Trabalhar Não é Moleza
Narração – Bella:
Dei a volta, acelerei o máximo que pude e, mesmo assim, me desesperei um pouco. Dirigi por cerca de 10 minutos me perguntando se devia procurar Edward na sessão de achados e perdidos.
Ao chegar no estacionamento do supermercado, encontrei o sujeito sentado na calçada junto com as sacolas, próximo à entrada da loja. Estacionei bem perto dele e assim que ergueu a cabeça, sinalizei para que entrasse no carro.
Edward jogou as compras no banco de trás e eu fiquei petrificada, olhando para a frente, agarrada ao volante. Quando ele fechou a porta e ficamos sozinhos no cubículo de aço que meu pai chamava de carro, senti um peso no ar. O cara podia não falar, mas sua ira era quase palpável.
Na volta para casa, dirigi suando muito. Se eu tinha tido algum progresso com o cara da selva, ao esquecer dele, voltei à estaca zero. Dava para notar que Edward não gostava de mim.
Em um certo momento, não aguentei a tensão e choraminguei, mesmo sem ele ouvir:
- Por favor, não me mate enquanto eu estiver dormindo. - Não era exagero. Realmente acreditava que ele fosse capaz de tal coisa. Mesmo sendo o filho de um doutor, o carinha tinha sido criado numa ilha no continente mais isolado da Terra. Nem devia conhecer as leis dos EUA. Matar para ele devia ser como andar de bicicleta... Eu acho.
Milagrosamente, sobrevivi àquela noite. No dia seguinte, estive tão ocupada com os preparativos para a inauguração do Dreams Resort que não tive tempo de me preocupar com o Tarzan. Às 24 horas passaram rápido e quase não dormi durante a madrugada.
Sexta-feira, 8:40h. Alice e eu, devidamente fardadas com uma blusa azul e calça branca confeccionadas por ela mesma, esperávamos no jardim por Jazz e Emmett. Eles logo chegariam do aeroporto com os hóspedes. Para facilitar nossa vida de marinheiros de primeira viagem, meu irmão agendou a programação do resort muito bem. Mesmo os clientes sendo de outras cidades, até mesmo de outros países, a estadia deles ali ia parecer uma grande excursão. Pelo preço que cobramos por pacote, não podiam reclamar.
Não fazíamos aquilo pelo dinheiro e sim, pelo sonho. Todos acreditávamos que, mesmo trabalhando duro, nos sentiríamos tão especiais quanto no verão de 2000. No fundo, sabíamos que tudo aquilo era um idéia bem boba, mas fazer o quê? Nunca fomos muito espertos.
Avistamos a Van estacionar em frente à mansão. Alice agarrou minha mão, nervosa. Sorri para ela, apreensiva. Jasper conduziu um pequeno grupo para dentro da nossa casa. Esperamos sorridentes, próximo à porta da frente. Podíamos ver que nossos clientes haviam apreciado o grande jardim pela forma com a qual o estudavam.
- Essas são as funcionárias Bella e Alice. - Jazz nos apresentou ao grupo. Eu só tinha uma dúvida: quando foi que passamos de sócias para simples funcionárias? - Elas estarão aqui para ajudá-los no que precisarem.
Não desarmei o sorriso ao estudar os hóspedes. Havia duas gêmeas loiras que aparentavam ter uns 18 anos. Pelas suas vestes cor de rosa e a forma com que ficaram empenduradas nos celulares como se não existisse mais ninguém ali, logo deduzi que eram umas patricinhas. Ao lado delas, estava um casal diferente. O homem moreno, baixinho e carrancudo vestia um terno preto muito formal. Já sua jovem e bela esposa estava bastante à vontade com um vestido que não era nada apropriado para aquele horário do dia. Ela usava uma corrente de ouro e, no pingente, estava escrito: Rosalie.
- Camminare di vai. Estou cansado. - Resmungou o baixinho e aí entendi que era italiano.
Jasper obedeceu e levou os hóspedes para uma excursão por dentro da mansão. O último membro do grupo passou por mim e piscou o olho. Era um homem de meia-idade e, ao menos ele parecia um típico turista, com roupas coloridas e câmera pendurada no pescoço.
Logo que o grupo ficou fora de vista, Emmett acenou da calçada, rodeado por malas. Alice e eu fomos socorrê-lo.
- Me ajudem a levar as bagagens para dentro. - Ele pediu, erguendo uma mala enorme. - Vamos, molengas. Hora de trabalhar. - Óbvio que nosso projeto tinha alguns pontos negativos.
- Ei, o Jazz não falou que inicialmente hospedaríamos 8 pessoas? - Questionei. O plano era: 8 nas duas primeiras semanas e depois, com a partida deles, disponibilizaríamos as vagas para um novo grupo. No entanto, eu só tinha visto 5 hóspedes.
- Sim. É que os outros três são daqui da Flórida. Acho que logo aparecem por aí. Agora andem, meninas. Não façam corpo mole!
- Vou morrer. - Murmurou a pequena Alice, ficando vermelha ao tentar erguer uma mala.
Acomodamos o pessoal e garantimos o almoço. Eu mesma fiquei de olho para que saísse perfeito. Graças aos céus, a cozinheira da Estônia não fez nenhum prato esquisito.
- Cadê o cara da selva? - Perguntou Lice, me ajudando a levar a louça para a mesa.
- Não sei. Ele ainda não apareceu hoje, acho que está trancado no quarto. - Respondi indiferente.
- Estou morrendo de medo que ele machuque os hóspedes.
- Nem me fale. - O selvagem era o homem mais intimidador que já conheci.
- Vai checar o quarto. Precisamos ficar sempre de olho nele.
- Nem a pau. Vai você!
- Bella, você sabe que eu tenho o coração fraco. Não aguento fortes emoções. - Lice era uma espertinha. Sempre usava os seus duvidosos problemas cardíacos como pretexto para me fazer de gato e sapato.
- Vamos as duas! - A arrastei comigo para as escadas.
Ao chegarmos no quarto de Charlie, encontramos um obstáculo.
- E agora? Batemos na porta? - Me olhou amedrontada.
- Acho que não vai adiantar. - Mexi na maçaneta e a porta abriu-se. Trocamos olhares, receosas, antes de escancararmos a porta de vez.
Nem sinal de Edward. Entramos e o procuramos até no banheiro. Ele tinha evaporado.
- Onde ele se enfiou? - Alice olhou debaixo da cama.
- Será que foi embora? - Fiquei esperançosa.
Fui até as janelas e inclinei meu corpo para fora, na expectativa de achar rastros. Do lado direito, vi apenas uma parte do jardim vazio. Olhei para a esquerda e avistei o deck, onde as gêmeas estavam sentadas, tomando uma bebida. O que me chamou a atenção foi a forma como cochichavam e riam enquanto olhavam para a piscina. Inclinei um pouco mais a cabeça e, sem alguns galhos da árvore para atrapalhar minha visão, pude enxergar Edward saindo da piscina.
- AAAAIII, CARAMBA! - O motivo do grito? Ele estava pelado.
- O que foi? - Lice se assustou.
- O maldito anormal está nu na frente dos hóspedes.
- Meu Pai!
- Vai, vai, vai vai! - Aflita, empurrei minha sócia para fora do quarto.
Disparamos pelo corredor, saltamos os degraus das escadas, voamos pela casa e, quando chegamos próximo ao deck, meu coração parecia que ia sair pela boca. Primeiro dia do resort funcionando e o maluco já estava nos ferrando.
O imbecil estava lá, paradão, de olhos fechados e cabeça inclinada na direção do Sol. Assim que fiquei há meio metro de distância dele, solucei. Aquilo era bem típico de mim, quando ficava muito, muito nervosa, soluçava mais que bêbado em fim de festa. Edward abriu os olhos e nos fitou.
- Idéia? - Alice murmurou de olho no corpo sarado do sujeito. Não consegui evitar, também dei uma espiadinha. - Cumprimenta ele agora, Bella.
- Vai se ferrar Alice! - Ela gargalhou. - JASPEEEER! - Gritei por socorro. Olhei para trás e o vi correndo para fora da casa, mas ao ver - literalmente - o tamanho do problema, voltou para dentro rapidinho. - Covarde! - Praguejei.
As gêmeas continuavam de olho comprido pra cima de Edward. Se o resort tivesse reputação, estaria indo pro ralo naquele momento.
- Alice, faz alguma coisa! Vai lá dentro e pega uma toalha e um bloco de notas... eu sei lá, mas não fica aí parada. - Ela saiu correndo e eu fiquei gesticulando para que Edward se cobrisse. O idiota simplesmente não ligou. - Desculpem, garotas - fitei as loiras - é que esse hóspede é nudista, mas explicarei que esse tipo de atividade em áreas comuns é contra as normas da casa. -Essa foi a desculpa menos assustadora que consegui dar.
- Aqui. - Lice me estendeu a toalha.
A peguei na ponta dos dedos e, com cautela, cobri “o lado primitivo” de Edward. Soltei a toalha, achando que ele havia entendido o recado. Então, ploft! A tolha caiu no chão, pois o lesado não fez o favor de mantê-la em sua cintura.
Irritada, peguei o bloco e escrevi:
Cubra-se.
Ele pegou o papel e nele escreveu:
Por quê?
Encarei Alice, esbravejando:
- Por quê? Por quê? Ele precisa de um motivo? Não é óbvio?
- Ei, não desconta em mim. - Sussurrou no meu ouvido. - Talvez ele pense que ficar pelado não é vergonhoso. Deve ser acostumado a ver gente sem roupa lá pelas tribos bizarras de onde veio.
Bufando, peguei a toalha e voltei a cobri-lo, só que dessa vez deixei bem presa em volta de sua cintura. Com cuidado conduzi Edward para dentro da casa, mas, antes de sair, sussurrei para Alice:
- Segura as pontas aí. - A deixei se desculpando com as gêmeas.
Quando chegamos à sala, ao invés de Edward continuar seguindo comigo para o quarto, foi sentar-se no sofá, próximo ao hóspede que me paquerou. Fiquei sem ação.
- Um dia vou malhar e ficar com o corpo saradão assim que nem o seu. Mas acho que as mulheres preferem um pouquinho de carne para apertar. - O homem passou a mão na pança. Em seguida, tirou uma foto de Edward com sua câmera Polaroid. O cara da selva não gostou do flash e por isso jogou a câmera longe.
- Eu pago. - Solucei olhando para a Polaroid no chão.
- Tudo bem. - O homem riu. - Tenho outras. - Novamente, piscou o olho para mim. - Sorri sem vontade. - Logo serviremos o almoço.
- Bom. - Saiu, deixando Edward e eu a sós.
Peguei o bloco de notas e me preparei para implorar à Edward que ficasse longe dos hóspedes. De repente, ouço:
- Moça, tem um vazamento no meu banheiro. - Olho para cima e vejo a mulher do Italiano, Rosalie, emburrada, ao pé da escada.
- Que tipo?
- Você precisa ver para entender.
- Mas eu não entendo de...
- Agora! - A mimada bateu o pé no chão.
- Vou checar. Só um segundo.
Rabisquei bem rápido no papel e mostrei ao selvagem:
Não saia daqui.
Liguei a Tv para que ele se distraísse. Provavelmente, ficava encantado com aquela “caixa mágica”.
Estava prestes a sair, quando algo no noticiário me chamou a atenção:
“Fontes dizem que hoje, um puma adulto com fugiu do Zoológico Central de Orlando. A diretoria do zoológico não confirma nem desmente o boato que tem deixado a população residente nas proximidades do zoológico, temerosa”.
O zoológico ficava há duas quadras da minha casa. Eu devia me preocupar com isso?
- Moça, está vazando muito! - A loira voltou a me atormentar.
- Tudo bem, estou indo.
Ao chegar lá, tudo o que encontrei foi a pia do banheiro gotejando.
- Só isso? - Ri. - Está tudo bem, é só dar uma apertadinha aqui. - Mexi na torneira e o troço praticamente explodiu em um jato forte que foi bater no teto. - É... Agora temos um vazamento. - Murmurei, enquanto a hóspede encharcada me encarava com a sobrancelha arqueada de ódio.
Tentei conter a cachoeira, porém, tudo o que consegui foi um banho gelado. Então, peguei o celular e liguei para Emmett.
- Emergência no quarto 6. - Avisei assim que ele atendeu. Depois, desliguei.
Dois minutos depois...
- ONDE? CADÊ? - O atrapalhado entrou correndo no banheiro, escorregou na poça e, numa tentativa de evitar a queda, se segurou no vestido da hóspede, o qual rasgou por completo.
- AAAAAAAAAHHHHHHHHH! - Ela gritou, só de lingerie.
- Eu pago. - Choraminguei. Onde eu ia arrumar grana pra pagar todas as coisas que estava prometendo?
Emmett ficou de olhões arregalados em cima do corpo da moça. Constrangida, o ajudei a levantar, cravando minhas unhas em sem seu braço com toda a força. Ele estremeceu, mas não gritou.
- Não acredito nisso. - Rosalie saiu do banheiro, revoltada.
- Aiiiiiiiiiiiii! - Ele gemeu assim que pôde. - Ficou doida, Bella?
- Eu é que pergunto. Pelo amor de Deus, aquela mulher é casada. O marido dela parece bem brabo. Tenha mais respeito, Emm!
- E eu tenho. - Sorriu descarado. - Tenho um respeito grande aqui para ela, só quero ter a chance de mostrar. - Não aguentei e dei-lhe um tapa na nuca.
- Concerte a pia. - Ordenei, chateada.
- Porque está tão enfezada?
Respirei para me acalmar e respondi:
- Não imaginei que nosso primeiro dia seria assim.
- Ah, Bel, relaxa. Essas coisas acontecem. - Puxou-me para junto do seu peito grandão. O carinha era como um irmão para mim, mas infelizmente era um verdadeiro pilantra. Desde criança, Emm já se metia em falcatruas. Mesmo assim... o amava.
- Tá certo. - Sorri, tentando ser otimista. - Me diz que o dia vai melhorar.
- O dia vai melhorar. - Afagou meu cabelo. - Me empresta 50 pratas?
Ficamos vinte minutos cuidando do vazamento. Depois, deixei Emmett limpando a bagunça e fui garantir que Edward não estava exibindo seu “lado primitivo” por aí.
Quando cheguei na sala... Adivinha? É claro que o cara não estava lá. Ensopada e frustrada fui pegar os restos da Polaroid que ficou espalhado perto do sofá. De repente, eis que vem da entrada da mansão, uma voz que habitou em meus sonhos por muito tempo.
- Beleza, pessoal. Nós vamos tocar só amanhã.
Em um súbito, me joguei por cima do sofá e caí atrás dele, escondendo-me do que era, agora, meu pior pesadelo.
- JASPER, CADÊ VOCÊ? - Gritou Brad McFadden.
Maldito Emmett! Ele tinha dito que o dia ia melhorar e agora desabou de vez. Brad era meu ex-namorado. Mais que isso, era a encarnação das minhas desilusões. Fazia pouco mais um de ano que não nos víamos.
O conheci em uma festa de aniversário que organizamos para o Emmett. Ele já era amigo dos rapazes, mas até aquele momento nunca tínhamos sido apresentados. A banda dele tocou àquela noite e, como eu já tinha uma quedinha por músicos, me encantei por seus olhos extremamente azuis, seu sorriso cintilante e voz aveludada. O amei desde o início, aliás, todos o amavam. Ninguém tinha mais carisma que aquele homem e, por isso, se destacou no vocal do “Link 69”, recebendo várias propostas de trabalho.
O dia em que ele rompeu comigo foi um dos mais dolorosos e inesquecíveis da minha vida...
Estávamos em uma lanchonete perto do colégio onde eu estudava, um lugar que sempre frequentávamos. Nos sentamos na mesa de costume e ele pediu as bebidas de sempre. Aquele dia eu estava especialmente feliz, pois na noite passada, tínhamos feito amor pela primeira vez e eu ainda estava nas nuvens.
- O que vai fazer no final de semana? - Perguntei, admirando seus lindos e expressivos olhos.
- A banda vai tocar num bar.
- Que horas vai passar para me pegar, então? - Eu nunca faltava às apresentações dele.
- Escuta, Bells. - Pareceu desconfortável. - Você não pode ir.
- Por quê?
- Esses últimos 10 meses têm sido divertidos, mas...
- Mas? - Não estava entendendo onde queria chegar.
- Sabe, minha banda vai viajar na próxima semana. Vamos tocar em alguns bares em N.Y.
- Mas você vai voltar, certo?
- Vou, só que a questão não é essa. Estou numa boa fase da minha carreira e acho que não é o momento certo para... eu me envolver com uma adolescente.
- Adolescente? Eu tenho 17 anos e você 23, não é uma diferença grande. - Senti uma pontada no peito. - Por favor, Brad.
- Não dá, Bells. Você é uma boa menina, mas eu preciso de uma boa mulher. Você vai superar rapidinho. - Deu um meio sorriso, afagando meu rosto.
Meu estômago embrulhou. E algumas lágrimas escaparam de meus olhos.
- Mas eu te amo. - Boba, me declarei. Ele apenas riu baixinho.
- Você é muito nova para saber o que é isso. Pensei que soubesse que não ia durar muito tempo.
De fato, ingênua, cheguei a pensar que seria para sempre.
- Não acredito que está fazendo isso comigo. - Solucei algumas vezes.
- Por favor, não faça uma cena. - Olhou à nossa volta. Só então, entendi porque estava rompendo comigo ali. Brad escolheu um lugar em que eu não me ajoelharia e imploraria para ficar com ele. - Eu preciso ir, ok? Nos vemos por aí. - Deu um beijo na minha testa antes de sair.
Fiquei sentada naquela lanchonete o dia inteiro, pensando em todas as coisas que eu podia ter feito que o afastaram de mim e todas as coisas que poderia fazer para tê-lo de volta. Durante todo o nosso namoro, fiz de tudo para ser a garota perfeita para o homem que eu julgava perfeito. E num piscar de olhos, estava tudo terminado.
Eu nunca fui a garota mais bonita ou a mais inteligente, no entanto, sabia que era carinhosa e atenciosa. E me machucava não entender porque essas qualidades não tinham valor para Brad.
A noite caiu e fui para casa, fazer o que qualquer garota bobona faria. Chorei por um longo tempo em meu quarto. E com os dias, não melhorei, muito pelo contrário. Piorei, torturada pela saudade e sensação de impotência. Meu irmão e amigos me ajudaram bastante, mas fiquei me sentindo a menor criatura do mundo.
Com o tempo, fui percebendo o quanto estava sendo ridícula em sofrer por um homem que nitidamente não me deu valor. E aí é que estava o meu dilema: isso não anulava o que sentia por ele. Odiá-lo, não consegui. Esquecê-lo, muito menos. Não era algo que eu podia controlar, não era uma opção. Eu estava fadada a amar dolorosamente Brad e eu mal entendia por que. Achando que eu tinha virado uma masoquista do amor, me tranquei dentro de mim mesma, incapaz de tentar me arriscar novamente em qualquer relação.
Fechei os olhos com força e torci para acordar. Não queria ver Brad, sabia que tudo o que eu sentia por ele e todas as feridas não cicatrizadas, seriam expostas assim que ele me encarasse.
- Brad McFodan! - Emmett gritou, certamente correndo para dar um abraço no amigo. Encolhi-me.
- Emmett! - Respondeu no mesmo tom.
- Pensei que ia nos dar um bolo, vagabundo.
- E perder as férias? Rá! Conta outra.
- Cadê a tua bagagem?
- Minha malas e as dos caras estão lá fora, no carro.
Peraí! A banda são os hóspedes que faltavam?
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHH!
Gritei mentalmente com as mãos na cabeça.
Ok! Hora de arrumar os trapos e fugir da cidade. Não! Não! Não! Você acabou de completar 19, não é mais a bobona que ele conheceu. Você cresceu, pode encarar essa.
- Emmett, lembra-se do meu baterista Jim e do meu baixista Dylan, certo?
Oh, nossa... a voz dele me embriaga. Isso é tóxico e doentio.
- Lembro sim.
Eu estava errada, não podia encarar aquela parada. De repente, vejo Jazz chegando na sala pela entrada lateral. Ele me viu escondida e analisou minha cara pálida. Depois, olhou para Brad, que não percebeu sua presença, e saiu correndo para o escritório de nosso pai. Estava decidido: eu ia matar aquele hippie!
Concentrei-me em como escapar sem ser vista.
- Vamos buscar as malas. - Disse Emm. Ouvi a porta da frente batendo e criei coragem para escapar.
Sem forças nas pernas, engatinhei em direção ao escritório de Charlie.
- Bella? - Reconheci a voz e petrifiquei. Ouvi passos se aproximando de mim, porém, não consegui me mover. - O que está fazendo?
Derrotada, ergui a cabeça lentamente e encarei Brad. Por que raios ele não tinha ido com os outros?
- Oi. - Solucei alto.
- Por que está no chão?
- Estou... hã... procurando meu brinco. - Levantei-me.
- Por acaso, não seria esse que está na sua orelha? - Apontou. O que eu fiz? Nada demais, só solucei.
- E você? O que faz aqui? - Mudei de assunto.
- Férias. Sabe como é... também sou humano. - Humano? Essa era uma coisa que duvidava. - Jazz nos hospedou de graça e, em troca, vamos tocar aqui nas próximas semanas.
- Ah... - Distraí-me com a beleza dele. O maldito era mais lindo do que me lembrava. - Porque está molhada? - Riu.
Quis morrer. Ele estava mais gato do que nunca e eu estava toda molhada e descabelada.
- Longa história. - Solucei. - Com licença. - Explodindo de vergonha, me meti dentro do escritório.
Encontrei o cômodo vazio. Me perguntei onde estaria meu irmão, até que percebi que uma das cortinas tremia levemente. Irada, fui até lá e arranquei o hippie de seu esconderijo. O coloquei contra a parede, segurando-o pelo colarinho da blusa.
- Por que fez isso comigo? - Esbravejei.
- Jasper não tem culpa. Paz e amor, Bella, paz e amor.
- Você quer que eu te diga onde pode enfiar esse seu “paz e amor”? Jazz, não acredito. Não tinha o direito de hospedar Brad aqui. - O larguei.
- Jasper achou que você já tinha superado a dor de cotovelo. Me desculpe. Jasper pensou que seria um grande negócio usar o cachê da banda para pagar um profissional que monte um palco e uma iluminação bacana no jardim.
- E por isso cedeu três quartos nossos? Vamos ficar no prejuízo.
- É aí que entra a parte inteligente do meu plano. Nas festas que vamos promover, venderemos ingressos pela internet. Muita gente em Orlando curte o Link 69. Iremos lucrar bem mais.
Por mais que a idéia do meu irmão fosse boa, não conseguia deixar de me desesperar com a presença de Brad.
- Bella, não fica assim. - Ele fez cara de coitadinho. - Olha, Jasper vai ver se dá um jeito de quebrar o acordo com Brad. Pensaremos em outra forma de lucrar.
- Esquece. Já está feito.
- Já está feito mesmo. Brad colocou no Twitter dele que vai tocar aqui amanhã, na festa de inauguração. Muita gente comprou o ingresso pelo site do resort. E eu já paguei a galera que vai dar um trato no jardim.
- Oh, nossa. - Sentei-me na poltrona, cobrindo o rosto.
- Ânimo, criatura! A festa amanhã, Sabadão, vai ser demais. - Como ele viu que aquelas palavras não me animaram, mudou de assunto. - Após o almoço, Jasper vai levar o pessoal para um passeio no Sea World. Emmett e Alice irão conosco. Alguém precisa ficar com o Edward, não podemos confiar nele. Combinado?
- O quê? - Levantei-me revoltada. - Já não basta o que passei hoje? Por que eu? Não! Não vou ficar aqui, tenho medo daquele homem e ...
- Brad irá com a gente. - Interrompeu-me.
- É, fico com o selvagem. - Derrotada, aceitei. Era melhor encarar a morte do que meu ex-namorado.
Saí do escritório torcendo para não encontrar Brad na sala e tive sorte. Nem deu tempo de subir para me trocar, pois logo a dona Bogdanov veio com tudo pra cima de mim, tagarelando na porra de uma língua que eu não entendia patavinas.
- Tappa Kana. - Falou bem devagar.
- Tapar a cana? - Cocei a cabeça. - Tapar o cano? Já demos um jeito no vazamento.
Ela agarrou meu pulso e me arrastou para a cozinha. Quando cheguei lá, encontrei Edward segurando uma galinha viva.
- TAPPA KANA! - A cozinheira gritou, irada.
- Quem trouxe esse bicho para cá? - Chateei-me. A mulher pegou, na mesa, uma faca grande e aí entendi o babado. Ela estava querendo matar a galinha e Edward não estava deixando. Tive vontade de perguntar a tonta por que não comprou uma galinha já abatida, só que dialogar com aqueles dois era perda de tempo.
- TAPPA KANA! - Sacudiu a faca pra lá e pra cá.
- Me dê, por favor, a tappa kana da dona Bogdanov. - Minha única alternativa foi falar. Talvez ele lesse meus lábios. Tensa, me aproximei devagar de Edward. Ele deu um passo atrás, se recusando a colaborar.
- TAPPA KANA! TAPPA KANA! - A mulher gritou agoniada.
- Chega! Eu já entendi! - Esbravejei, perdendo o juízo.
Procurando não me preocupar com o risco de vida que estava correndo, tomei, com brutalidade, a galinha das mãos de Edward. O bicho chacoalhou batendo as asas. Eu me apavorei. Cambaleei, tentando segurar a maldita, mas ela voou das minhas mãos, caiu no chão e saiu correndo para fora da cozinha.
- Droga! - Precisei ir atrás dela. Não podia deixar os hóspedes verem nosso jantar ciscando por aí.
- TAPPA KANA! - A cozinheira berrou alto.
Ao chegar na sala, Alice veio em minha direção, toda animada. Nem percebeu que a galinha estava indo para sala de jantar, onde os hóspedes almoçavam.
- Bella, eu quero...
- Tappa Kana... quero dizer, GALINHA!
- Nossa! Também não precisa ofender.
Passei por ela feito um foguete. Entrei na sala de jantar e a galinha cacarejou alto, revoltada com a perseguição. Os hóspedes embasbacaram ao me verem correr atrás dela, em volta da mesa.
- O que é isso? - Perguntou Rosalie.
- É uma nova brincadeira do resort. - Jasper pigarreou. - Se chama pega-galinha. - O som de surpresa e curiosidade ecoou no cômodo.
A galinha disparou para a sala e em seguida, para o jardim. Correndo curvada feito uma velha, chamei pelo animal que lutava para escapar de nossos pratos. O bicho, que provavelmente tinha um GPS ou um instinto de sobrevivência muito forte, foi direto para o portão, onde Emmett, Brad e o Link 69 entravam com a bagagem.
- Fecha o portão! - Gritei.
- TAPPA KANA! - Olhei para trás e avistei Edward e a Dona Bogdanov correndo ao meu encontro.
Eu estava querendo pegar a galinha, Edward tentando salvá-la e a cozinheira.... queria matar nós dois com aquela faca? Ignorei. Tinha outras coisas para me preocupar, como o fato de o Link 69 estar rindo muito de nós.
- Fecha o portão! - Gritei novamente e Emmett não conseguiu obedecer, pois estava passando mal de rir.
A galinha passou pelo portão e foi para a calçada. Me mantive em seu encalço até ela pisar na rua e ser atropelada por um carro que passou em alta velocidade, deixando a carcaça estendida alguns metros à frente. Edward se aproximou, olhou enfurecido para ela e, depois, para mim. Sem pensar, disse-lhe:
- Não me olhe assim. A odisséia dela acabou aqui. Foi o destino.
A dona Bogdanov foi até a galinha e a pegou do chão, já arrancando algumas penas. Fiz careta ao sacar que ela cozinharia o bicho de qualquer jeito.
Brad riu alto, fazendo-me soluçar de nervoso. Ele e seus amigos debochavam e não suportei. Nem a pau que ia me virar e encará-lo. Então, fiz a única coisa que podia naquele momento.
- Oh! - Desmaiei. E cara, doeu.
(Continua...)
N/A
Agora você deve estar se perguntando: o que é tappa kana?
Agora você deve estar se perguntando: o que é tappa kana?
Lunah responde! “Matar Galinha”.
Próximo Capítulo Aqui!
Kkkkkkk!!!! Ri muito. TAPPA KANA!!! KKKKK
ResponderExcluirOLA LUNAH, EU JÁ TINHA LIDO A SUA OUTRA FIC B.P.X E.S., ENTÃO A BIA ME INDICOU ESTA E É MUITO DEZ!!!! O MELHOR É O CUMPRIMENTO DO ED RSRSRS.... NÃO VEJO A HORA DE LER O RESTANTE.
ResponderExcluirmuito boom esse capítulo kkkkkk ri demais UAHUAHSAUSHAUHS
ResponderExcluirkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk. TO MORRENDO DE RIR AKI TAPPA KANA KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
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