Acorde, Reaja e Lute
Narração Bella:
Com certeza estava pagando por meus pecados.
- ALICEEEEEEEE! - Olhei para trás e vi que as pestes continuavam me caçando. Meu tornozelo começou a reclamar e isso prejudicou minha fuga. Na lateral da casa, não aguentei mais e me entreguei. - Eu me rendo! Eu me rendo! - Ergui o sorvete acima da minha cabeça. - Eu já disse que adoro vocês? - Agi como se estivesse falando com bebês. - Menininhooos binitos da tia. Que menininhos mais menininhos. - As criaturas ficaram me encarando com os olhinhos do mau.
- Peguem ela! - Gritou o capeta em forma de comedor de meleca.
Ao partirem para cima de mim fechei os olhos. Os moleques me nocautearam legal, desabei no chão e foi sorvete para todo lado. Arrancaram minha peruca, morderam minha mão... Me senti em uma filme de terror.
- PAREEEEM! NÃO MATEM A BRUXA! - Lice chegou pra me socorrer. - Não façam isso, se comportem! - Tirou a criançada de cima de mim. - Bella? - Me encarou assustada. - Você está bem? - Fiz sinal de “joiado” sem conseguir falar. - Vamos dançar, pessoal. Vamos! - Ela conduziu as crianças para longe de mim. - Bella, você vai ficar bem? - Gritou quando já estava a vários metros de distância. Só fui capaz de erguer uma mão trêmula para cima.
Fique cerca de dois minutos estatelada no chão procurando me recuperar, depois criei coragem e fiquei de quatro para me erguer. Foi ai que o vi.
Lá estava ele. Jogadinho no chão, cintilante e valioso. Imediatamente peguei diamante e o admirei com os olhos arregalados.
- Meu precioso. - Murmurei. Olhei para os dois lados, em seguida enfiei a pedra dentro do meu sutiã. - Quero ver você fugir agora. - Sorri satisfeita.
Mesmo suja de sorvete voltei para a festa em busca de Jasper. Ele estava casado com uma estoniana doida, mas mesmo assim ainda era meu irmão. O procurei em todos os lugares possíveis, mas não o encontrei e tive que desistir. Era provável que já estivesse a caminho do México.
Totalmente exausta, me encostei à mesa de doces e enfiei alguns brigadeiros na boca. De repente, uma mão misteriosa agarrou meu tornozelo fazendo-me sobressaltar.
- Shhhh! - Jazz colocou a cabeça para fora de seu esconderijo.
- O que está fazendo embaixo da mesa?
- Dããããã! Tem certeza que não sabe a resposta? Vem aqui agora. - Pediu aflito.
Disfarçadamente, ergui a toalha da mesa e me meti embaixo dela. Sentei-me no gramado de olho no duende.
- O que tá pegando? - Questionei.
- Socorro. - Disse simplesmente.
- Está tudo numa boa. Vamos mandar a dona Bogdanov embora.
- Jasper receia que não seja tão fácil, além disso precisamos de um cozinheira para quando os novos hóspedes chegarem. Mão de obra nessa época do ano é muito caro.
- Quanto está pagando a ela?
Ele refletiu.
- Até agora nada.
- É, tem razão, não podemos abrir mão disso.
- Plano B?
- Bem... - Arquitetei com vontade. - Só existe um jeito de tirá-la do seu pé e mantê-la na cozinha.
- Qual?
- Vamos dizer que você é gay.
- O quê? Sem chance! Jasper é muito macho! - Engrossou a voz. - Jasper é muito... muito...
- Duende? - Olhei para sua fantasia com desdém.
- Isso não vale, Bella. Jasper não vai abrir mão de sua masculinidade. As mulheres precisam de Jasper.
- Então você escolhe. Pode ir consumar o seu casamento com sua esposa amorosa e mentalmente desequilibrada, ou pode fingir que é gay por algumas semanas. Acho que ela usa dentadura. Como vai ser?
Ele estremeceu com os olhos marejados.
- Jasper é uma bicha louca amancebada.
Prendi o riso.
- Eu sabia que ia fazer a escolha certa, Jaspe...rita.
- Então você que vai contar para a louca que Jasper... - Estremeceu novamente. - Dá o caneco.
- Beleza. Vou perguntar a Edward como falo isso em estoniano. - Saí de debaixo da mesa.
- Ei! - Meu irmão sussurrou de olho na saída da cozinha, onde sua esposa o esperava. - Vai até T-zed disfarçando, a véia não pode sacar que estou aqui.
- Ok, disfarçando. - Concordei.
Não pude deixar de notar Emmett dançando com a molecada no meio do gramado. Sinceramente, não sabia dizer o que o motivou a colocar Black Eyed Peas para acalmar as crianças.
- Vai! - Jazz falou por entre dentes.
E eu fui...
Disfarçando... Disfarçando... Cantarolei baixinho ao som de Pump It. Disfarçando... Disfarçando... Disfarçando... Fui cruzando o jardim dançando.
Quando a dona Bogdanov olhou para mim, parei, coloquei as mãos na cabeça e mexi o quadril. Os movimentos eram mecânicos e definitivamente contra minha vontade, mas eu precisava fingir que estava só curtindo música. O problema é que qualquer coisa que eu dançasse com aquela fantasia era pagação de mico total.
Disfarçando... Disfarçando... Disfarçando... Assim que a maníaca parou de me olhar segui meu caminho. Disfarçando... Disfarçando... Disfarçando... Chacoalhando as mãos para o alto consegui chegar até o banco onde Ed e Jully estavam.
Bufei antes de perguntar:
- Edward, como se diz: seu marido é gay?
- Hã... - Analisou-me. - Acho que não se diz, espera a pessoa descobrir sozinha.
- Não! - Bati o pé no chão, impaciente. - Como se diz isso em estoniano?
Deu de ombros.
- Tema abikaasa on õeke - Jully respondeu devagar para que eu assimilasse.
- Ótimo. - Vibrei.
Me preparei para voltar à mesa, mas percebi que a dona Bogdanov estava de olho em tudo.
Vai lá Bella!
Disfarçando... Disfarçando... Disfarçando... Fui dançando em direção à mesa. No meio do caminho peguei a barra do vestido e sacudi de um lado para o outro. Eu estava puta da vida e com o baita mau humor. Jazz tinha sorte de eu amá-lo tanto.
- Quanta animação, Bella! - Emmett gritou mostrando os polegares. - É isso aí! Agita!
Tive vontade de assassiná-lo ali mesmo.
Assim que pude, me aproximei da mesa de doces. Meu irmão colocou a cabeça para fora e indagou:
- Conseguiu?
- Sim. Jully me ensinou uma frase em estoniano.
- E como é?
Parei de dançar e respirei fundo para não perder o controle.
- Esqueci. - Confessei tendo certeza de que estava fincando vermelha.
- Volta lá e anota. - Quase gritou.
- Jasperina, esse é o último favor que te faço na vida.
Tentei relaxar e voltei a dançar.
Disfarçando... Disfarçando... Disfarçando...
Joguei o cabelo de um lado para outro. Dei dois passinhos para o lado, dois pacinhos para o outro e voltei a andar. Passei por Alice, e pela minha visão periférica, notei sua expressão chocada com minha péssima dança improvisada. Não deixei que isso me distraísse e fui direto ao alvo.
- Jully, anota aquele troço em estoniano pra mim.
Ela prontamente me atendeu, tirando de sua bolsa um bloco de notas.
- Aqui. - Entendeu-me o papel.
- O que está fazendo? - Edward me fitou desconfiando.
- Nada.
Disfarçando... Disfarçando... Disfarçando...
Voltei para a mesa saltitando no ritmo. Cansada de ficar disfarçando ergui a toalha da mesa e falei alto.
- Sai da toca, duende, é hora de virar princesa.
Ele se encolheu, acovardando-se. Tive que puxá-lo pelo braço, e nós fomos até a cozinha encontrar com sua esposa. Imediatamente estranhamos a ausência da doida.
- Cadê ela? - Ele perguntou tão confuso quanto eu.
- Não faço idéia. - Voltei para o jardim.
Jasper e eu procuramos a cozinheira por toda a mansão e seu sumiço só serviu para prolongar o sofrimento do meu irmão.
- E agora? - Ele questionou com medo da resposta.
- Eu não sei. De qualquer forma, comece a soltar a franga, pois podemos precisar da Jasperita a qualquer momento.
A festa seguiu tranqüila. A pior parte havia passado e conseguimos esconder da tia de Alice nossos vacilos. A mulher apreciou nosso trabalho e agendou um novo evento.
Acomodei Jully na suíte de meu pai e evitei lhe contar o que estava acontecendo. Precisava pensar bem nos argumentos que a manteriam de bico fechado. Minha prima era muito bacana, ela só não gostava de enganar Charlie.
(...)
No dia seguinte, o pessoal passou a maior parte do dia dormindo. Os últimos dias tinham sido exaustivos, mas eu não consegui descansar tanto quanto desejava. Durante a tarde, fiquei um bom tempo deitada na cama admirando meu diamante. Ele não brilhava tanto quanto um diamante lapidado, mas cintilava o suficiente para prender minha atenção.
Sentia que meus problemas financeiros estavam resolvidos, no entanto, isso era o que mais me incomodava. Depois de tanto sofrer, correr e passar vergonha para recuperar aquela pedra, agora era quase impossível me livrar dela.
Sentia-me vitoriosa segurando o diamante. Achei que ficaria com raiva dele e desejaria nunca mais vê-lo, mas estava enganada. Eu me apegara àquela pedra de uma forma surpreendente.
Passei vários minutos presa ao dilema. Então, decidi que eu trabalharia mais do que qualquer um e conseguiria o dinheiro para pagar o agiota. O diamante devia voltar para as mãos de seu ex-dono. Ele estaria mais seguro com Edward do que comigo.
Coloquei a pedra em cima do criado mudo e automaticamente minha mente se prendeu a outra questão: Brad McFadden. Olhei para o relógio e já marcava 17:25h. Foi inevitável não me perguntar se ele realmente iria ao tal encontro. Expulsei a imagem dele da minha cabeça e tentei dormir.
# 17:30h #
Ele não vai, eu não vou e o idiota continuará me importunando. É isso que vai acontecer, Bella.
# 17:40h #
É claro que ele vai! Brad não é besta. O que será que ele quer falar comigo? Talvez eu devesse saber de uma vez por todas.
# 17:55h #
Não, não e não! Se convença de que se você colocar o pé para fora dessa casa ele vai achar que é por causa dele. Não vai te dar paz. Dorme, desgraçada.
# 18:12h #
Está se acovardando, idiota. Precisa enfrentar isso. Enquanto tiver medo de ficar perto de Brad não vai conseguir superá-lo.
# 18:25h #
Quero que ele sofra! Quero que ele sofra! Quero que ele sofra! Quero que ele sofra! Quero que ele sofra! Odeio o Brad!
# 18:38h #
Talvez devesse perdoá-lo e seguir em frente. Não pode ficar presa a essa mesquinharia.
# 18:46h #
Because of you i never stray too far from the sidewalk.
Because of you i learned to play on the safe side so I don't get hurt.
Because of you i find it hard to trust, not only me, but everyone around me.
Because of you...I am afraid.
(Por sua causa eu nunca me afasto muito da calçada.
Por sua causa eu aprendi a jogar do lado mais seguro para não me machucar.
Por sua causa eu acho difícil confiar, não somente em mim, mas em todos a minha volta.
Por sua causa... Eu tenho medo.)
PÁRA DE CANTAROLAR ESSA DROGA, SACO!
Ai, não... Entrei no último estágio de demência. Quando será uma boa hora pra começar a tomar remédios?
# 18:53h #
Preciso bater de frente com Brad. Vou saber o que ele ainda quer de mim e dar um ponto final a toda essa história. É isso!
Levantei rápido da cama, abri a gaveta da cômoda e peguei meu modesto cofrinho. Joguei as cédulas amassadas e de pouco valor em cima do móvel. Depois corri para colocar um vestido qualquer.
Saí da mansão como se estivesse fugindo. Se eu fosse barrada por alguém, certamente não teria coragem de concluir meu plano. Por sorte, ou azar, ninguém me viu. Na esquina, peguei um táxi e fui para a lanchonete encontrar-me com Brad.
Quando atravessei a porta da lanchonete, já estava há vários minutos atrasada. Percorri o local com os olhos e logo avistei meu ex, sentado em uma das mesas do fundo. Assim que ele me viu, abriu um sorriso largo e aliviado, em seguida engoliu em seco. Fui até lá sentindo meu estômago revirar.
- Está atrasada. - Bebeu um pouco da cerveja que mais gostávamos.
- Você pode esperar. - Retruquei.
- Obrigado por ter vindo.
- Eu não ia vir.
- Por isso mesmo estou agradecendo. - Sorriu.
Olhei à nossa volta e senti um misto de saudade e repulsa daquele lugar.
- Aqui não mudou muito. - Falei tamborilando os dedos nervosos na mesa.
- Verdade. Bells, vamos sair daqui. Esse local nos traz algumas lembranças ruins. - Disse, já colocando seu casaco de couro.
- Mesmo? - Ironizei. Afinal, fui eu que levei um fora ali. - Não vou a lugar algum.
- Por quê?
- Não confio em você.
Brad suspirou contrariado, então me estendeu as chaves do seu carro.
- Você dirige.
Peguei as chaves e saí na frente. Se era para resolver nossas diferenças, que fosse em um lugar neutro.
Entrei no mustang e bati a porta com força. Brad ao meu lado apenas sorria, observando-me. Dei a partida e saí do estacionamento com calma, porém não tive pena de pisar no acelerador quando chegamos à avenida. Baixei a capota e o vento em meu rosto logo me tranqüilizou. Em uma pista mais vazia, passei um pouco dos 80 km/h. Brad pegou uma garrafa de vinho no banco traseiro e entornou boa parte. Ligou o som, pendeu a cabeça para trás e relaxou.
Por bastante tempo, dirigi sem destino. Segurar o volante era a única coisa que me passava um pouco de confiança. Eu precisava ganhar tempo para equilibrar meu lado emocional com o racional. Desejava muito ter uma conversa franca, uma conversa que mudasse os meus sentimentos.
Em certo momento, Brad ficou impaciente e eu precisei arranjar um lugar para estacionar. Guiei o mustang até o estacionamento do Museu Central de Orlando. Ficava há poucas quadras da minha casa e o local estava completamente vazio àquela hora da noite.
- Não quer ir a um restaurante ou coisa do tipo? - McFadden indagou assim que desliguei o motor.
- Não. - Respondi olhando para o volante.
- Você quem sabe. - Saltou para fora do carro quando outra música começou a tocar.
Também saí do veículo e me encostei no capô. Brad, totalmente desinibido e contagiado pelo rock, passou a dançar ali mesmo, no estacionamento deserto, segurando a garrafa de vinho.
Ele girou pelo local, sentindo as batidas da bateria como se brotassem de dentro dele. Como um bom músico, o cara tinha ritmo, ginga e, droga... era muito sexy.
- Dança comigo, Bells. - Pediu, gesticulando com uma mão. - Vem.
- Não. - Cruzei os braços com a cara fechada. - Precisamos conversar.
Brad ignorou o que falei e tirou seu casaco, jogando-o para cima do capô. Em seguida, se afastou, sacudindo a cabeça como se estivesse tocando sua guitarra. Ele já havia bebido mais da metade da garrafa e não dava sinais de que ia parar por ali.
- Vamos curtir, Bells. Você adorava isso. - Falou alto abrindo os braços.
- Eu mudei.
- Só uma dança. - Pediu, fazendo sua carinha de inocente.
- Não.
Ele colocou a mão no peito e caiu para trás como se tivesse sido alvejado.
- Eu já não sofri o suficiente? - Gritou.
- Nunca será o suficiente. - Meu lado rancoroso predominou.
Brad levantou-se rapidamente e correu em minha direção. Espremi-me contra o carro, tensa. Ele parou há centímetros de mim. Achei que me tocaria, mas não o fez.
- Tão doce e tão má. - Mordeu o lábio inferior.
- Por que isso? O que você quer? - Franzi o cenho.
- Tudo. - Lançou-me seu sorriso mais sensual. - Quero tudo relacionado a você. Preciso admirar cada olhar, sorriso e gesto seu. - Colocou o vinho em cima do carro. - Tudo. - Repetiu, voltando a dançar.
- Rá. - Ironizei. - Você sempre quer tudo de tudo. - Peguei a garrafa e dei um grande gole.
- O que preciso fazer pra ter outra chance?
- Abandone o Link 69. - Debochei sabendo que o feriria.
Brad gemeu não gostando da resposta.
- Vou viver do que?
- Pede esmolas. - Bebi mais um pouco de vinho. - Use esse seu sorriso falso. Garanto que consegue uma grana.
McFadden gargalhou, inclinando a cabeça para trás. De olhos fechados, curtiu o refrão da música e, ainda embalado por ela, ajoelhou-se. Ele colocou as mãos na minha cintura e encarou-me com intensidade.
- Você me tem a seus pés se quiser. - Seu sorriso era tão debochado, sexy e ousado que não tinha como passar confiança. - Não sente esse fogo? - Sua palma deslizou por minha barriga indo ao encontro de meus seios. Imediatamente o detive.
- Pára com isso. - O puxei para cima. Seu rosto quase roçou no meu e ambos ofegamos.
Então, seu sorriso desapareceu dando lugar à mistificação de uma seriedade perturbadora.
- Não vê que somos iguais? Que somos perfeitos um para o outro?
Não consegui desviar o olhar, muito menos me mover quando Brad passou a roçar seus lábios na minha bochecha. Sua sensualidade esmagadora e seu talento para conduzir minhas emoções fizeram-me cair em um estado de semi-inconsciência.
Correnteza.
Eu só conseguia pensar nisso. Me sentia sendo arrastada pela correnteza, por forças maiores e mais fortes que meus braços e pernas. Dentro de mim, eu sabia que estava prestes a me afogar.
(...)
Eu acordei.
Uma lágrima escorreu pelo canto do meu olho conforme minha consciência se estabelecia.
Deus, o que eu fiz?
Eu estava deitada com Brad no banco de trás do mustang. Podia sentir sua respiração em minha nuca e seu braço em volta da minha cintura. Inclinei a cabeça e vi que, em seu relógio, marcavam 04:03h da manhã.
Desvencilhei-me e levantei rapidamente. Minha cabeça bateu na capota, deixando-me ainda mais atordoada. Solucei alto, mas McFadden não percebeu minha agitação e continuou dormindo. Curvada e tremendo muito, arrumei meu vestido, o qual tinha uma das alças rompida.
Busquei por meus sapatos, mas meus olhos focaram apenas a garrafa de vinho vazia e a embalagem de um preservativo. Imediatamente, saí do carro, deixando Brad sozinho com seus sonhos.
Desorientada, fitei o estacionamento vazio e tive vontade de gritar, gritar até que ficasse sem voz, só que não fui capaz de abrir a boca.
A sensação de impotência e culpa me atingiram. Sentia-me como uma alcoólatra na sarjeta admirando sua pior recaída, ou como um drogado que injetara em si seu amado veneno e agora não podia conter o fogo em suas veias. Retardei as lágrimas o máximo que pude, mas diante dos fatos, não havia mais como contê-las. Então, elas escorreram por minha face envergonhada.
Não tive coragem de olhar para trás e, descalça, fugi. A dor no meu tornozelo se tornou insignificante diante da dor em meu peito e, por mais rápido que eu corresse, não parecia ser o suficiente.
Pelas ruas escuras e quase desertas do meu bairro, corri desesperada para deixar todas as lembranças para trás. O pior é que eu sabia que não adiantava, pois não estava fugindo de Brad, e sim de mim mesma.
Eu havia passado mais de um ano evitando recordar os momentos que tive com meu ex. Por muitas vezes, fui torturada pela vontade de lhe telefonar e não o fiz. Lutei cada maldito dia desde que ele se fora para superá-lo. Disse milhares de vezes a todos que eu estava bem, que Brad era uma página virada e, agora, o que me restava? A vergonha de aceitar que falhei comigo mesma?
Não foi apenas sexo. Eu lancei meu orgulho e amor próprio aos pés de um homem que adorava me manipular. McFadden arrancou-me o resto de respeito que eu tinha por mim mesma, mostrando-me o quanto eu era fraca e dependente dele. Nada, nada no mundo poderia me causar mais dor que isso, pois trair a si mesma é definitivamente o pior tipo de traição.
Continuei correndo. Rua após rua, esquina após esquina, lágrima após lágrima. Ao chegar à mansão, disparei ainda mais rápido pelo jardim e invadi meu quarto, buscando alívio. Fechei a porta e, exausta, caí de joelhos.
Coloquei as mãos na cabeça e o choro explodiu misturado a soluços. Eu não só tinha vergonha do que fiz como também tinha vergonha de mim. Isso é o que tornava tudo pior. Se aquilo houvesse acontecido com outra pessoa, eu seria a primeira a discriminá-la e lhe dizer: como você é idiota! Não se valoriza? Gosta de ficar sofrendo por um homem que nem te ama?
Gemi sabendo que era exatamente isso que eu ouviria dos meus amigos e irmão, mas somente eu sabia o quanto era difícil conviver com uma paixão doentia. Nada do que eles falassem podia me magoar mais do que as lembranças do que aconteceu no carro.
Soquei o chão com força, sentindo o cheiro de Brad em minha pele, vendo sua expressão de satisfação ao me ter e ouvindo seus gemidos ecoarem em minha cabeça. Parecia que eu ainda podia sentir as mãos dele em meu corpo, sua respiração contra meu rosto e isso pilhou a sanidade que ainda me restava.
Levantei-me revoltada e derrubei tudo que havia sobre a cômoda. Desarrumei a cama, desejando destruir qualquer coisa que não fosse a mim mesma, mas foi diante do espelho que meu coração pareceu sangrar.
Olhando o meu rosto borrado, molhado e torturado, pude ouvir aquilo que Brad mais falou durante a madrugada...
Você é minha. Só minha.
O ódio explodiu dentro de mim e eu avancei no espelho. Em prantos, o soquei com toda a força, gritando:
- EU NÃO SOU SUA! EU NÃO SOU SUA! - O espelho estilhaçou em vários pedaços e, mesmo sentindo o ardor do corte em minha mão, não fui capaz de parar. - EU NÃO SOU SUA! NÃO SOU... NÃO SOU!
- Bella. - A voz que soou atrás de mim era de Edward. Fechei os olhos e contive o choro. - O que aconteceu? - Larguei o espelho e virei-me para encará-lo. Edward me fitou preocupado e confuso, porém não tive coragem de lhe contar o que fiz. - O que aconteceu? - Repetiu ainda mais preocupado.
- Nunca realmente acaba. - Murmurei.
Imediatamente, ele entendeu o motivo de minha aflição. Edward analisou meu estado deplorável e, sem dizer uma palavra, fez com que eu me sentisse a mais tola das mulheres. Preferia mil vezes que tivesse me chamado de burra, pois qualquer ofensa seria melhor do que enfrentar aquela repreensão em seus olhos. Ele internamente me julgava e, por outro lado, parecia sentir pena da pessoa descontrolada que eu era.
Não mais suportei e o empurrei para fora do quarto.
- Bella. - Tentou resistir.
- Me deixa em paz! - Gritei, batendo a porta em sua cara.
Eu não podia lidar com o meu julgamento e o dele. Era difícil ouvir sermões de alguém que entendia de relacionamentos só na teoria. Edward nunca ia compreender totalmente o que é amar aquilo que não lhe serve.
O tremor em minhas pernas me fez sentar no chão, encolhi-me desejando que o gosto de Brad sumisse da minha boca. Só que havia vestígios dele em tudo, e eu não tinha dúvidas de que aquele era o seu objetivo.
Tendo dificuldades para respirar, olhei para minha mão e vi o sangue escorrer por meus dedos. Observei algumas gotas tocarem o solo e foi nesse momento que me dei conta de que havia chegado ao fundo do poço. Primeiro meu tornozelo, depois a mão... O que viria a seguir? Eu não estava destruindo só o meu interior, estava subjugando meu corpo e alma àquela maldita paixão.
- Isso não é jeito de viver. - Falei com a voz embargada. - Não é jeito de viver, Isabella. - Fechei os olhos e respirei fundo. - Basta!
Em um impulso, levantei rápido e peguei uma caixa embaixo da cama. Nela, havia recordações da época que namorei com Brad. Objetos dos quais, antes, não conseguia abrir mão. E não parei por aí, decidi me livrar de tudo que me ligasse ao nosso passado. No armário, peguei as roupas que ele mais gostava de ver em mim. Da estante, arranquei os CDs que me lembravam o idiota e carreguei tudo para o quintal.
Larguei a caixa perto da lata de lixo e corri até a cozinha. Lá, peguei álcool etílico e uma caixa de fósforos. Totalmente decidida, voltei para o quintal e joguei na lata tudo que alimentava meu sentimento mórbido por McFadden. Primeiro foram as fotos, depois os bilhetinhos, ingressos de shows, poesias, roupas e, por último, os CDs.
Derramei quase todo o álcool em cima das coisas e ascendi o fósforo. Suspirei olhando para os objetos antes de deixar cair sobre eles o fogo. Não me afastei quando as labaredas subiram. Não desviei o olhar, eu precisava assistir cada segundo daquilo. Transferi todas as minhas amarguras para o fogo e deixei que ardessem, para que, assim, eu pudesse ressurgir das cinzas.
E foram as chamas que me fizeram enxergar que o grande problema não era necessariamente Brad, e sim eu, pois no momento que passei a amá-lo mais do que a mim mesma, condenei-me. Quanto tempo passei fugindo dessa conclusão...
Como uma pessoa ferida, por muitas vezes repudiei o amor, mas era exatamente dele que eu precisava. Encontraria uma forma de resgatar meu amor próprio, acharia um meio de conviver comigo mesma em paz.
Foi um erro tolo e inconseqüente fingir que namorava Edward para mostrar a McFadden que eu estava feliz. Eu nunca deveria tê-lo colocado como o centro dos meus planos ou de minha vida, porque o centro de tudo era eu mesma. Tarde demais descobri que fazê-lo sofrer ou humilhá-lo não me salvaria.
E o que me salvaria? A resposta sempre esteve diante de meus olhos, mas me enganei sem sentir.
Aquele começo de manhã era o momento de recolher todos os pequenos pedaços de mim e recomeçar. Não apenas existir ou resistir, mas viver. Eu não precisava de um homem para me completar, eu necessitava era de ousadia e coragem para me fazer feliz.
Quando as chamas consumiram todas as banalidades a que dei demasiada importância, apaguei o fogo e voltei para o quarto. O local refletia meu interior: bagunçado, triste, sujo e por isso limpei o quarto com todo o carinho. Coloquei cada coisa em seu devido lugar, juntei o vidro quebrado, tirei o pó, varri e perfumei.
Aquela simples tarefa me trouxe de volta o juízo e a razão que há tanto tempo havia perdido. E, pela primeira vez, eu realmente sabia o que fazer. Tinha consciência de que as mudanças de minhas atitudes e hábitos não ocorreriam do dia para a noite. Era necessário tempo, trabalho e vontade. Precisava passar a cuidar de mim como ninguém fizera e respeitar os meus limites.
Para fortalecer meus novos ideais e não me deixar perder o rumo, peguei uma caneta piloto e comecei a escrever mensagens para mim mesma nas paredes. Algumas delas eram trechos de músicas, outras eram poesias e algumas das frases surgiram de minha mente regenerada.
“Cortei todas as minhas ervas daninhas, mas mantive as flores.”
“A vida, acredita, não é um sonho tão negro quanto os sábios dizem ser. Frequentemente uma manhã cinzenta prenuncia uma tarde agradável.”
"É possível mudar nossas vidas e a atitude daqueles que nos cercam simplesmente mudando a nós mesmos."
“A vida é uma tragédia quando vista de perto, mas uma comédia quando vista de longe.”
“Existem apenas duas maneiras de ver a vida. Uma é pensar que não existem milagres e a outra é que tudo é um milagre.”
“Meu coração é como uma estrada aberta.”
“Que eu tenha forças para mudar o que posso e humildade para aceitar o que não posso.”
“Acorde, reaja e lute. Não há um caminho para a felicidade, a felicidade é o caminho.”
Ao terminar de escrever, fiquei de pé no meio do quarto e girei lentamente olhando para as mensagens nas paredes. A dor em meu peito dissipou-se e já não me importava com meu erro da noite passada. Não existia mais culpa, pois consegui perdoar a mim mesma. Não fazia sentido prender-me ao arrependimento e carregá-lo comigo dificultando minha caminhada. Eu estava determinada a não deixar aquilo me afundar. Era um novo dia e eu precisava fazer com que fosse também um novo começo.
- Bella, você nunca mais irá se preocupar em esquecer Brad. - Suspirei, deliciando-me com o momento. - Seu objetivo agora é ser a heroína da sua própria história.
Então, um sorriso honesto, esperado e libertador cintilou em meu rosto. Agora eu podia ser o tipo de pessoa que diz: dentro do meu pior momento foi que tive minha maior vitória.
Ri alto, uma risada tão gostosa que fez-me sentir uma garotinha e, ao mesmo tempo, uma mulher poderosa.
Fui para o banheiro e tomei um banho demorado. Não fiquei desesperada esfregando meu corpo para me livrar do cheiro de McFadden. Apenas aproveitei a água, o cheirinho bom do sabonete e cantalorei minha música favorita. Depois, fiquei em frente ao espelho do banheiro, onde sequei o cabelo com o secador e o deixei bem bonito.
Passei uma maquiagem leve. Um pouco de base, blush e um batom rosado. Coloquei meus brincos favoritos e fiz algumas caras sexys na frente do espelho.
Fui para o quarto e procurei no armário um jeans bacana. Também peguei uma regatinha branca e calcei meus tênis. O visual descontraído e despojado refletiu meu estado de espírito. Resgatei uma antiga bolsa traspassada e coloquei nela tudo o que eu achei que poderia precisar.
Quando já estava saindo do quarto, me lembrei de pegar um caderno e uma caneta. Sentindo-me incrivelmente animada, fui para o jardim. Já passavam das 8:00h e o sol brilhava no céu limpo da minha querida Flórida.
Fiquei surpresa em ver Emmett e Jasper fazendo flexões no gramado. Eles estavam mesmo levando a sério o tal treinamento. Rapidinho, fui até eles e joguei-me no chão.
- 45! - Emm contou subindo e descendo.
- 46! - Jasper revirou os olhos, sem forças.
- 47! - Falei me juntando a eles. - Vamos lá, pessoal. Força! - Com esforço, fiz a flexão.
- 48! Não vem zoar, Bella. - Meu amigo ofegou.
- 49! Não estou. Eu sei que vocês serão os próximos Chuk Norris. - Ri.
- 50! - Jazz se jogou no chão, mortinho nas calças.
- Emm, preciso do seu jipe. - Sorri.
- Onde vai? - Estranhou, tirando as chaves do bolso da bermuda.
- Curtir o meu dia, baby. - Tomei as chaves de sua mão e levantei-me. - Malhando, malhando, vão ficar gostosos. - Cantarolei batendo palmas. Meu irmão, sem conseguir tirar a cara do gramado, mostrou-me o dedo do meio.
Deixei os malucos se exercitando e quase corri para a casa da árvore. Precisava me desculpar com Edward. Fui estupidamente grosseira com ele na noite passada. O cara estava preocupado comigo e eu só conseguia pensar nos possíveis julgamentos que fazia ao meu respeito. Como eu podia saber o que ele realmente estava pensando? Respondo, não podia. Me precipitei. E era por isso que precisava reverter o quadro.
Diante da casa, assobiei alto. Depois, gritei:
- Edwaaaaard! - Novamente assobiei. - Edward!
Ele colocou a cabeça na pequena janela e me fitou confuso. Rapidamente, rabisquei no caderno e, com as duas mãos, o ergui acima da minha cabeça. Ansiosa, esperei que lesse o “DESCULPA?”.
O selvagem bufou e eu temi que seu rancor prevalecesse. Então ele se afastou da janela e eu baixei as mãos. Parecia que eu tinha perdido aquela parada.
Me preparei para ir embora, mas Edward retornou exibindo uma folha de papel, na qual estava escrito: “SIM!”. Ele sorriu revirando os olhos e não consegui conter minha gargalhada. Havia um início de desenho na folha dele, apenas um rabisco, só que não consegui entender o que era.
Explorei seu bom humor e em outra folha escrevi: “Quer tomar café comigo?”
Edward escondeu o rosto atrás do “SIM!”. Intimamente vibrei por ter conseguido acertar os ponteiros com ele. O cara era legal e era de pessoas assim que eu devia ficar rodeada.
(...)
Levei Edward ao Loch Haven Park, era uma boa manhã para caminhar lá. Algumas pessoas faziam cooper, outras passeavam com os cachorros. Nós ficamos sentados perto do laguinho apreciando nosso modesto café da manhã. Com meus últimos trocados comprei dois cafés e um croissant.
- Quer falar sobre ontem? - Ed perguntou olhando para a água.
- Pode ser.
- Como se sente?
- Ótima.
Ele me encarou confuso.
- Ótima?
- Sim. Como já sabe..., dormi com Brad. - Dei de ombros. - Fui idiota e pretensiosa aponto de achar que conseguiria dominar minhas fraquezas tão facilmente. Típico! - Bufei. - Quando me dei conta do que fiz fiquei arrasada e chocada. Realmente era a pior coisa que podia me acontecer. Anulei o meu orgulho e agi como a marionete que McFadden adora comandar. Chegar a esse nível me fez perceber que o problema era comigo. Não estava me dando o devido valor. Eu não sou uma pessoa perceptiva, demoro a enxergar a verdade e, por isso, acabo tendo que passar por situações horríveis para finalmente aprender. Durante a madrugada percebi que estava perdendo um tempo precioso da minha vida pensando em como esquecer Brad, ou tentando mantê-lo fora da minha mente. De um jeito ou de outro, o centro das minhas preocupações era sempre ele. Isso não é jeito de viver, Edward. Eu quero mais. Muito mais. - Fiz uma pausa para respirar fundo. - Hoje decidi radicalizar e iniciar uma busca pela garota que um dia fui. - Sorri. - Ou achar um atalho para chegar à mulher que um dia serei. Em fim, cansei de autopiedade e principalmente cansei de Brad. Sei que minha obsessão por ele não sumirá da noite para o dia, mas não estou preocupada com isso e nem me importo se daqui pra frente eu cometer alguns erros, desde que sejam pelos propósitos certos. Tudo que eu quero é ter um dia maravilhoso e extrair dele toda a felicidade possível. Ta bom? Esclarecido? Vamos esquecer esse assunto.
Edward baixou a cabeça e riu.
- O que foi?
- Nada. - Continuou rindo baixinho.
Achei que ele me daria um tapinha nas costas ou diria que eu estava no caminho certo, mas não esperava vê-lo tão sorridente. Ed até tentava disfarçar evitando me olhar, porém era visível sua... alegria?
- Ah meu Deus... - Gargalhei. - Você está surpreso comigo, não é? Confesse. - Ele se esforçou para ficar sério. - Não... - O estudei, estreitando os olhos. - Está... orgulhoso? - O cara gemeu, mas não negou e isso confirmou minha suspeita. - Está orgulhoso de mim? - Ri embasbacada. Edward deitou-se no gramado cobrindo o rosto com as mãos. - Nossa, você está muito, muito orgulhoso de mim. - Provoquei cutucando-o. Deitei-me ao seu lado e banquei a metida. - A vida é assim, meu caro amigo, num dia somos uma bruxa estabanada, no outro somos o orgulho da nação. - Minha declaração fez com que o selvagem desse uma alta e contagiante gargalhada.
(...)
Estávamos caminhando perto da fonte quando me lembrei do diamante. O peguei em minha bolsa e o estendi para meu amigo.
- Por que está me devolvendo? - Franziu o cenho.
- Não quero correr o risco de perder ou vender. Essa pedra passou a ser importante para mim. Por favor, preciso que fique com ela.
Edward a pegou e, com cuidado, estudou-a.
- Tem certeza?
- Sim. Ela me fez passar por coisas inacreditáveis, não suportaria perdê-la novamente. - Era difícil abrir mão de algo tão valioso. - Se ficar com você, sinto que estará segura.
- Essa pedra me traz boas recordações.
- Mesmo? - O incentivei a falar. O cara era muito introspectivo.
Ed olhou para o parque, possivelmente refletindo se devia se abrir comigo. Ascendeu-se em mim uma pequena chama de esperança. Torci para que ele tomasse a decisão certa.
- Quando eu tinha 6 anos, meus pais se separaram. - Assim que ele começou a falar, vibrei intimamente. - Meu pai tinha o sonho de morar na ilha Malaita, ele estava cheio de projetos e se recusava a desperdiçar sua vida lecionando em uma universidade. Só que minha mãe não partilhava do mesmo sonho. Era inconcebível para ela morar em um lugar tão longínquo e inexplorado. Sarah queria uma vida agitada e glamorosa. Não culpo meu pai por ter ido embora, eles brigavam muito e ambos eram infelizes. Hoje, mesmo não entendendo muito sobre relacionamentos, acredito que pessoas com ideais diferentes não conseguem conviver. - Suspirou. - Bem, meu pai seguiu seus instintos e achou seu lar na ilha. Continuei com Sarah, mas ao completar 8 anos ela precisou me levar para a ilha.
- Por quê? - Fiquei intrigada.
- Sarah era atriz de teatro, estava sempre viajando e me levava junto. Não tínhamos casa nem raízes. Éramos como andarilhos. Eu nem mesmo estudava. Então, como eu disse antes, aos 8 anos fui para a ilha. - Havia um misto de melancolia e saudade escondido atrás de sua face serena. - A primeira semana foi muito difícil. Eu odiava aquele lugar e sentia-me abandonado. Passei vários dias sem falar e meu pai começou a ficar preocupado. Acho que se sentia um pouco culpado. Então, um dia ele fez um acordo comigo. Me levaria para explorar a ilha por dois dias e se eu achasse algo que me interessasse ou gostasse, ficaria em Malaita por mais um mês. Meu pai acreditava que era o tempo necessário para eu me adaptar. Do contrário, ambos voltaríamos para os EUA. Eu concordei e vagamos pela ilha por um dia e meio. Eu era só um garoto, realmente fiquei impressionado com o lugar, mas foi essa pedra que mudou tudo. - A jogou para o alto e esperou que caísse em sua palma. - Eu a encontrei perto do vulcão que os nativos chamam de Makimera. Fiquei tão empolgado por achar um diamante. - Riu. - Pensava que havia encontrado parte de um tesouro. - Ri também, tentando visualizar a cena. - Como eu tinha achado algo de que gostasse, tive que cumprir minha parte do acordo. Não precisei de um mês inteiro para ficar encantado pela ilha, em pouco tempo, me apaixonei pelo lugar. Malaita é coberta por bosques quase impenetráveis, enquanto nos planaltos do norte estendem-se os pastos, e as costas estão cheias de arrecifes de coral. Eu vivi inúmeras aventuras lá, coisas das quais a maioria das crianças nem sonham. Era como se a ilha fosse um mundo esquecido onde eu pudesse ser o que eu quisesse, e de fato sou. Com o decorrer dos anos, passei a ser um membro ativo da tribo Waibirir, sirvo de guia para um grupo de biólogos, ajudo Carlisle com suas pesquisas e cuido do meu animal favorito.
- Que animal? - Eu estava fascina pela descrição de sua vida.
- Eu tenho um puma. - Confessou olhando-me rapidamente.
- Sério? - Embasbaquei. - Como assim?
- Não existe esse tipo de felino na Ilha. Quando eu tinha 18 anos, um biólogo trouxe o filhote da Patagônia e me presenteou. Era uma forma de agradecer por meus serviços, já que não cobro para ser guia. Indah é uma fêmea com 65 centímetros de altura e tem um pouco mais de 80 quilos. É uma excelente caçadora. Aprendi muito sobre felinos por causa dela.
- Indah? - Fiquei curiosa quanto ao nome.
- Sim. - Sorriu orgulhoso. - Em indonésio significa... - Encarou-me e seu sorriso desapareceu. Podia jurar que acabara de descobrir algo.
- Significa? - Insisti.
- Acho que agora entende porque consigo lidar com o puma do zoológico. - Mudou de assunto.
- O que falou explica muita coisa. Só que tem algo que não entendo. Por que me deu o diamante? - Parei e esperei pela resposta enquanto ele relutava.
- Não quero falar sobre isso.
- Precisa me contar, pois estou muito confusa. O diamante é importante pra você e me deu como se não tivesse valor algum. - Mantive meus olhos fixos nos dele, mostrando que insistiria se fosse necessário.
- Primeiro, para mim o diamante não tem valor monetário. Vivo longe do consumismo desenfreado dos continentes. Eu podia ter te dado qualquer tipo de mineral que ia significar a mesma coisa. Segundo... - Fez uma pausa que me deixou impaciente. - Faz parte do meu rito de passagem. Não posso ser apegado a coisas materiais. Não é fácil abrir mão de certas coisas, mas tento me lembrar que o materialismo corrompe o homem. E... os anciãos da tribo me deram uma única chance, não posso falhar. Quando você me entregou aquela muda de roupa, vi que estava tentando estabelecer uma linha de convívio pacifica. Como eu precisava disso para continuar vivendo em sua casa, decidi retribuir sua generosidade. Eu não trouxe muitas coisas da ilha, por isso lhe dei o diamante. Confesso que cheguei a pensar que não deveria, mas lembrei que talvez algo de bom acontecesse com você como aconteceu comigo.
- Você nem gostava de mim. - O lembrei.
- Tem razão, mas precisava mostrar que eu não era um Pé Grande. Francamente, achavam que eu ia literalmente devorá-los.
- Ah. - Baixei a cabeça morrendo vergonha. - Não chegamos a acreditar realmente que era um canibal.
- Sei. - Óbvio que não caiu na minha.
- Ao contrário do que imagina, só coisas ruins aconteceram comigo. Seu diamante não me trouxe sorte.
- Mas cuidou bem dele, certo?
- Hã... Claro. - Desviei o olhar. Se ele soubesse...
- Bella, quero que fique com o diamante.
- Não, não. Já tive minha cota de azar Malaita.
- Não acredite em superstições bobas. - Colocou o diamante em minha mão. - Fique com ele, assim poderá se lembrar de mim quando eu for embora.
Pedindo daquele jeito como eu ia dizer “não”?
- Ok. - Suspirei antes de colocar o precioso de volta na bolsa. - Então, qual a parada do rito de passagem? Não consigo entender direito. - Voltei a caminhar.
- Hum. - Gemeu se fechando novamente.
Não desisti, tinha que mantê-lo falando.
- Para mim parece uma grande bobagem.
Edward encarou-me, levemente ofendido.
- Não é mesmo. - Mordeu a isca. - Esse rito tem várias etapas e uma das mais importantes é explorar o desconhecido. Isso exige força e coragem, qualidades essenciais no caráter de qualquer pessoa. Eu queria ir para o Nepal, mas meu pai me convenceu de que nada era mais desconhecido para mim do que este lugar. - Olhou em volta. - A vida aqui é tão estranha. As motivações e atitudes também, mas eu não reclamo. Respeito sua cultura.
Esforcei-me para entendê-lo.
- Você está aqui para aprender e se inserir em nosso estilo de vida?
- Sim.
- Como isso pode te ajudar?
Edward refletiu.
- Vou te dar um exemplo. Digamos que você tivesse que ir a um lugar muito distante e diferente do que esta acostumada. Precisaria interagir com os nativos e entender melhor seu linguajar e cultura e, assim, conseguir sobreviver, mas junto com tudo isso vem a experiência. Os princípios que usou para sobreviver naquele lugar servirão para te orientar em qualquer outra parte do mundo, pois já saberá como agir em situações extremas e desorientadoras. Tudo que eu sei sobre os continentes é teórico, seria hipocrisia dizer que sei como viver se existem coisas pelas quais nunca passei. - Franziu o cenho buscando lembrar de algo. - É como Ivan Teorilang escreveu: qualquer aprendizado se tornará mais efetivo com as experiências do que muitas teorias e conselhos massificados em vão, haja vista que até uma experiência nova concluída muitas vezes acaba derrubando velhas teorias.
Eu estava ficando louca, ou a presença do selvagem em Orlando começava a fazer sentindo?
- Sinceramente, eu acho que morar na casa da árvore e pousar para fotos junto ao puma não é o que precisa. Existem milhões de coisas pelas quais deveria passar. Você está longe de entender o que é viver nessa sociedade.
- Sério? - Indagou meio decepcionado.
- Com certeza. - Ri.
De repente, um sujeito passou por nós disparado. Precisei me encolher para não ser atropelada.
- Minha pasta! Minha pasta! - Olhei apara trás e vi uma jovem senhora berrando e correndo em nossa direção.
- Não se preocu... - Olhei para o lado e nem sinal de Edward. Contra vontade, olhei para frente e gemi ao vê-lo correndo atrás do ladrão. - Fala sério! - Gritei antes de disparar atrás dele. O maluco podia levar um tiro! - EDWAAAARD! - Forcei meu tornozelo e aumentei a velocidade. - EDWAAAAAAARD! - Se ele me ouviu, ignorou. Puta merda! Já não bastava o que eu tinha corrido durante a madrugada? O selvagem continuou na cola do ladrão, mas eu estava ficando para trás. Não podia parar, me sentia responsável por ele. - EDWARD, ACHO BOM VOCÊ NÃO MORRER PORQUE EU VOU TE MATAR! - Fiquei uma fera. Quem ele pensava que era? Um cachorro cruzou o meu caminho e precisei pular por cima dele para não perder os caras de vista. Ao passar por uma família que fazia piquenique, roubei das mãos de uma adolescente uma maçã e a joguei com força na direção de Ed, mas, infelizmente, a fruta passou longe. Então eles entraram numa fileira de arbustos e eu precisei colocar os braços na frente do rosto para não sair de lá ferida. - Eu até gosto de correr, mas realmente odeio a natureza! - Resmunguei tentando desviar dos galhos. - EDWAAAARD! - Ao me livrar dos arbustos, dou de cara com o quê? Um muro de pedra. - Qualé?! - O ladrão e o sabe-tudo-da-selva pularam com facilidade, mas, obviamente, me estrepei toda. Lentamente subi no muro, me agarrei nele e deslizei feito uma velha caquética para o outro lado.
Na calçada, respirei fundo, e avistei os manés do outro lado da movimentada avenida. Em um impulso, tentei atravessar correndo e um carro freou em cima de mim.
- Quer morrer, sua louca? - O motorista berrou colocando a cabeça para fora do veículo.
Bati no capô e gritei irada.
- Da licença, estou tentando ser heróica aqui! - Fui para a calçada e continuei perseguindo o selvagem. O problema é que com as pessoas indo e vindo mal consegui sair do local, então tive que desistir. Olhei por cima das cabeças das pessoas e nem sinal de Edward. - Isso não é bom. - Lamentei. - Deus, por favor, não me faça perder esse homem novamente. - Bufei. De repente, ouvi gritos atrás de mim. Olhei na direção do tumulto e bestifiquei ao ver o ladrão espantando as pessoas para passar. Como eles tinham dado a volta? Conforme o sujeito se aproximava a galera ia abrindo espaço e, assustada, corri. Como o cara estava chegando cada vez mais perto, aumentei o ritmo e demorei para cair na real: peraí, por que estou correndo? Imediatamente parei. Vi que o ladrão estava distraído com Edward e me posicionei no meio fio. - Me empresta? - Arranquei a bengala de um senhor. Logo que o ladrão se aproximou, lhe dei uma bengalada no estômago. Ele automaticamente desabou. A pancada foi tão segura que quase pude sentir sua dor. Ed nos alcançou e imobilizou o mané deitando-o de bruços na calçada. Devolvi a bengala e algumas pessoas aplaudiram, e eu, que não era besta, peguei a pasta do chão e acenei de um lado para outro me sentido. Nunca havia sido aplaudida antes.
Em questão de segundos, a dona da pasta e dois guardas do parque se aproximaram. Edward deixou que os homens levassem o ladrão, mas a executiva ficou para agradecer. Entreguei-lhe seus pertences e ela agarrou minha mão.
- Muito, muito obrigada. - A mulher tremia um pouco. - Vocês praticamente salvaram a minha vida. Nessa pasta tem contratos importantíssimos da empresa onde trabalho e, se eu os perdesse, minha carreira estaria arruinada. Como posso recompensá-los?
Dei de ombros e Ed respondeu:
- Não precisa.
A executiva abriu a pasta e pegou sua carteira.
- Por favor, faço questão.
- Não precisa mesmo. - O selvagem insistiu.
Fuzilei Edward com os olhos. Precisava sim! Eu corri metade do parque, enfrentei a fúria da natureza, pulei um muro e quase fui atropelada por nada?
- Obrigada. - Estendi a mão. A mulher me deu 300 pratas e eu fiquei mega feliz, afinal não tinha um tostão. Ela agradeceu mais algumas vezes e se foi. Precisei suportar os olhares de repreensão de Ed. - O que foi? Vou dividir com você. - Ele revirou os olhos e saiu. O segui tagarelando. - A gente se deu bem, hein? - Ri sentindo um cheirinho de sorte no ar. - Podíamos formar uma dupla, sente só o peso: Edward e Bella contra o crime. - Minha idéia o fez recuperar o bom humor.
- Edward e Bella contra o crime? - Gargalhou.
- Pode crer! Você tem idéia melhor?
- Não devia ter aceitado o dinheiro daquela mulher.
- Fala sério! Eu preciso mais que ela e, convenhamos, merecemos. Se você não precisa de dinheiro para viver, eu preciso. Quer saber? Deveria se juntar a Jasper e fundar uma comunidade hippie.
- Consumista. - Acusou em tom de brincadeira.
- Comunista. - Retruquei. - Ei, então, me deixa te comprar uma coisa?
- O quê? - Ficou curioso.
(...)
- Hum... não sei. Ficou parecendo um mafioso. - Prendi o riso olhando para Edward de óculos escuros. Nós estávamos em uma seção de uma loja de departamento. - Tenta esses. - Me livrei dos óculos feios e lhe entreguei outros. - Eu estava aqui pensando com os meus botões... O que de nossa sociedade te deixa mais intrigado? Sabe, aquilo que você acha que nunca vai entender. - O selvagem colocou os óculos e torceu a boca. Percebi que havia algo que não queria partilhar comigo. - Pode confiar em mim.
- Promete que não vai debochar?
- Prometo!
- Er... - Baixou a cabeça. - Não entendo as mulheres.
Foi impossível não gargalhar. Ed fitou-me chateado.
- Desculpa. - Coloquei a mão na boca para conter o riso. Nunca que eu ia imaginar que o selvagem se preocupava com aquilo. - Então é isso? Você quer entender o sexo feminino?
- Hã... - Fez uma careta cômica, não sabendo como responder.
- Há quanto tempo pensa sobre essa questão?
- Bem, só nos últimos... - Coçou a nuca. - Dez anos.
- Espera. - Dei-lhe as costas, tapei a boca com as mãos e tive uma crise de riso daquelas. Não conseguia parar de pensar como a adolescência do “rei da floresta” devia ter sido difícil, afinal, tinha hormônios pipocando e nenhuma garota pra lhe ajudar a matar as vontades. Assim que a crise passou, respirei fundo e o encarei com uma forçada seriedade. - Se quiser posso te explicar algumas coisas.
- Antes ou depois de você morrer de rir?
- Desculpa. - Ri novamente. - Tudo bem. Eu não vou mais rir, é sério. - Tirei da minha bolsa um bloco de notas e caneta. - Toma, anote tudo que eu lhe disser. - Edward, receoso, pegou o bloco. - Pronto pra dar adeus a suas dúvidas?
- Sim.
- Ok. A pergunta que todos os homens fazem é: o que as mulheres querem? - Peguei os óculos de Ed e os coloquei em meu rosto. - A resposta é simples: tudo!
- Tudo? - Franziu o cenho.
- Tudo! - Confirmei. - Não me entenda mal, eu sou do time das mulheres, mas preciso dizer que somos piradas. Nós queremos tantas coisas ao mesmo tempo que acabamos nos perdendo e não conseguindo decidir o que realmente precisamos. Exemplo, se um cara fala que vai ligar, ficamos no pé do telefone e o xingamos por não ligar, mas se ele liga antes do que esperávamos já o descartamos por achar que está desesperado demais. Ninguém quer um homem excessivamente carente. Quase todas dizem que não namoram por interesse, mas sempre sonhamos em encontrar um cara cheio da grana. As românticas dizem que o amor é cego, só que ninguém pega o feinho da festa. Está anotando?
- Ah, claro. - Aturdido, passou a rabiscar.
- Mulheres não têm melhores amigas, têm cúmplices. Elas é que apontam os defeitos dos nossos partidos, mas como somos metade masoquistas, gostamos dos caras assim mesmo. Eu chamo isso de síndrome do garanhão. Muitas mulheres se interessam pelos mulherengos achando que vão conseguir dobrá-los e fazê-los comer na palma de suas mãos, só que demoram a perceber que são só mais uma na lista extensa de conquistas. Depois, obviamente, culpamos o cretino e nunca a nós mesmas.
- Não faz sentido. - Edward comentou.
- É, meu amigo, nunca faz. Existe também o tipo de garota que procura o homem certinho, sabe, o tipo que dá pra casar. O problema é que esses... xi... Demoram a ter atitude, o que deixa qualquer uma impaciente. O que ele vira? Mais um número nas estatísticas de traição, pois sempre vai aparecer um cara com lábia pra fazer o serviço completo. Advinha quem vamos culpar?
- O certinho? - Ficou na dúvida.
- Exato! Agora, existe uma coisa que você realmente precisa aprender.
- O quê?
- Todas as mulheres sempre estão em busca do homem ideal. As qualidades desse homem ideal variam de pessoa para pessoa, cada um tem o seu gosto. Algumas não sabem, mas é o nosso ponto fraco. Visto que uma vez que um partido toma conhecimento das características dessa fantasia, pode forjá-la e facilmente nos iludir. Às vezes ficamos tão presas a esse ideal que nenhum homem parece bom o suficiente. Algumas garotas até fingem que não sonham com o cara perfeito, mas ele está impregnado na cultura feminina. Quando somos crianças, nos empurram histórias de príncipes encantados que nunca vão existir. O engraçado é que depois todo mundo finge que não sabe por que as mulheres são as que mais sofrem.
- Uau... - Pelo visto deixei Edward ainda mais confuso. - Como as pessoas conseguem manter um relacionamento com tanto... conflito interior?
- Alguns relacionamentos até dão certo. Digamos que alguns sortudos conseguem encontrar as tampas de suas panelas. É um número bem pequeno, pois a grande maioria finge. Fingem que não se irritam com os defeitos do parceiro, o que gera futuras brigas. Fingem que estão felizes para convencer a si mesmos. Fingem que o marido não está dormindo com a vizinha. Fingem que vai durar algo que nasceu fadado ao fracasso... Fingem, fingem e fingem.
- Que triste. - Constatou fechando o bloco.
- Edward, é triste dizer, mas não existem romances épicos como nos livros. - Coloquei uma mão em seu ombro apoiando-o. - Isso que muitos chamam de “amor” é um bichinho perigoso. - Ele permaneceu calado, refletindo. Me arrependi de tê-lo bombardeado com a realidade. - Quer saber, é como você disse, a experiência supera a teoria. Ed, está na hora de você se relacionar com uma garota. Arranje uma bem legal, aí quem sabe poderá tirar suas próprias conclusões.
Ele ficou surpreso com meu conselho. Me afastei e tirei os óculos.
- Bella?
- Sim?
- Me ajuda a arranjar uma garota legal?
- O quê? - Fiz cara de otária.
- Por favor? - Ele devia estar fazendo sua expressão mais persuasiva, pois fui incapaz de dizer “não”.
- Eu... eu... -Engoli em seco, em seguida, cedi. - Tudo bem. Depois que fingiu que era meu namorado, te devo uma.
Edward deu um largo sorriso.
(Continua...)
***
Diário de Bordo - Edward Cullen
Orlando, EUA.
Minutos atrás estive no quarto de Bella. A vi passar correndo pelo jardim e precisei ir lá ver se estava tudo bem. No início não entendi por que estava chegando aquele horário da madrugada, mas logo percebi que algo grave tinha acontecido. Quando olhei dentro dos olhos da garota, percebi o que ela tinha feito e a causa.
Bella continua sofrendo por causa daquele homem sem escrúpulos... Até o nome dele me deixa enjoado, pois vejo nele o tipo de pessoa que eu nunca quero ser.
Não entendo como Bella consegue se manter ligada a um homem que lhe faz sofrer, não existe lógica nisso. À primeira vista ela me pareceu uma garota simplória e desinteressante, mas com o decorrer do tempo percebi que havia mais nela. Quando acho que vai agir de um jeito, contraria minhas expectativas e age de outro. Não existe um padrão, e isso mantém minha mente ligada a suas atitudes, buscando explicações para a existência de uma personalidade tão caótica. Será que maior parte das mulheres são assim? Espero um dia saber essa resposta.
Respostas... Continuo em busca delas. Até agora não me arrependi de ter vindo para os EUA. Ver com meus próprios olhos como é a vida na cidade só me fez sentir gratidão por ter crescido em uma ilha. Provavelmente, nunca vou esquecer de como as pessoas me julgaram quando cheguei a Orlando. Os olhares tortos começaram no aeroporto e se estenderam até a residência do Sr. Swan.
Eu erroneamente achei que estava preparado para qualquer recepção ruim, no entanto a reação de Bella quando fui cumprimentá-la me deixou desconfortável. Naquela época, se eu pudesse teria lhe falado algo cortês, mas como estava preso ao meu voto de silêncio fiz o melhor que pude e lhe cumprimentei como fazem em minha tribo.
Ela me olhou como se eu fosse um bicho e isso me ofendeu. Passei a ficar na defensiva e tentei ignorar os cochichos dela com os amigos. Eles tiveram uma primeira impressão ruim de mim, mas eu também tive uma primeira impressão ruim deles. O que me revoltou foi eles pensarem que só porque eu não falava era idiota. Não sei como conseguiram chegar a essa conclusão. Quando tentaram entrar em contato comigo eu tive que rir, pois não conseguia compreender como quatro adultos podiam choramingar, gritar e chegar ao cúmulo de pensar que eu os comeria. Até hoje tenho vontade de rir quando lembro de Emmett querendo me presentear com um spray para mal hálito e Jasper se esforçando para me cumprimentar conforme a tradição dos Waibirir. Esses dois rapazes são tolos e covardes, mas são boas pessoas. Eu realmente gosto deles e espero ajudá-los.
De todas as bobagens que pensaram a meu respeito, somente uma me serviu. O fato de acharem que eu era surdo e mudo me ajudou a manter meu voto de silêncio, embora algumas vezes tive vontade de falar ao invés de escrever. Fico feliz de ter conseguido alcançar meu objetivo e passar por uma das etapas do meu rito de passagem. As dificuldades que enfrentei me fizeram valorizar o poder das palavras. Hoje procuro não usá-las desnecessariamente.
Falando em palavras... Queria ter digo algo a Bella, mas certamente só seriam coisas que ela já sabe. Estou meio curioso para saber o que fará agora que se rendeu a Brad. Não consigo prever qual será o seu próximo passo, isso me incomoda e intriga.
Bella, quando quer, consegue ser bem agradável. Por vezes, acho sua companhia bastante divertida, porém muitas, muitas vezes simplesmente não gosto dela por causa das suas falhas de caráter. É bastante conflituoso, nunca passei por nada parecido e estou estudando a situação com muita calma.
De tanto “estudar a situação”, algumas vezes viro a noite refletindo sobre as experiências que tive até agora. E foram muitas. Por causa dos erros cometidos, agora fico me policiando para não ser dominado por meus hormônios. Não quero ter outras reações instintivas como aconteceu na noite que Bella me beijou.
Droga, esse não é um bom momento para ficar pensando sobre isso. Preciso manter minha mente limpa para treinar os rapazes assim que o dia amanhecer. Em outra hora colocarei tudo em uma balança e buscarei assimilar melhor essa relação incomum que tenho com Bella. Gostaria que meu pai estivesse aqui para me orientar... Mas não, eu preciso achar sozinho o caminho para as respostas.
N/A: DEVEM ESTAR SE PERGUNTANDO: QUE HISTÓRIA É ESSA DE DIÁRIO DE BORDO?
Pensando com meus botões cheguei à conclusão de que um POV de Edward não é o que essa história precisa. Eu não gosto de ficar repetindo trechos com ponto de vistas secundários. A gente tem que colocar é a bola pra frente, certo? Então, DECIDI QUE O MELHOR JEITO DE DESVENDAR A MENTE DE EDWARD É TENDO ACESSO EXCLUSIVO AS PÁGINAS DO SEU DIÁRIO DE BORDO. O cara é introspectivo e escrevendo consegue se expor e ao mesmo tempo se auto-analisar. Daqui para frente, em todos os capítulos você poderá ler uma parte do diário do T-zed. Sei que estão curiosos para saber sobre as coisas que já aconteceram, então fiquem ligados, pois ele irá escrever sobre o que sentiu em vários momentos, intercalando com os novos acontecimentos. Serão pensamentos, conclusões, emoções, desabafos... tudo!
Próximo Capítulo Aqui!
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