocando o selvagem na cara do gol. - Olá, esse é meu amigo Edward. Faz tempo que ele está me falando sobre sua beleza. Sei que é idiota eu estar dizendo isso tudo, mas precisava trazê-lo aqui, pois era capaz dele perder a chance de conhecer a mulher de sua vida.

A moça revezou olhares entre nós, completamente aturdida. Nem tive coragem de olhar para Ed, pois ele devia estar mais estarrecido que ela.

- Oi. - A garota sorriu. - Sou Mindy. - Estendeu a mão para Edward.

Ele não reagiu, então tive que cutucá-lo disfarçadamente.

- Prazer. - Apertou a mão da garota.

- É bom te conhecer. Eu mudei há pouco tempo para Orlando e não tenho amigos aqui. - Mindy suspirou relaxando.

- Que coincidência! Ed está na mesma situação. - Dei mais um empurrãozinho.

- As pessoas aqui não são muito simpáticas. - O selvagem deu um meio sorriso.

- Concordo. Sou de uma cidade pequena e em Orlando me sinto meio perdida. Não estou acostumada com boates nem nada do tipo.

Fiquei feliz. Mindy era a primeira pessoa que conhecemos que poderia ter um encontro com meu amigo.

- Vou pegar uma bebida. - Saí para deixá-los à vontade.

Enquanto o barman preparava o meu drink, fiquei estudando Edward e Mindy. Parecia que a conversa estava fluindo, pois Mindy tocou várias vezes o braço do selvagem. Ele deu alguns sorrisos e gesticulou envolvido no papo.

Dez minutos depois, a conversa do casalzinho evoluiu e agora Mindy gargalhava e tocava Edward como se o conhecesse há tempos. De longe, não consegui decifrar as expressões dele, mas pareceu que estava curtindo.

Morrendo de curiosidade, resolvi me aproximar.

- Quer um pouco? - Estendi meu copo para ele. Imediatamente o pegou e deu um grande gole.

- Então, está rolando uma amizade? - Indaguei sorridente.

- Claro! - Mindy estava contente. - Agora que encontrei vocês, sinto que já tenho bons amigos aqui. É como se fosse o destino trabalhando a nosso favor.

- Com certeza!  - Incentivei.

Edward me encarou e coçou o queixo. Perplexa e irritada, estreitei os olhos. Balancei a cabeça como se perguntasse: ficou louco?

Ele suspirou, então falou:

- Mindy é mesmo uma simpatia de pessoa. Ela quer ficar conosco o resto da noite.

- Eu acho uma ótima ideia. - Deixei bem claro.

- Obrigada, vocês são demais! - Ela riu altíssimo, na verdade, guinchou. Sua risada era tão fina e desafinada que tive vontade de tapar os ouvidos. O som era tão estridente quanto o som de alguém passando o garfo em uma lousa.

Edward cruzou os braços e me encarou esperando uma solução.

- Er... - Fiquei na saia justa. - Sabe, Mindy, eu preciso falar um segundinho com meu amigo. - O reboquei para longe.

- Não seja tão exigente, Edward. É só uma risada meio... meio... - Cheguei à conclusão de que tinham que inventar uma palavra nova para definir aquilo.

- Desculpa, mas não dá, Bella. A risada dela é tão irritante que me dá vontade de enfiar o dedo pelo meu olho até o cérebro e desativá-lo.

Coloquei a mão na boca para não rir.

- Mas parece que a personalidade dela compensa. Quem sabe...

- AMIGOS! - Mindy nos abraçou na maior falta de educação. - Vamos beber, a noite é nossa. - Riu como uma hiena.

(...)

Meia hora depois...

- Então meu chefe falou: “se seu nome é Mindy então o seu pai deve ser o Mindinho”. Entenderam? Dedo mindinho! - Soltou uma tremenda gargalhada.

Involuntariamente, Edward e eu encolhemos os ombros e reviramos os olhos. A risada da maluca era a pior tortura da Terra. Eu até desejei não ter tímpanos.

Nós tentamos despistá-la de todas as formas, só que a filha da mãe era pior que chiclete. Cheguei a falar na cara dela pra largar do nosso pé, mas na hora, Ed riu do meu desespero e a grudenta achou que era brincadeira. Se antes estava difícil chamar a atenção da mulherada, com Mindy na cola se tornou impossível.

- Acho que preciso de mais bebida. - Meu amigo sentou no banco do bar passando as mãos pelo rosto.

- Não se preocupa não, eu pego pra você. - Mindy chamou o barman aos berros. Ela bebia muito.

Enquanto a hiena estava distraída, Edward murmurou junto ao meu ouvido:

- Eu nunca pensei que diria isso, mas se eu ouvir outra gargalhada vou simplesmente me matar.

Bufei, chateada.

- Não sei mais o que fazer. Já tentei de tudo!

- Vamos embora.

- Isso não é opção. - Não dava pra permitir que aquela retardada fizesse todo o meu esforço ser em vão. Eu não tinha passado a noite cantando mulheres pra Ed voltar pra casa sem nenhuma esperança de ter um encontro.

- Por favor, vamos embora. Já chega. Seu plano nunca vai dar certo.

- Não! - Falei alto, inconformada. Não queria que o selvagem achasse que eu não era capaz de ajudá-lo como prometi. Respirei fundo, me enchendo de coragem.  - Vou dar um jeito nisso. Aguenta aí! - Saí, deixando-o sozinho com a décima primeira praga do Egito.






Diante do banheiro feminino, olhei para os lados verificando se alguém prestava atenção em mim, então, assim que tive oportunidade, arranquei o meu boné e invadi o banheiro.

Dentro de um dos cubículos, arranquei minhas roupas da bolsa e, assim que vi meu top tomara-que-caia, soube exatamente o que fazer. Sem pensar duas vezes, o vesti, só que não da forma convencional. Por ele ser de um tecido sem estampa ou detalhes, pude usá-lo como saia e ficou perfeito.

Por falta de blusa, sacrifiquei a camiseta branca de Jasper arrancando suas mangas. Por ser uma camiseta muito frouxa, tive que dar um nó na barra, deixando minha barriga toda à mostra. Por último, calcei minhas botas cano longo e guardei o restante das coisas. Passei a correia da bolsa pelo meu pescoço e saí do cubículo.

Diante do espelho, desarrumei meu cabelo deixando-o rebelde para combinar com o visual sexy. Duas garotas ao meu lado retocavam a maquiagem enquanto conversavam, então as interrompi.

- Com licença, poderiam, por favor, me emprestar o batom? - Elas trocaram olhares, mas logo me cederam o batom vermelho.

- Tenho lápis de olho aqui se quiser. - A mais simpática ofereceu de boa vontade.

- Eu adoraria. - Sorri.

Abusei do lápis o usando como delineador e com isso fechei o look fatal. Eu não me importava de ficar parecendo meio vagaba, pois era essa a intenção.

Saí do banheiro me sentindo um pouco a Bella autoconfiante que era antes de conhecer Brad. Caminhei por entre as pessoas, ignorando os olhares masculinos, pois estava totalmente focada em Edward sentado no bar. Não pensei que isso aconteceria, mas algumas pessoas abriram caminho para que eu passasse e a confiança de que eu podia resolver qualquer parada lampejou em meu interior.

Assim que o selvagem me viu, arregalou os olhos. Não perdi tempo e cheguei falando:

- Eu sabia que te encontraria, seu descarado. - Mindy ficou ligada. - Não acredito que está aqui dando uma de paquerador. Você não presta, seu galinha!

- Bella, o que...? - Confuso, colocou a mão no meu braço.

- Não se apoia em mim que não sou bengala! - Na maior, lhe dei um tapa na cara. Infelizmente, não medi devidamente a força e o tapa foi super forte. As marcas dos meus dedos ficaram na bochecha de Edward. Sua expressão de choque foi tão hilária que quase ri. - Você mereceu. Nunca mais quero te ver, seu mulherengo insensível.

- Quantas vezes ainda vou apanhar? - Aborrecido, esfregou a bochecha.

Olhei para Mindy esperando que ela evaporasse ao descobrir que Ed era um cafajeste, mas contrariando a lógica, a maluca ficou e o apoiou.

- Não se preocupe, Edward. Ficará tudo bem, estou aqui. - Segurou a mão dele.

Foda! Que filha de uma égua!

Beirando o desespero, mudei de estratégia.

- Mas quer saber, Ed?  - Joguei o cabelo pro lado. - Eu gosto de você assim, bem safado. - Avancei nele e tasquei-lhe um beijo.

O coitado ficou sem ação diante de tanta loucura e internamente gargalhei. Foi um beijo de boca fechada, mas para quem estava assistindo pareceu bem mais que isso. Continuei o showzinho por mais alguns segundos, depois me afastei.

Ofegando, encarei Mindy ao dizer:

- Vaza, estrupício! - Ela lançou-me um olhar cheio de ódio e saiu soltando fumaça pelo nariz. - ISSO! - Comemorei jogando as mãos para o alto. - Eu sou boa. - Ri. Como Edward estava muito quieto, o fitei com receio. - Sobreviveu?

Ele abriu a boca para responder, mas não conseguiu. Porém, após suspirar falou:

- Ficar perto de você é como estar no centro de um furacão.

- E isso é uma coisa boa? - Sorridente, coloquei as mãos na cintura.

Ele evitou a pergunta bebendo todo o rum de seu copo.

(...)

Sem Mindy por perto, meu amigo recuperou o bom humor e me perdoou pelo tapão. Na verdade, o tapa virou motivo de risada.

- Você é tão imprevisível. - Ele comentou, sentado a meu lado.

- Não tenho argumentos. - Respondi observando as pessoas dançando.

Não conseguia tirar os olhos de um casal. A mulher devia ser uma modelo e o sujeito mais parecia um nerd barrigudo. No entanto, as garotas que passavam por ele lançavam-lhe olhares maliciosos. Aquilo me deixou intrigada, até que notei que as garotas se interessavam pelo cara por causa da modelo, pois só podiam existir duas razões para ela estar com ele. Ou o nerd era um ricaço que não sabia se vestir, ou era extraordinário na cama. De qualquer forma, a modelo atiçava a curiosidade da concorrência, fazendo com que o nerd parecesse um bom partido.

- Bella, o que foi? - Ed notou que eu estava arquitetando.

- Levanta. - Pedi saltando do banco.

- Por quê?

- Levanta! - O puxei pela mão até a pista de dança. - Lembra das dicas do livro Aprendendo a Namorar?

- Sim.

- Usamos elas para os meus interesses. - Sorri decidida. - Agora vamos usar para o seus.

- O quê? - Ele não entendeu.

- Vamos fingir que estamos juntos. Acredite, muitas mulheres vão se interessar por você.

- Como assim? Não faz sentido.

- Apenas confie em mim. Até porque, nessa altura do campeonato você já nem tem escolha. - Pisquei um olho e comecei a dançar.






O selvagem olhou para os lados sem saber o que fazer. Mexi o corpo no ritmo contagiante da música. Passei as mãos pelos cabelos e fui deslizando-as até os quadris. Devagarzinho, fui rodeando Edward até ficar atrás dele, então o abracei, pousando a lateral do rosto em suas costas. Mexi suavemente de um lado para outro e ele foi obrigado a me acompanhar sincronizando nossos sutis movimentos.

Para que o meu amigo tivesse a chance de conquistar alguém com sua personalidade, primeiramente eu tinha que fazer as garotas se sentirem atraídas por ele, mesmo que fosse por razões que ele desconhecesse. Presa a esse pensamento, passei minhas mãos sensualmente por seu peitoral, disposta a exibi-lo como um bom pedaço de carne.

Ditei o ritmo de nossos movimentos tornando-os mais rápidos. Então, abusei da sorte e fui descendo as mãos para a barriga de Edward, onde fingi levantar acidentalmente parte da camiseta. O pouco do tanquinho que ficou à mostra foi o suficiente para despertar os olhares de algumas moças que dançavam à nossa volta.

Pendi a cabeça para trás e ri alto. Finalmente meu amigo estava recebendo alguma atenção e eu tive a completa certeza de que minha teoria sobre o nerd e a modelo estava totalmente certa. Tudo que o selvagem precisava, afinal, era uma acompanhante que mostrasse que existiam vantagens por detrás de sua aparência pouco atraente. Me afastei de Edward e ele virou-se para mim.

Eu sempre amei dançar, mas nos últimos meses parecia que eu tinha esquecido disso. Tinha me esquecido como era maravilhoso ter a mente livre de lembranças dolorosas. Eu sabia que elas continuavam na minha cabeça, mas naquele momento era como se não existissem. Eu não estava revivendo o passado, nem imaginando o futuro. Fiquei complemente presa ao “agora”, presa àquela dança, sentindo que toda a força que recuperei no início do dia fluía por mim.

Joguei os cabelos para os lados e ergui as mãos, deixando toda aquela energia positiva adentrar meu coração. Não podia deixar de rir das ironias da vida, pois na noite anterior tive um dos piores momentos da minha história e agora estava tendo um dos melhores.

Edward ainda estava um pouco contido, então, com o dedo indicador, o chamei, exigindo maior contato.

- Aprendendo a Namorar. - O lembrei de se focar nas dicas para firmar a ideia de que éramos um casal.

O selvagem, dançando do jeitinho dele, colocou as mãos na minha cintura e eu mantive as minhas na cabeça, rebolando bastante. Edward levou a sério o que falei e sorriu torto com a sobrancelha arqueada, paquerando-me exatamente como aprendeu no capítulo 1 do livro: flertar. Mordi o lábio inferior, mantendo meus olhos fixos nos dele.

Desvencilhei-me, girando para o meio da pista. Edward me seguiu e eu parti para o capítulo 2: abraços. Agarrei-lhe pela camiseta quase fazendo nossos narizes se tocarem, então falei:

- Vamos ver se você aprendeu direitinho. - Girei divertindo-me. Ia girar novamente, mas Edward agarrou minha cintura detendo-me.





Sem mais enrolação, me abraçou. Com as mãos dele espalmadas em minhas costas e meus braços em torno de seu pescoço, voltei a mexer o corpo, nos levando a um outro ritmo, como se dançássemos uma musica lenta, apesar das batidas agitadas soando em nossos ouvidos.

Isso tudo desencadeou o capítulo 3: carinho. E foi Ed quem começou a acariciar minhas costas. Imediatamente, levei minhas mãos até sua nuca, deixando meus dedos se envolverem em suas madeixas. Confesso que até dei uma puxadinha. As mãos dele deslizaram um pouco e pude sentir seu toque em minha coluna. Aquele era um local sensível e estremeci sem saber se sentia cócegas ou outra coisa. A mão dele descia cada vez mais, como se tivesse o costume de me apalpar mais em baixo. Mesmo não me tocando em lugares inapropriados, seus gestos foram sensuais o suficiente para não deixar ninguém duvidar de que existia uma tensão sexual entre nós. Agora que nossas performances não estavam sendo usadas com propósito de vingança, fluíam quase perfeitas.

Fiz a minha parte e encaixei sua perna entre minhas coxas, descendo até embaixo, e depois subi de volta com um grande sorriso brincalhão. Coloquei as mãos nos ombros dele e, por mera conseqüência, minhas unhas cravaram levemente em seus músculos enquanto derrapavam por seus braços.

Edward passou o dedão em meus lábios e eu ri antes de mordê-lo. Então, satisfeita com o showzinho mais que convincente, girei pela pista de dança voltando a deixar que o ritmo frenético guiasse meus pés.

Um pouco de suor molhava a minha testa e barriga, mas eu só ligava para a música e para a sensação de vitória ao ver algumas mulheres paquerando Ed descaradamente.

- Se liga. - Fiquei na frente dele. - Dá uma olhada à sua volta.

Disfarçadamente analisou e não conseguiu esconder a surpresa de ver garotas sorrindo para ele e lhe lançando olhares cheios de segundas intenções.

- Mas elas estavam tão indiferentes antes. - Não compreendia o jogo.

- Vou te deixar um tempinho sozinho. Ande por aí sendo simpático e um pouquinho misterioso. Lembre-se que não precisa escolher sua Rainha da Floresta agora. Tudo o que precisa fazer é iniciar algumas amizades coloridas.

- Tudo bem. - Falou confiante.

Fui para o banheiro feminino e sentei na ponta da pia morrendo de rir de tudo que acontecera àquela noite.

(...)

Cerca de uma hora depois, decidi procurar meu amigo. Recuperada de toda agitação, saí do banheiro e fiquei na ponta do pé na esperança de vê-lo. Deu certo. O selvagem estava conversando com uma garota há uns oito metros de mim. Acenei e ele me viu.

Edward falou algo com a bonitona e ela deu-lhe um beijo na bochecha. Com os polegares fiz sinal de positivo o incentivando enquanto sorria. Ele rapidinho se despediu da moça e veio ao meu encontro.

- Então? - Eu estava morrendo de curiosidade.

- Er... - Baixou a cabeça colocando as mãos no bolso e eu percebi que estava me torturando de propósito.

- Pára! - Soquei seu braço.

- O que você quer saber? - Fez mais charme.

- Ed, vou te matar!

- Quer saber se eu consegui um número de telefone?

- Sim! - Já estava aflita.

- Então a resposta é não.

- Não? - Quase gritei. - Não é possível! Como assim? Não mesmo?

- Não. - Revirou os olhos. - Não consegui um número. Consegui vários. - Mostrou suas palmas cheias de telefones e nomes.

- Meu Deus! - Meu queixo caiu.

- Também tem esses. - Puxou dos bolsos dois guardanapos.

Coloquei as mãos na boca, bestificada. Depois de toda a peleja, aquela pequena vitória parecia gigante.

- CONSEGUIMOS! - Berrei. - Conseguimos mesmo! - Abri os braços. Edward abraçou-me fazendo meus pés saírem do chão.

- Obrigado. - Sussurrou em meu ouvido. Nunca me senti tão bem por ajudar alguém.

- Estou me divertindo demais. - Confessei.

- E agora? - Colocou-me no chão.

- Humm... - Contorci a boca refletindo, mas logo o sorriso voltou à minha face.
- Vem comigo! - Corri puxando-o pela mão.


(Continua...)



Diário de Bordo – Edward Cullen


Orlando, EUA.

Depois que esfriei a cabeça mergulhando na piscina, senti a necessidade de escrever para alinhar meus pensamentos. Deixei Bella discutindo com Emmett a respeito de um lugar chamado Bucaneiro e me refugiei na casa da árvore.

Estou tão chateado comigo mesmo por ter permitido que Jasper e Emmett decidissem que tipo de roupa eu deveria usar. Em um momento simplesmente perdi a cabeça e saí pela mansão completamente pelado. Roupas têm tão pouca importância para mim, não consigo compreender porque isso é tão importante para as pessoas dessa terra chamada Orlando.

Decidi nunca mais fazer algo semelhante só para satisfazer Bella e suas idéias suspeitas e supérfluas. Não sei... Talvez esteja sendo intolerante por não entender como funciona a mente dela. Não tenho noção de como ela chega à conclusão de que suas idéias darão resultados. Continuo tentando decifrá-la, mas só me confundo mais e mais. Porém, Bella me surpreendeu de um jeito bom ao se perdoar por ter caído nos braços de Brad. A forma como se ergueu diante da própria desgraça me fez sentir orgulho dela. Sim, tive orgulho de conhecer alguém que reconhece seus erros e tenta aprender com eles. Realmente não esperava por isso, e foi essa faceta desconhecida dela que me fez baixar a guarda e falar sobre mim.

No início me contive e falei o mínimo possível, no entanto, uma frase foi puxando outra e quando dei por mim estava falando sobre meu passado, meus pais e meu rito de passagem. Gosto de pensar que foi um pequeno deslize meu e não que senti necessidade de me expor à Bella. Oh, Deus... O que estou escrevendo? Por que eu sentiria a necessidade de me expor? Não preciso justificar meus atos ou vida.

Essa terra tem me deixado um pouco inconstante. A cada novo acontecimento minha opinião muda e me torno cada vez mais volúvel. Bella e eu conversamos sobre mulheres e relacionamentos e seu discurso em torno do tema deixou-me surpreso, pois percebi que há tanto para aprender a respeito. Talvez me relacionar com uma mulher seja a coisa mais difícil que farei aqui. Eu não quero voltar para casa sem ter desvendado o misterioso motivo que faz um homem querer estar com uma mulher. Não pode ser só por satisfação sexual.

Aprecio desafios, gosto de correr riscos, só que quando se trata de namoros me sinto um cego sendo guiado por uma cega. Ainda assim, é melhor Bella me orientar do que um dos rapazes, pois ela tem razão quando diz que por ser mulher conhece mais do universo feminino. Não vou dificultar ainda mais as coisas, vou me manter aberto às ideias e conselhos dela. Vou nos dar uma chance, se os resultados forem desastrosos, buscarei outro jeito. Mas que jeito? Até onde Bella está disposta a ir para me ajudar? Será que deseja mesmo a minha amizade como demonstra? Antes achava que ela estava apenas interessada em me usar, mas agora que Brad descobriu suas mentiras, que proveito pode tirar de mim? Isso é uma prova de que está sendo sincera? Como posso depositar minha confiança em alguém que mente constantemente? Mesmo com todas essas dúvidas gostei de ver o filme de minha mãe com ela.

Quando Bella falou da grande estrela Sarah Ryan senti que se referia a uma mulher que nunca conheci. Foi um sentimento estranho que me levou a rejeitar a ideia de que eu tenho laços sanguíneos com a mulher da televisão. Assisti como se fosse uma simples história, mas acabei me envolvendo por ser muito interessante. Cheguei a falar para Bella “porque triângulos amorosos?”. O que leva uma pessoa a amar alguém que ama outro? Incompreensível e inaceitável.

Bella tinha razão, Sarah estava convincente no papel de Hilíria. Não a odeio, mas não consigo vê-la como uma mãe, muito menos a minha. No entanto, no final do filme quando ela disse “nunca te esquecerei” lembrei de quando me falou o mesmo. O desfecho melodramático e o rosto quase imutável de Sarah na tela deixaram-me emocionado. Senti um aperto no peito que nunca senti antes. Eu sou uma pessoa feliz, não estou acostumado a me sentir triste, por isso fiquei um pouquinho vulnerável. Acho que Bella percebeu isso, pois tocou minha mão. Foi... uma experiência agradável sentir que se preocupou comigo. Eu quase que me sinto aliviado nos momentos que vejo que ela não é tão boba e fútil como muitas vezes mostra. Quanto a Sarah... Bem, passaram-se anos demais para eu me lembrar exatamente como me sentia ao seu lado. As lembranças não são muito claras, mas não precisei delas para chegar à conclusão de que era eu quem devia estar atrapalhando a carreira dela na época que me levou para ilha. Sarah tentava me dar uma vida normal e sólida e ao mesmo tempo se dedicava a seu trabalho e projetos ambiciosos, infelizmente acabava não conseguindo fazer nada completamente. Se isso for de fato verdade, é lamentável. De certa forma, não tenho do que me queixar, acabou sendo a melhor coisa para nós dois, pois se eu crescesse nos EUA provavelmente teria me tornado um homem fútil e idiota. Algo entre Brad e Emmett talvez.

Vou procurar dormir um pouco, acho que já tive uma cota mais do que suficiente de Emmett, Jasper e principalmente Bella por hoje. Espero que os rapazes não venham me incomodar com essa ideia de “Bucaneiro”.

XXX
 
Próximo Capítulo Aqui!

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