segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Capítulo 6

 
Explicações e Armações

Narração - Bella:

- Eu não podia falar, agora posso. Só isso. - Edward sentou-se perto do fogo.

- Só isso? - Fiquei chateada. - Acho que nos deve uma boa explicação. Nos fez passar por idiotas.


- Não. Vocês é que agiram como idiotas.

- Aiiii... Essa doeu. - Alice sorriu. - O ex-mudinho tem a língua ferina.

Também achei. Coloquei as mãos na cintura e o enfrentei.

- Qual é a sua, cara? Fala pra mim! Estou começando a achar que toda essa história de “garoto criado numa ilha” é mentira.

- Não é mentira. - Veio até mim. Já não tinha medo dele, por isso continuei a desafiá-lo.

- Tudo bem, pessoal. - Alice se pôs entre nós querendo quebrar a tensão. - Edward, por favor, só nos conte o que está acontecendo. Estamos confusas.

O pedido de minha amiga fez ele ceder. Edward voltou a sentar-se diante do fogo. Alice me impediu de pressioná-lo, então tivemos que esperar ele se manifestar. Um minuto se passou e fui torturada pela curiosidade. Outro minuto correu e minha ansiedade começou a se dissipar. No terceiro minuto senti-me tola por exigir explicações, era nítido que Edward achava que não o compreenderíamos.

Sentei-me no chão e perguntei com a voz branda:

- Por que não falou comigo antes?

- Por causa da Lua. - Respondeu. Alice sentou-se do meu lado. - Só podia falar na primeira Lua cheia do mês.

- Por quê? É algum tipo de magia ou feitiço? - Indaguei.

- Não. - Deu um meio sorriso. - É só o fechamento de um ciclo. O que o meu pai falou sobre mim é verdade. Cresci na ilha Malaita e gosto muito de lá. Faz alguns anos que estudo e admiro a tribo Waibirir. Para pessoas leigas eles podem parecer estranhos e selvagens, mas na verdade são um povo íntegro e com uma cultura bem consolidada.

- Você e seu pai moram com eles? - Perguntei chocada.

- Não, a aldeia fica a alguns quilômetros de nossa casa. Como eu disse antes, admiro muito os Waibirir e levei bastante tempo para convencer os anciãos da tribo a me deixarem participar de uma cerimônia especial, um rito de passagem. Geralmente é aplicado quando os garotos da tribo têm 15 anos, mas como eu demorei a conquistar a confiança deles, só agora me concederam essa honra.

- Isso é sério? - Ri. Aquele papo de tribo e ritual era muito louco.

- Rituais de passagem são muito comuns em praticamente todas as culturas. Estabelece a transição da adolescência para a idade adulta. É como as festas de debutantes, só que não são fúteis. É a transformação de um estado de consciência para outro. - Respondeu bem sério.

- Ta certo. - Não era o momento de expor minha opinião. - Então, e não falar faz parte do ritual?

- É a primeira fase e encerrou com a chegada da Lua cheia. Os anciãos acreditam que todos em algum momento da vida devem ficar 30 dias sem falar, deve-se apenas ouvir. E não é só porque se aprende muitas coisas, mas também é uma forma de praticar o autocontrole.

- Ficou trinta dias sem falar? - Alice embasbacou. - Minha nossa, como conseguiu?

- No inicio foi fácil, só se tornou difícil quando vim para cá.

- É, até imagino por que. - Ela baixou a cabeça, constrangida.

- Não entendo. Você podia ter falado comigo horas atrás, conversei com você na cozinha. E mais... podia simplesmente ter nos avisado de seu ritual. Teria me poupado muitos vexames. - De onde veio esse súbito rancor?

- Precisava primeiro ficar sozinho e refletir sobre as coisas que aprendi antes de falar qualquer coisa. Além disso, foram vocês que chegaram à conclusão de que eu era surdo e mudo. Ninguém se deu ao trabalho de me perguntar.

Bufei contrariada.
- Ed, você falou que ficar mudo era a primeira fase. Quais são as outras? - Lice ficou interessada.

- Ainda não quero falar sobre isso.

- Quando isso tudo acabar, o que ganha como prêmio? A aborígine mais bonita da tribo? - Ri.

Edward balançou a cabeça como se eu tivesse falado uma grande estupidez. Eu bem sabia que era grosseria fazer chacota da cultura que ele respeitava, mas não conseguia evitar.

- Posso confessar uma coisa? - Alice tratava tudo com naturalidade. Ela era tão louca quanto ele.

- Sim. - Respondeu meio surpreso.

- Achei que você era meio... burro. - Riu envergonhada. - Desculpa. Agora vejo que é bastante inteligente, no entanto, você sempre parece tão... perdido.

- É porque estou perdido. - Edward riu. - Existem muitas coisas que não entendo. Alguns costumes de vocês ainda são enigmas para mim.

- Como foi sua criação? - A baixinha se aproximou dele.

- Bem...

- Eu preciso acordar cedo. - Interrompi levantando-me. - Vou tentar dormir um pouco. Vamos Alice.

- Vou ficar mais um pouco. O papo está bom.

Fique surpresa. O que tinha dado na criatura?

- Então... tá. - Respirei fundo, depois me arrastei até a casa.

Dormi apenas três horas. Pela manhã me senti exausta e cheia de remorso. Não queria ter sido rude com Edward, porém eu estava tão estressada com os desastres que aconteceram comigo que acabei descontando um pouco nele. Não tinha o direito de culpá-lo por não nos avisar que falava. O cara só estava se resguardando.

Levantei da cama disposta a reverter a situação, afinal ainda precisava muito dele. Sonolenta, cambaleei até o banheiro, lavei o rosto na pia, enxuguei-o com uma a toalha de rosto e olhei para o espelho.

- AAAAAAAAHHHHHHHHHH! - Gritei assustada.

- O que foi? - Emmett entrou correndo, acompanhado por Alice.

- Bella, você está bem? - Indagou Lice.

Eu me virei para eles e indiquei a gigantesca espinha no meio da minha testa.

- Caraca, o que é isso no teu rosto? - Emm parecia meio enojado.

- Que espinha enorme. - Alice se aproximou. - Deixa eu espremer.

- Não! - Me afastei dela. - Vai deixar uma cicatriz, é pior.

- Cara, você parece um unicórnio. - Meu amigo gargalhou.

- Como isso é possível? - Me revoltei. - Que merda, Alice! Cadê minha sorte? Sua prima é uma pilantra safada, nos enganou.

- Calma, Bel sua sorte não vai voltar da noite para o dia. Pode ser que seja aos poucos.

- Aos poucos é a forma como vou matar você e a guru careca.

- Vamos passar um remedinho aí no seu... furúnculo. - A cretina riu.

- Isso não é um furúnculo! - Quase chorei. Emmett tentou aproximar o dedo da espinha querendo cutucá-la. - Como vou ficar andando por aí com isso na minha testa? - Dei um tapa na mão do idiota, impedindo-o de tocar a anomalia. - Vou falar com os hóspedes e eles só vão conseguir prestar atenção à espinha.

- Vamos passar uma pomadinha, você coloca uma bandana para disfarçar e fica tudo numa boa. - Respondeu Alice.

- Bandana? - Quase a estapeei.

(...)

Saí da casa e fui à busca de Ed. Meu uniforme não estava combinando em nada com a bandana vermelha na minha cabeça. Só faltava um tapa-olho para eu ficar parecendo um pirata.

Edward estava cuidando do puma na parte mais afastada do jardim. O animal não estava enjaulado, por isso temi me aproximar demais.

- Ei, psiu. - Sorri acenando. Precisava ser simpática. - Bom dia. - O puma rugiu, não gostando de minha presença. - Coloca ele na jaula. Isso é perigoso. - O homem me ignorou e continuou acariciando a cabeça do animal. - Está chateado comigo, não é? - Ele fingiu que eu não estava ali. - Desculpa. Às vezes eu sou um pé no saco. Você tem todo o direito de não gostar de mim. - Pigarreei. - Ainda é meu “namorado”, certo? - Se ele tirasse o corpo fora ia ser desastroso.

- É a segunda vez que se desculpa. - Murmurou sem olhar para mim. Ainda não havia me acostumado com Edward falando. Sua voz era rouca e ao mesmo tempo macia e melódica. - O engraçado, é que é boa nisso.

Boa nisso? Ainda estávamos falando de mim?

- Emmett e Jasper já sabem das novidades? – Perguntei.

- Não.

- Está a fim de contar?

- Não sei. - Deu de ombros como se aquilo não importasse.

- Que tal tomar café comigo? Preciso sair dessa mansão ou vou enlouquecer. Conheço a melhor cafeteria da cidade. Percebi que ele ficara na defensiva, por isso insisti. - Não vou esquecer você em lugar algum. Prometo. - Lancei-lhe meu sorriso mais persuasivo.

(...)

O sol, o vento no rosto e a linda paisagem de Orlando trouxeram meu bom humor de volta. Após comprar os cafés, levei Edward novamente ao supermercado. Mesmo curtindo a manhã, ainda precisava cumprir minhas tarefas.

- Estava pensando... Se vamos passar por namorados preciso saber algumas coisas sobre e você também precisa saber sobre mim. - Falei empurrando o carrinho de compras por uma das seções.

- Acho que já sei o suficiente sobre você.

- Não sabe nada. - Era impossível.

- É alérgica a abelhas, tem 19 anos, bastante azarada, sua comida favorita provavelmente é pizza de calabresa, mente compulsivamente, é inteligente, mas não é muito perspicaz. E diria que é um tanto desatenta.

Paralisei.

- Quem falou de mim pra você? - Estreitando os olhos. - Conta logo! Foi a Alice, né?

Edward gargalhou.

- Só sou observador.
- Não é muito perspicaz...- Murmurei pelo canto da boca e voltei a empurrar o carrinho. Não gostei da forma como me descreveu. - Não sou desatenta.

- Cuidado.

- Hã? - Bati o carrinho em uma pilha de latas de leite em pó. A torre até balançou, mas por sorte não desabou. - Por que eles têm que colocar essas coisas no caminho da gente? - Bati o pé no chão, revoltada. - Que bom que não caiu. - Sorri. Tirei uma lata do meio da pilha e a coloquei com minhas compras. - Vamos para outra seção. - Assim que nos afastamos, a torre inteira desabou. Foi leite para todo o lado. - O selvagem olhou para mim como se perguntasse “como consegue?”.

- Gostou do café? - Mudei de assunto.

(...)

Na seção de frutas e verduras coloquei o cara contra a parede.

- Preciso saber mais sobre você.

- Pergunte. - Brincou com uma maçã.

- Onde estudou?

- Em casa.

- Por correspondência?

- Não. Meu pai me deu aulas todos os dias até os meus 19 anos.

- Deve ter sido um saco. - Ri.

- Não tanto.

- O que aprendeu?

- Tudo.

- Tudo o quê?

- Tudo de tudo.

Eu o encarei incrédula.

- Fala sério. Eu não vou cair nessa. Sei que seu pai é um cientista, mas o máximo que ele conseguiria te ensinar é a ler e a escrever.

- Se tem dúvida, me pergunte algo.
Coloquei as mãos na cintura aceitando o desafio.

- Quanto é 8 x 9?

- 72.

- Quem foi o primeiro presidente dos EUA?

- George Washington em 1789. - Respondeu automaticamente.

- Estou fazendo perguntas fáceis. - Pensei em algo que nem eu sabia a resposta. - Quando o homem pisou na Lua?

- 20 de Julho de 1969.

Puta merda! Precisava pesquisar no Google.

- Que longa metragem ganhou o Oscar de melhor filme no ano passado?

- Não sei. - Franziu o cenho.

- Rá! - Debochei. - Não sabe de tudo.

- Tudo que aprendi veio dos livros do meu pai.

- Então não é nenhum gênio da selva. - Era um consolo. Fez-me sentir menos burra. - Assuntos da atualidade não são o seu forte.

- Exato. - Ele refletiu. - Quem ganhou o Oscar?

- Todo Mundo em Pânico 2. - Eu lá sabia. - Vamos andando. - Mudei de assunto. - Posso te fazer mais algumas perguntas?

- Sim.

- O lance de nunca mentir é brincadeira, certo? Você só não queria me ajudar.

- É sério.

- Cara, corta essa!

- Cortar o quê? - Arqueou as sobrancelhas.

- Pára de me zoar!

- O que é zoar?

- Não entende as minhas gírias?

- Não.

- Está me dizendo que se eu te chamar de mané não vai sacar?

- Hã? - Ficou confuso.

- Edward. - Ri. - Você é realmente um grande mané. - Dei-lhe um tapinha nas costas.

- O que é um mané?

- Uma pessoa legal. - Menti contendo o riso. - Precisamos voltar para a mansão.

Passei as compras no caixa e dessa vez fiquei de olho no cara da selva para não esquecê-lo. Depois de ajudar a colocar as sacolas no carro, ele se aproximou de um vira-lata que estava sentado na calçada.

- Como? - Colocou o ouvido perto do focinho do cão.

- O que está fazendo?

- Shhh... - Colocou o indicador junto aos lábios. - O cachorro está falando.

- Sério? - Arregalei os olhos.

- Não. - Gargalhou. - Estou brincando. Vocês da cidade são tão bobos. - Foi para o carro.

- Não teve graça. - Fiz careta.

Voltamos para a mansão, mas assim que cruzei os portões avistei Brad na piscina agarrado à sua lambisgóia. O restante da banda estava junto, fazendo a maior algazarra.

- Ed, pode entrar. Vou ficar um pouco aqui. - Voltei para a calçada.

Para chegar à casa eu precisava passar perto da piscina. Desejava ignorar meu ex, porém não conseguia. Vê-lo de beijinhos com a gêmea me fazia agonizar. Preferia esperar horas até que eles saíssem a ser obrigada a cumprimentá-los. Não sabia se era capaz de fingir que estava tudo bem. Meu bom humor rapidamente se dissipou e senti o peso da frustração sobre meus ombros.

- Você está bem? - Edward percebeu a melancolia que se apossou de mim.

- Sim. - Fiz-me de forte.

- Não precisa cumprimentá-los. - Ele era mesmo observador.

- Se não o fizer vai ser pior. Vai parecer que me importo. - Baixei a cabeça.

- Você só quer passar pelo jardim sem ter que falar com ninguém, certo?

- Certo.

- Mas isso é simples.

Ele me jogou sobre seu ombro e andou despreocupado até a casa. Fiquei tão chocada, que até me esqueci do porque de estar evitando cruzar o jardim. Mesmo dentro da mansão, Ed não me colocou no chão. Será que estava esperando que eu pedisse?

- Ei, ei, ei! - Emm e Jazz desceram as escadas correndo. - Véi, ela não é uma mulher das cavernas. Não pode pegá-la assim. Jasper não gostou! - Até parece que Jazz era um irmão valentão.

- É, mas se for lutar por ela - Emmett se afastou. - Pode ficar. Nós compramos outra.

- Calem a boca. Ed, me põe no chão. - Pedi e ele obedeceu. - Jazz, vai pegar as compras no carro.

- Pronto para tirar novas fotos, T-zed? - Emmett tirou a câmera do bolso.

- Sim.

- AAAAAAAAAHHHHHHHHHH! - Os idiotas gritaram super alto.

- Por que sempre fazem isso? - O cara da selva se aborreceu.

Ele teve que repetir toda a história do rito de passagem para os rapazes, que obviamente ficaram perplexos. Percebi que os babacas continuavam a maquinar algo.

(...)

Na parte da tarde, meu irmão e eu acompanhamos os hóspedes em uma excursão ao museu de história natural. O restante do pessoal ficou no resort.

Após o jantar, Lice e eu convencemos os rapazes a participarem de uma pequena investigação. Queríamos saber o que Brad estava achando do meu suposto namoro e aproveitar para colocar mais caraminholas na cabeça dele.

Jasper ligou para mim e deixou o celular no viva-voz. Estava louva pra ouvir todo o “papo de homem” deles. A única desvantagem é que, para Alice e eu ouvirmos bem a conversa, também tivemos que deixar o meu telefone no viva-voz. Bem quietas, ficamos com o ouvido perto do aparelho esperando a investigação começar.

- E aí, Mcfoden. O que está fazendo? - Reconheci a voz de Emmett.

- Trocando as cordas do meu violão.

- Está pronto para tocar no final de semana? - Questionou Jazz.

- Sempre estou.

- É bom estar mesmo, seria mó mico se Ed-Rei-da-Floresta desse mais lucro que você. - Emm brincou.

- Não nos compare. Eu sou um músico, ele é uma... aberração de circo. - Fez uma longa pausa. - Qual é a daquele cara?

Alice e eu trocamos olhares.

- Como assim? - Meu irmão tentou fazê-lo desabafar.

- O sujeito é uma piada. Mora na casa da árvore que vocês construíram quando crianças? Qualé! Bella está tão desesperada por um namorado que resolveu se jogar nos braços do primeiro vagabundo que apareceu?

Rosnei baixinho e Lice me cutucou.

- Hã... o cara... sabe lutar. Ela sempre gostou dos bad boys. - Emm me justificou.

- Sabe lutar? - Brad riu.

- É, nós levamos ele no cinema e Ed quebrou o nariz de um grandalhão num piscar de olhos.

Que papo era aquele?

- Tenho quase certeza de que ele é ninja. -  Emmett avacalhou. Já começaram a meter os pés pelas mãos. Ódio!

- Ninja, alpinista, nudista, domador de pumas... a lista está crescendo? Quanta baboseira! - Alice prendeu o riso. - Jazz, se sua irmã está tão desesperada por sexo, diga a ela que me procure. Não precisa namorar aquele anormal.

Emputei! Me preparei para xingá-lo, mas Lice me impediu, tapando minha boca. Ainda consegui grunhir um palavrão.

- O que foi isso? - Questionou Brad.

- Isso o que? - Meu irmão pareceu tenso.

- Vocês ouviram um... grunhido?

- Não. - Os rapazes responderam ao mesmo tempo.

- Eu acho que Ed e Bel combinam. - Emmett mudou de assunto.

- Não mesmo. Parecem dois estranhos, quase não se olham, muito menos se tocam. Aposto meu violão que esse namorinho, se é que realmente existe, acaba antes do final de semana. Eles não têm química ou futuro.

Fitei Alice e ela estava pensando o mesmo que eu: Brad estava completamente certo.

E agora? O que eu ia fazer?

De repente, minha sócia começou a fazer careta como se fosse espirrar. Cobri o rosto dela com as duas mãos, deixando o celular cair no chão.

- Segura. - Sussurrei.

- Vou explodir. - Murmurou contra minhas mãos.

- Porque está tão incomodado com Ed? - Perguntou Jazz.

Alice gesticulou pedindo para que a soltasse, e assim o fiz.

- Não estou incomodado.

Quando eu menos esperava, ela espirrou alto.

Desvairada, joguei-me no chão cobrindo o celular com as mãos. Então, a filha da mãe espirrou outra vez.

- Atchim! - Emmett tentou disfarçar. - E lá vem a gripe.

Na hora mais inapropriada, minha amiga teve uma crise de riso. Fiz sinal para ela ficar calada, infelizmente a maldita explodiu em uma gargalhada alta. Rapidamente desliguei o telefone.

- Eu devia te encher de porrada. - Ameacei.

- Desculpa. - Fez carinha de cachorro abandonado.

- Cara, eu tou ferrada! Brad já está quase descobrindo nossa mentira. É impossível fazer o selvagem parecer meu namorado. Não combinamos e não agimos como um casal apaixonado.

- Verdade.

- Vou fingir que terminei. É melhor do que ser desmascarada.

- Espera até amanhã. Vou tentar pensar em algo. - Ela me abraçou. Eu precisava de consolo, tudo estava contra mim. - Quer espremer seu furúnculo agora? - Empurrei-a para longe.

(...)

No dia seguinte...

 - ACORDA, ACORDA, ACORDA, ACORDA, ACORDA, ACORDA!

Desorientada, levantei da cama rápido e acabei com a cara no chão.

- O que aconteceu? - Entrei em pânico.

- EU SOU UM GÊNIO! TIVE UMA IDEIA, EU ADORO MINHAS IDEIAS. VOCÊ ADORA? EU SIM! TODO MUNDO DIZ QUE SOU MALUCA, MAS EU NÃO SOU MALUCA! AI, QUANTA MALUQUICE! - Alice tagarelou aos berros. - Passei a madruga inteira pensando e tomando muito café. Encontrei a solução para os seus problemas. - Ficou pulando no mesmo lugar.

- Ok... - Falei devagar, morrendo de medo dela. - Vá para casa dormir.

- Uma ova! Vai buscar o T-zed e me encontrem no escritório. A propósito, seu furúnculo sumiu.

- O quê? - Tateei minha testa e a espinha não estava ali.

- Anda logo, sua molenga. Vou tomar um cafezinho. - Saiu pulando numa perna só.

(...)

Minha amiga ficou andando de um lado para o outro, totalmente elétrica. Edward e eu a observávamos, sentados no sofá do escritório. 

- Minha gente, Brad está quase descobrindo a farsa. Vamos precisar nos esforçar. Só dizer que são um casal não basta. Precisam agir como um.

- Eu já esperava por isso. Esse tipo de coisa não dá pra fingir. - O selvagem se manifestou.

- Está enganado. O problema é que fingem mal, mas euzinha vou resolver isso. - Pegou um livro que estava em cima de uma cadeira. - Apresento-vos o livro de auto-ajuda “APRENDENDO A NAMORAR”.

- Que porcaria é essa? - Não me contive.

- Roubei da minha tia. - Sorriu.

- Odeio sua família. - Suspirei. - Me tirou da cama por causa disso?

- Nesse livro existem explicações, dicas, conselhos... Enfim, tudo que precisam saber sobre um namoro. Se praticarem algumas coisas que estão aqui, logo o relacionamento de mentirinha vai parecer real e perfeito. Nunca mais Brad vai ousar duvidar de nós.

- Peraí, está me dizendo que vamos treinar para um namoro que nem existe? - Levantei-me.

- Caramba, você já sacou tudo! Menininha inteligente. - Bateu palmas. - E tem outra coisa. McFadden falou que antes do final de semana estariam separados. Vamos fazê-lo morder a própria língua. Essa impressão de que parecem dois estranhos tem que acabar até lá, por isso precisam ficar o máximo de tempo juntos. É necessário que pareçam ao menos amigos chegados. Tem que fluir uma intimidade natural. Então... - A louca estava eufórica. - Ficarão grudados até lá, e quando falo grudados, quero dizer que comerão juntos, trabalharão juntos, pensarão juntos, acordarão juntos e... dormirão juntos. Gente, faltam só três dias.

Demorei para acompanhar tanta asneira. Lice esperou eu digerir a idéia.

- O café que tomou tinha... cocaína dentro? - Murmurei. - ESSA FOI A IDÉIA MAIS ABSURDA QUE JÁ OUVI! - Fiquei uma fera. - Não vou fazer nada disso. É humanamente impossível. Pense em outra coisa! - Exigi cruzando os braços.

A garota ficou irada.

- Olha aqui, sua mal agradecida, Edward e eu estamos nos esforçando para te ajudar. Nenhum de nós tem a obrigação de entrar nessa roubada por você. Não precisamos ficar aqui ouvindo seus chiliques. Estamos sendo mega legais e compreensivos, então, por que não cala essa boca e colabora antes que todo mundo desista de te ajudar?!

O desabafo de Alice me atingiu como um tapa na cara. Voltei a sentar bem caladinha, feito um cão com o rabo entre as pernas.

A psicótica respirou fundo, concentrou-se e perguntou com delicadeza:

- Ed, querido, vai colaborar, não é? Agora tudo depende de você. - Piscou os olhinhos.

O fitamos cheias de esperança. Ele pigarreou, se ajeitando no sofá como se estivéssemos colocando uma faca em sua garganta.

(...)

- Capítulo Um - Alice sentou numa cadeira bem na nossa frente. Os corações na capa do livro me deixaram inquieta. - Flertar. - Pigarreou antes de começar. - Aqui é onde tudo começa. O flerte é o primeiro passo para o namoro. Flertar, cortejar, galantear, namoricar... Tudo isso significa tentar conquistar alguém. Para isso você precisa de algumas dicas. Mulheres e homens são como tribos diferentes. Isto é um fato. Eles falam línguas diferentes. Mas, apesar da infinita dificuldade de comunicação entre essas duas espécies, homens e mulheres entendem facilmente uma coisa: mímica.Como assim? Vou explicar. Mímica é uma forma de comunicação através de gestos, são expressões corporais que dificilmente são transmitidas através de palavras. Muito complicado ainda? Então que tal: olhares cheios de segundas intenções, piscadelas, rebolados... Isso diz alguma coisa pra você? Se não diz, acho que você precisa de um pouco de convívio social, mas não se preocupe, pois ainda há esperança. Preste atenção agora, porque é sobre isso que vamos falar neste capítulo. - Lice fez uma pausa e perguntou. - Empolgados?

- Não. - Edward e eu respondemos simultaneamente.

- Relaxem. Só estamos começando. - Voltou a se concentrar na leitura. - O olhar é praticamente o fator principal de um bom flerte. A “mímica” através dos olhos, a forma como uma pessoa olha para outra às vezes é capaz de dizer muito mais do que um discurso bem elaborado. Sendo assim, se você está interessado em alguém, pode e deve mostrar isso através do seu olhar. Cuidado pra não parecer um velho babão sem dentes com vontade de morder uma maçã fresca. Intensidade não significa exagero. Não apele para vulgaridade, a menos que queira apenas uma noite de sexo. Às vezes, o melhor é ser discreto, faz com que o(a) paquerado(a) te ache misterioso(a). Isso o impulsiona a querer desvendá-lo. Em alguns casos, os olhos semi-cerrados são uma boa pedida. Uma piscadinha de um olho também ajuda a clarear as intenções. Uma levantadinha de sobrancelha para as mulheres também cai bem. Cuidado pra não arquear demais e parecer assustada ao invés de interessada. - Lice virou a página. - Gente, aqui dá mais algumas dicas sobre postura, comportamento e beleza, mas vamos pular alguns trechos para não perdermos o foco. - Virou outra página. - Essa parte é interessante: Agora uma informação importante pra finalizar esse capítulo. Namoros começam com pequenas conquistas. E namorados bons são namorados que flertam sempre. Ou seja, um casal que realmente está apaixonado sempre vai manifestar os sinais de recém “flertados”. Quem vê com atenção um casal que se ama percebe a profundidade que existe no relacionamento deles pela forma como se comportam. Portanto, aprenda a flertar, conquiste seu par e mantenha o domínio do seu território renovando seus flertes. - Ela fechou o livro. - O que acharam?

- Hmmm. - Gemi sem saber o que dizer.

- Vamos à pratica. - Ela sorriu.

- Como? - Edward pareceu ligeiramente assustado.

(...)



Minha amiga, entupida de café, nos colocou sentados um de frente para o outro. O pior eram as suas frases de motivação.

- Lembrem-se, vocês são dois gostosos que se sentem muito atraídos. Deixem fluir a tensão sexual.

- O que quer dizer com gostosos? - Ed ficou perdido.

- Ele não entende nossas gírias. - Expliquei.

- Não percam o foco. Se encarem! - Ela vociferou.

Obedecemos. Nenhum de nós conseguiu sustentar o olhar por muito tempo. Estávamos nos encarando por encarar. Não agüentei e acabei rindo. Alice teve um chilique daqueles...

- Que horrível! Horrível! Acho que vou morrer só de observar vocês. Não estão se esforçando. Pelo amor de Deus, se concentrem em algum ponto do rosto do outro. Não fiquem com essas caras de bananas.

- Vou te jogar a real. Isso não está dando certo. - Falei.

- Que merda, Bel, você já paquerou antes. Por que não está fazendo direito?

- Alôou... É diferente. - Apontei para o selvagem. Mesmo ele sendo bem civilizado, não conseguia mais parar de chamá-lo assim.

- Não quero saber. Vão treinar até fazerem direito, mesmo que isso demore horas. - Cruzou os braços.

A louca insistiu que Ed me olhasse de forma mais intensa. Até lhe deu algumas dicas de como se portar. Já eu, ficava me esforçando para não pensar na palavra “mendigo” quando o fitava. A coisa que mais ouvi durante exatos 67 minutos foi: TENTEM NOVAMENTE!
                                                                                                     
Em certo momento, desisti de nadar contra a maré e mergulhei no nosso projeto. A maior interessada em fazer aquele namoro parecer real era eu, por isso, precisei tomar as rédeas da situação.

Agora Edward e eu estávamos de pé, no meio do escritório, nos esforçando para trocar olhares no mínimo charmosos.

- Alice está certa. Se concentre em algum ponto do meu rosto. - Falei suavemente.

- É difícil. - Respondeu Edward.

- Eu sei. Estamos meio tensos. Não precisa parecer que gosta de mim, só me olhe com interesse ou... simpatia. Vamos tentar mais uma vez? - Sorri.

- Tudo bem.

Repetimos os mesmos gestos que estávamos ensaiando há um tempão. Baixamos a cabeça, depois a erguemos lentamente buscando a face um do outro. Quando nossos olhares se encontraram, involuntariamente rimos de nós mesmos.

- Outra vez? - Questionou e eu assenti.

Respiramos fundo para relaxar, em seguida, repetimos todo o esquema. Dessa vez nem deu tempo de nos encararmos, pois logo começamos a rir de nossas expressões quase desesperadas e cansadas.

- Tá bom, tá bom. Vou melhorar. - Dei um pulinho me aquecendo. Balancei os braços, relaxando os músculos. Voltamos ao ponto de partida.

Assim que baixamos a cabeça, a risada fluiu naturalmente.

- Estamos piorando? Dessa vez nem deu tempo de fazer nada. - Perguntou Ed.

- Acho que sim. Vamos continuar - Pedi procurando ficar séria.

Recomeçamos. Exaustos, erguemos lentamente a cabeça. Edward conteve a risada, que se transformou em um sorriso torto. Sua sobrancelha direita estava levemente arqueada e seus olhos fixaram-se nos meus, me ajudando a manter a serenidade. Instintivamente, passei a mão pelo cabelo e mordi meu lábio inferior. Aqueles pequenos gestos pareceram naturais e sinceros. Então, desviei o olhar em reflexo e ele fez o mesmo. Voltei a encará-lo pressionando os lábios para não rir. Edward bagunçou ainda mais seu cabelo e franziu o cenho. Aos poucos a seriedade foi se formando em nossas expressões e nos limitamos a nos encarar. Não havia tanta cobrança ou julgamentos. Só estávamos... observando um ao outro.

 Ficamos assim por cerca de dez segundos, então Ed falou:

- O que achou, Alice?

Fitamos o sofá onde ela estava e a encontramos dormindo de boca aberta. Gargalhei alto e sem querer a acordei.

- TENTEM NOVAMENTE! - Berrou desorientada.

(...)

Na parte da tarde, exigi que Jazz devolvesse meu diamante.

- Jasper receia ter esquecido no bolso da calça que usou no dia da festa. - Cobriu o rosto como se eu fosse lhe bater, e realmente faltava pouco para isso.

- É melhor a pedra estar na roupa suja, do contrario você será um hippie extinto. - Ameacei furiosa.

Na área de serviço, vasculhamos todas as roupas do cesto e nem sinal da maldita calça preta. Então, fomos perguntar à dona Bogdanov.

- Kus püksid - Jazz indagou segurando um dicionário bilíngüe.

- Jäta mind rahule! - Respondeu exasperada, com uma faca na mão.

- É melhor não contrariar. - Sussurrei para meu irmão.

Demos um passo atrás e a mulher continuou berrando. Ela cortava o ar com a faca de forma ameaçadora.

- Jäta mind rahule! Jäta mind rahule!

- O que você disse pra ela? - Arquei uma sobrancelha.

(...)

Ao chegarmos ao jardim, passei o maior sermão no meu irmão.

- Não é possível! Você não tem idéia do quanto ralei para recuperar aquela pedra. - Quase o esganei. - Ela deve estar em algum lugar dessa mansão. Dê um jeito de achar.

- Jasper está em choque. - Murmurou olhando para a calçada.

- O que foi?

Ele apontou para o hóspede italiano, o qual quase saía da mansão para entrar em um táxi.

- O homem está usando a sua calça? - Reconheci, pois ela tinha alguns detalhes em branco.

Não foi difícil concluir que o italiano rabugento estava “passando a mão” no meu diamante. Talvez ele tivesse me visto engatinhando atrás dele no dia da festa.

Corri até ele e o abordei antes que entrasse no táxi.

- Olá. - Ofeguei.

- Oi. - Respondeu estranhando.

- Senhor, por acaso não viu uma pedra cintilante? É um tipo incomum de cristal que uso em minhas meditações. - Tinha esperança de ele que não soubesse o valor da pedra. - Não é nada de valor, só um pequeno cristal. - Sorri. Não podia acusá-lo, afinal, nem sabíamos se estava mesmo usando a calça de Jazz.

- Não. - Desviou o olhar. Podia sentir a mentira em sua voz.

- Tem certeza? - Fitei a calça.

- Absoluta! - Se ofendeu. - Porque está olhando para a minha roupa?

- Achei sua calça muito bonita. - Fui irônica.

- Não gosto dela, mas não tenho mais nada para vestir, pois o serviço de lavanderia desse resort é precário. Estou indignado com tanta incompetência!

- Lamento. Cuidarei disso, senhor.

- Acho bom.

- E minha pedra? - Insisti.

- Ora, já disse que não vi. Está me fazendo perder tempo. Tenho uma reunião. - Entrou no táxi.

Assim que o carro desceu a rua, Jasper se aproximou.

- Então?

- Ele está com o diamante. Tenho certeza.

- E agora?

- Faremos o mesmo que ele. Vamos pegar a pedra de volta e fingir que não sabemos de nada. Vai buscar a chave extra do quarto 6. - Estreitei os olhos arquitetando.

Colocamos Alice de vigia no início do corredor, próximo a escadaria. Ela estava encarregada de nos alertar caso o italiano ou sua esposa, Rosalie, se aproximassem.

- Tem certeza que você viu a mulher se exercitando no deck? - Indaguei.

- Sim. - Lice bocejou. - Eu estava com os olhos bem abertinhos.

- Jasper está com medo. - Meu irmão roeu as unhas.

- Pelo amor de Deus, só vamos fazer uma busca. Deixa de ser covarde. - O arrastei até o quarto.

Abrimos a porta e lentamente adentramos o local. O cômodo estava vazio, por isso mandei meu irmão trancar a porta e comecei a vasculhar as gavetas do criado mudo. Jasper procurou no armário quase vazio e não achou nada que nos servisse de pista.

- Será que me enganei? - Sussurrei.

- Embaixo da cama. - Ele indicou.

Ambos nos baixamos e eu passei o braço por debaixo do móvel. Arregalei os olhos ao sentir algo. Puxei o objeto e sorri ao ver que tinha achado uma maleta.

Trocamos olhares, ansiosos. Abri a maleta com cuidado e dentro dela havia vários papéis, algumas jóias, uma pistola e incontáveis maços de dinheiro.

- Jasper nunca viu tanto cascalho. - Balbuciou. - Olha sua pedra ali. - Indicou meu presente, que estava no cantinho.

Peguei o diamante e rapidamente coloquei a maleta de volta no lugar. Nos aproximamos da janela aberta em busca de luz. Eu precisava checar a pedra e ver se estava intacta.

De repente, Rosalie e Emmett saíram do banheiro pelados e molhados.

- AAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHH! - Todos nós gritamos.

Jazz se sobressaltou, pisando no meu pé. A dor me fez soltar a pedra que praticamente voou janela afora.

- Ai, que foda! - O empurrei para longe.

-MEU DEUS! MEU DEUS! MEU DEUS!  - A hóspede continuou berrando. Ela tentava tapar suas intimidades, pois meu irmão, secão, estava de olho.

- Emmett, eu não acredito nisso! - Com força joguei um travesseiro nele.

- Só estou divertindo a hóspede. - Justificou-se usando o travesseiro para esconder “seus documentos”.

Como se já não bastasse, ouvimos batidas nervosas na porta.

- Pessoal, o homem tá vindo. Ele tá vindo! - Pelo tom de voz, Alice ia enfartar.

- Sujou! O corno chegou. O corno chegou. - Jazz correu de um lado para outro com as mãos na cabeça. - Ele vai matar todo mundo!

- Por Deus, se escondam! - Rosalie estava pálida.

- Onde? - Perguntamos ao mesmo tempo.

- Em qualquer lugar!

Zanzamos feito baratas tontas. Nenhum lugar parecia um bom esconderijo.

- Rápido, no armário. - A mulher ficou histérica.

Os rapazes se jogaram dentro do móvel, quase não deixando espaço para mim. Espremi-me entre eles e fechei a porta. No segundo seguinte ouvimos o ranger da aporta do quarto, anunciando a chegada do corno.

- Amore, esqueci minha arma.

Emmett começou a chorar. Eu estava com tanto ódio dele que quase o chutei para fora do armário.

- Querido... - Rosalie riu certamente disfarçando o nervosismo. - Você sempre esquece essas coisas.

- Tudo bem, ela está dentro da maleta.

Meu coração quase parou de bater. E se o homem desse falta do diamante e resolvesse procurar no quarto inteiro? Meu irmão juntou as mãos e começou a rezar.

- Pegou a arma, - ela deu ênfase a palavras, nos alertando. - querido?

- Sim. Por que está aqui nua? Achei que fosse malhar nas próximas duas horas, estava tão ansiosa.

- Eu... - Involuntariamente prendemos a respiração. - Eu não pude continuar, a esteira quebrou. Esse resort é horrível, precisamos fazer algumas reclamações.

- Realmente. Não trouxeram nossa roupa limpa e agora isso? Francamente. Falando em roupa, vou aproveitar para trocar essa calça. Uma das garotas idiotas percebeu que a calça não é minha.

Ouvimos passos se aproximando. Jasper simplesmente desmaiou. Por sorte o segurei antes que fosse ao chão e revelasse nosso esconderijo.

- NÃO! - Rosalie gritou. - Não, querido. Essa calça está ótima.

- Tem certeza? - O italiano abriu a porta do armário, porém continuou olhando para esposa sem notar nossa presença.

Agora quem estava chorando era eu. Emmett paralisou, branco feito uma estátua de gesso.

- Sério, amore, está lindo. Vem aqui. Ela te deixou bem mais jovem.

- Se é você quem diz, minha ninfeta... - Fechou a porta.

Revirei os olhos quase tendo um AVC. Meu amigo metido a “Ricardão” continuou imóvel, e era possível que ficasse assim para sempre.

Ouvi sons que me pareceram ser de beijos, depois o corno falou:

- Vou indo. Não quero me atrasar.

- Tchau, amore.

Não estava mais conseguindo suportar o peso do meu irmão, fiz todo o esforço possível, mas fiquei fraca por conta dos tremores. Sem avisos, Rosalie abriu o armário e despencamos em cima dela.

Caída no chão, falei:

- Sua conta vai ficar mais cara.

- O que aconteceu com o Emmett? - Já de toalha, se levantou assustada.

O maluco ainda estava congelado cobrindo sua masculinidade com o travesseiro. O coitado nunca comia ninguém, e quando conseguiu foi flagrado por seus amigos e quase morreu? Seria cômico, se não fosse trágico.

(...)

Após o alvoroço, fui em busca do meu diamante no local em que era pra ter caído, infelizmente não o encontrei. Perguntei-me onde ele estaria e em quantas confusões ainda precisaria me meter para recuperá-lo. Será que aquilo era praga do “cara da selva”?

A noite logo chegou e Edward trouxe sua modesta bagagem para o meu quarto. Ainda achava que era loucura, no entanto loucura maior seria deixar meu ex pensar que meu namoradinho não era bem-vindo na minha cama.

A idéia de ficar grudada em Ed não era má. O problema é que eu estava relutante por não me sentir preparada pra partilhar minha intimidade com um quase estranho. Mas eu pagaria qualquer preço pra mostrar a Brad que eu estava bem e feliz. E se o justo a pagar fosse ficar pendurada no pescoço do selvagem... bem, eu faria com prazer.

O carinha ficou parado perto da porta, totalmente deslocado. Às vezes me questionava o porquê dele estar aceitando tudo com certa facilidade. No início se negou com tanta firmeza, mas agora... Estava ali, topando tudo. Será que se sentia na obrigação de ajudar por estarmos lhe dando casa e comida? Teria um outro motivo?

- Fique à vontade. - Falei cortês. Como continuou quieto, resolvi lhe mostrar onde dormiria.  Puxei a cama auxiliar, a qual era embutida na minha caminha de solteiro. - Não é grande coisa, mas é melhor do que a casa na árvore.

- Obrigado. - Colocou sua mochila em um canto.

- O banheiro é ali. - Indiquei.

- Ok.

Ficamos calados e o silêncio foi bastante incomodo.

- Posso tomar banho?

- Sim.

Ele foi para o banheiro e me sentei na cama. Só quando ouvi o barulho da água, foi que realmente me dei conta de que tinha um homem bizarro no meu quarto. Obviamente fiquei nervosa.

Aproveitei que Edward estava fora de vista e coloquei meu pijama em tempo recorde. Enfiei-me inteira embaixo das cobertas e apaguei a luz deixando só o abajur ligado. Era melhor evitar conversas naquela primeira noite, afinal nenhum de nós estava confortável com a situação.

Mesmo com edredom cobrindo minha cabeça, ouvi com nitidez o selvagem sair do banheiro e se aproximar da cama. Nesse momento, pensei nas asneiras e maluquices que eu disse e fiz acreditando que ele era surdo e subitamente ri. Tentei abafar com o travesseiro, só que não deu pra disfarçar.

- Está tudo bem?

Coloquei a cabeça para fora, muito séria.

- O quê? - Me fiz de desentendida.

- Estava rindo? - Ficou confuso.

- Não. Boa noite.

- Boa noite.

- Durma vestido. - Ordenei antes de voltar a me cobrir. Novamente abafei o riso com o travesseiro.

Cerca de vinte minutos depois, ainda não tinha conseguido pregar o olho. Desisti de me esconder embaixo do cobertor e fitei o teto. Precisava descansar, só que ainda estava tensa por causa de todo o estresse daquele dia.

Distraída, balbuciei baixinho:

- Um carneirinho, dois carneirinhos, três carneirinhos... - Desisti da infantilidade.

- Quatro carneirinhos. - A voz rouca de Edward ecoou.

- Está acordado? - Fiquei surpresa.

- Sim.

Sentei-me, e logo senti uma fisgada na minha panturrilha.

- AI! - Gemi alto. - Cãibra! - Mal consegui raciocinar por causa da dor. - Aaaahhhh!

Quando dei por mim, Ed já estava perto.

- Shhh... - Sentou na cama e ergueu a perna da minha calça. Ele apertou minha panturrilha.

- Ah, meu Deus! - Reprime um grito.

- Vai passar. - Massageou suavemente.

Fiz-me de forte e aos poucos a dor foi se esvaindo.

- Que horrível. Faz tempo que não sinto cãibra. - Ofeguei. - Não sei explicar a causa disso. Ele ficou calado, concentrado na massagem. - Obrigada. - Vagarosamente puxei a perna.

- Como conseguiu aquela cicatriz? - Ele se referia ao corte perto do tornozelo.

- Tenho várias. Já me acidentei muitas vezes.

- Eu também.

- Que nada! Você não possui o meu azar. Olha isso. - Mostrei-lhe o recente machucado no meu cotovelo.

- Não é grande coisa. - Esnobou tirando a camiseta velha. - Vê? - Indicou uma cicatriz grande perto das costelas.

- Nossa, você venceu. - Precisei admitir. - Mas essa minha tem uma história melhor. - Mostrei-lhe meu joelho direito. - Tentei escapar da detenção pela janela e caí em cima de uns arbustos. Depois peguei mais uma semana de detenção.

- Essa aqui. - Mostrou a coxa. - Ganhei em uma escalada. - Um dos mosquetões se soltou e derrapei.

- Você realmente é alpinista? - Arregalei os olhos.

- Não. Quero dizer, não sou profissional. Só faço por diversão, existem muitos lugares legais na ilha para escalar.

Uau, Lice ia gostar de saber daquilo.

- Olha só. - Fiquei de joelhos na cama e puxei um pouco o pijama para que ele visse meu ombro. - Eu tinha uns 15 anos quando ganhei essa cicatriz.

- Não tem nada aí.

- Tem sim!

- Não estou vendo.

- É que já está meio apagada, mas é das grandes.

- Não vejo. - Ficou de joelhos também.

- Vê? - Apontei.

- Não.

- Deve ser porque está escuro, mas está aqui.

Edward aproximou bem o rosto do meu ombro.

- É, ela está aqui. Quase não dá pra notar. - Tocou o local com a ponta do dedo indicador.  - Tenho algo parecido.

- Cadê?

- Aqui. - Indicou o abdome, um local perto do umbigo.

- Desculpa, mas você está inventando.

- É como a sua, quase não dá pra ver.

Fiz um esforço para enxergar e consegui notar a cicatriz na pele levemente bronzeada.

- É aqui? - Toquei seu abdome e era tão... duro. - Agora estou vendo. - Sorri. Nossa, ele realmente não mentia.

( Continua... )

Próximo Capítulo Aqui!

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